24. A Alvorada

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Tauriel subiu a escadaria da casa-árvore pelo que parecia ser a décima vez só naquele dia. Já eram quase três da tarde, e ela tinha passado o dia em reuniões e planejamentos com os elfos de Lórien. Além disso, ela ainda tentava arranjar tempo para o seu próprio povo, os elfos de Valfenda, que agora se acomodavam numa casa-árvore muito distante da dela. Tauriel sentia que suas pernas quebrariam se ela fosse obrigada a subir mais alguma escada.

Chegando ao topo, onde sua filha morava, Tauriel reuniu coragem para bater na porta do seu quarto. Não tivera a oportunidade de falar com Alariën no dia anterior, pois a filha desmaiara poucos segundos de tê-la visto, e desde então ela estivera trancada no quarto. Tauriel tentara falar com ela diversas vezes, mas sempre era solicitada para alguma reunião. Agora, que tinha todo o seu tempo livre e estava a poucos metros de sua filha, a coragem parecia ter-lhe abandonado. Respirando fundo, ela entrou no quarto.

O quarto de Alariën era praticamente igual ao seu. As paredes estavam pintadas da mesma cor e até os móveis estavam posicionados no mesmo lugar. A única diferença era o quarto ter uma grande janela no meio das duas camas, enquanto o de Tauriel não.

Alariën se encontrava deitada na cama esquerda, dormindo profundamente. Ela estava com a cabeça virada para o lado, as mãos ao longo do corpo. Parecia tão inocente, tão livre de preocupações. A mesma menina que saíra de Valfenda há alguns meses, mas ao mesmo tempo uma mulher irreconhecível, até mesmo para a mãe.

Tauriel se aproximou sem fazer barulho. Tocou a mão da filha, alisando a pele macia. Notou que o braço de Alariën estava com alguns arranhões e cortes, que já estavam quase desaparecendo. As pernas também, mas estas estavam muito piores, com hematomas e manchas amarelas por toda a sua extensão. Tauriel ficou preocupada. O que acontecera para que Alariën ficasse desse jeito?

Desde que chegara a Lothlórien, Tauriel também não pôde ficar nenhum momento a sós com Galadriel e Thranduil para perguntar o que acontecera desde que sua filha e o rei chegaram ali. Ela apenas soube o que havia acontecido a Legolas e como Alariën conseguiu obter mais informações em Moria com a ajuda de Thrain. No entanto, a Senhora de Lórien ainda não havia mencionado sobre a tortura física e psicológica que a elfa havia sofrido.

Tauriel passou a mão pelos cabelos ruivos de Alariën, iguais aos seus. A mesma cor, a mesma suavidade. Era como se estivesse tocando em seu próprio reflexo. Não só por causa da aparência, mas Alariën sempre fora a filha mais próxima de Tauriel; a garota costumava contar todos os seus segredos para a mãe, até os mínimos detalhes, embora sua mãe não fosse tão aberta com ela. Tauriel adorava ser a maior confidente de Alariën, apesar de nunca revelar tanto sobre si. Sempre via sua filha como uma criança, embora todos os acontecimentos recentes tenham servido para que a visse como uma mulher.

Tauriel decidiu que deixaria sua filha descansar mais um pouco, ainda que Alariën estivesse dormindo desde a noite passada. A elfa precisava comer, mas ela dormia tão serenamente que Tauriel não quis atrapalhar seu sono. Foi quando ela sentiu dedos leves se fecharem em torno de seu braço. Tauriel olhou para o rosto da filha e viu que ela tentava abrir os olhos, lutando contra a claridade do dia. Tauriel correu para fechar as cortinas, e quando voltou Alariën já estava com os olhos completamente abertos, um sorriso se formando.

- Mãe - a voz de Alariën ainda estava rouca do grito que dera no funeral de Thrain. Tauriel ouvira-o a muitos metros de distância e galopou em disparada na direção do som, encontrando a filha pouco tempo depois nos braços de Thranduil. O coração de Tauriel se apertou ao se lembrar dele, mas ela decidiu ignorar. Queria aproveitar cada segundo que tinha com Alariën.

- Como está se sentindo? - Tauriel perguntou, sentando-se na beirada da cama e voltando a alisar os cabelos da filha.

- Bem... - Alariën fechou os olhos por um segundo, fingindo pensar. - Estou praticamente sem voz, sofri uma perda recente, um de meus amigos está desaparecido há meses... juntando tudo, eu não poderia estar melhor.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora