21. A história de Anarïm

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Nëhi não disse nada de imediato. Sua senhora estava à beira das lágrimas, coisa que acontecia com frequência, embora ela sempre estivesse sozinha quando se entregava à tristeza. Nëhi, porém, teve a sensação de que deveria permanecer calada até que Tauriel dissesse tudo que pretendia dizer.

- Ninguém, além do meu esposo, sabe disso – continuou Tauriel, os olhos fechados. – e foi com muita dificuldade que conseguimos esconder de todos esse segredo por tanto tempo. De fato, eu pensei que jamais teria sucesso em fingir que nada tinha acontecido, não depois do terror que havia sido. Mas nós decidimos que desse jeito era melhor. Nós não queríamos encarar o povo de Valfenda e ter que reviver tudo aquilo, pelo contrário. Tentaríamos fingir que nada acontecera, o que seria um insulto à nossa filha, mas estávamos perdidos. Eu estava perdida.

Tauriel olhou ao redor para se certificar de que todos estavam dormindo, à exceção dos elfos que montavam guarda nas portas. Não se ouvia barulho nenhum, além da respiração suave dos elfos e o ocasional ruído dos animais lá fora.

- Elrond me amava tanto que fez tudo que eu pedi, mesmo que isso doesse muito para ele. No fim das contas, ele é o Senhor de Valfenda, e ficou magoado ao saber que eu preferia esconder essa informação de seu povo, apesar de ser algo muito pessoal e eu não querer que todos soubessem. Mas ele, como sempre, me ouviu e tentou aceitar meu pedido, tendo a certeza de que, se não tivéssemos o apoio dos outros, teríamos apoio mútuo. Nós seríamos a força do outro, mesmo que não tivéssemos força nenhuma para oferecer.

Nëhi ainda não entendia como a senhora de Valfenda havia lembrado daquilo, ou por qual motivo resolvera lhe contar tudo agora, mas não queria interrompê-la.

Tauriel começou a se lembrar vagamente dos primeiros anos que tiveram que lidar com a ausência de Anarïm, como assim decidiram nomeá-la. Ela saía do quarto por obrigação, pois era a Senhora de Valfenda, mas o fazia com relutância e desânimo. Elrond foi a pessoa que a manteve de pé durante quase dois anos, tempo que pareceu infinitamente longo. Depois disso, veio Elladar, que trouxe de volta a alegria que Tauriel parecia ter se esquecido.

- Senhora, desculpe interrompê-la – Nëhi finalmente disse, aos sussurros, pois Tauriel ficara calada por tanto tempo que ela achou que não seria tão inapropriado dizer algo. – Mas como ninguém soube disso? Afinal, a senhora estava lá o tempo todo, não?

Tauriel conseguiu esboçar um sorriso. Tinha se esquecido de mencionar essa parte, e era natural que Nëhi tivesse essa dúvida.

- Nós não estávamos em Valfenda – ela respondeu também aos sussurros. – Um ano depois do nascimento de Elwën, Elrond e eu quisemos conhecer a Terra-Média por um longo tempo; seria um merecido descanso para ambos, pois Elwën ocupava grande parte do meu tempo e Elrond estava sempre cheio de tarefas. Nossa menina sempre foi muito independente, e mesmo sendo apenas uma bebê, ela aceitou de bom grado passar uma temporada com Alatariel e Lindir, você os conhece. Então, nós começamos nossa pequena aventura.

Tauriel se recordava com muita clareza dessa época. Eles estavam tão animados, tão esperançosos de que a viagem mudaria suas vidas. Tauriel não podia achar estar mais apaixonada por seu esposo, e Elrond nunca amara tanto Tauriel quanto naquele ano. Era como se nada mais existisse quando estavam juntos, e sempre que pensavam em passar um período tão grande sem ter ninguém para atrapalhá-los, eles sentiam que poderiam explodir de felicidade.

- É clara a lembrança do dia em que nos despedimos de Elwën. Ela usava um vestidinho azul e não chorou por um segundo sequer; parecia sentir a felicidade que emanava de mim e de Elrond. Ela ficou nos braços de Alatariel, e quando desaparecemos no horizonte, ela ainda acenava alegremente em nossa direção. Foi lindo.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora