35. Laurelian - parte 3

138 11 3
                                    

LAURELIAN

O brilho da lua se estendia para além das Montanhas, iluminando a pequena porção de terra que dava início à Terra Média. Laurelian observava, em silêncio, a beleza assombrosa daquele lugar que vivera por tanto tempo, o lugar onde nascera e fora criada. O lugar onde tudo havia acontecido, as coisas boas e as ruins; especialmente as ruins, que Laurelian se lembrava o tempo todo quando sequer cogitava voltar para lá. Tais pensamentos faziam com que ela quisesse permanecer em Utumno o máximo que pudesse, sozinha e em paz.

Mas paz era uma coisa que Laurelian se esquecera há um bom tempo. Não conseguia descansar nem um minuto do dia, sua mente trabalhava incansavelmente, pensando em todo e qualquer detalhe. Se o plano estava dando certo, se havia alguma falha que ela ainda não tinha notado...

Ela nunca pensara que um simples desejo fosse lhe trazer tanto cansaço. Às vezes até se questionava se valeria a pena, mas já fora longe demais para voltar atrás. Não era apenas uma questão de desistir e fazer tudo voltar como era antes; ela fizera coisas horríveis, irreversíveis. Precisava continuar.

O ruído da porta abrindo fez Laurelian olhar para trás, o rosto impassível como sempre. Legolas Greenleaf estava ali, as mãos presas por um orc logo atrás dele. Laurelian conteve o sorriso.

- O elfo queria vê-la, mestra - grunhiu o orc.

Laurelian ergueu a sobrancelha.

- Deixe-o comigo - respondeu, indicando o pequeno espaço ao seu lado. Legolas foi naquela direção, o orc fez uma grande reverência e saiu.

- Não lembro de ter lhe dito que poderia me chama quando quisesse - Laurelian comentou. - Embora eu não reclame. Deve ter vindo por algum motivo importante.

Legolas fitou o horizonte, assim como ela estivera fazendo. Ele demorou para responder.

- Na verdade, não. Não consigo descansar. Algo me diz que coisas ruins irão acontecer em breve.

Laurelian se permitiu rir. Era engraçado ver o quanto o príncipe estava confiando nela.

- De fato. Seria estranho se algo lhe dissesse que nada ruim vai acontecer.

Legolas a encarou. Dúvida cercava seus olhos.

- O que está esperando? - perguntou ele, com toda a honestidade que conseguiu reunir. Ele realmente queria saber o porquê de Laurelian estar se demorando tanto para fazer o que planejava. - Já estou aqui há dias e nada acontece. Pensei que soubesse o que estava fazendo.

Laurelian sentiu o veneno disfarçado nas palavras do príncipe. Ele era mais tolo do que tinha imaginado, afinal, se ousava questionar a Regente dessa maneira. Talvez Laurelian tenha deixado que ele se aproximasse demais. Um erro que deveria ser consertado rápido.

- Se duvida de minha capacidade, futuro rei, não é culpa minha - respondeu ela no mesmo tom. - Já lhe dei provas do que sou capaz. Ficar do meu lado ou não é sua escolha. Espero que decida logo.

Os olhares ferozes se encontraram, o questionamento pairando no ar. Legolas não se atrevia a dizer nada mais, não agora. Sentiu que ultrapassara o limite estabelecido por Laurelian, e a Regente também devia ter sentido. Era melhor deixar as palavras não ditas para outro momento.

Legolas abaixou a cabeça levemente, assentindo.

- Sei do que é capaz - disse com simplicidade. - Apenas fico inquieto sem ver nada acontecer...

- Eu entendo - Laurelian sorriu, a doçura voltando ao seu rosto. - Também estou impaciente. Mas não vou arriscar tudo apenas pela minha pressa; esperei longos anos. Alguns meses não farão tanta diferença para mim.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora