33. História Esquecida

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Alariën entrou no quarto da mãe pouco depois de ter almoçado, já que não havia mais nada para fazer. Os Senhores se trancaram em outro cômodo para uma reunião, Thranduil fora para sua casa-árvore conversar com Lenwë, e Alariën se viu sozinha sem ter para onde ir. Resolveu que deveria ficar ao lado de Tauriel, torcer para que estivesse ao seu lado quando ela finalmente despertasse.

Tauriel permanecia da mesma forma que estivera dois dias antes, quando os elfos haviam se reunido para o Último Conselho: deitada com o abdômen para cima, enfaixado. Os cabelos ruivos eram constantemente penteados por uma aia que fora chamada para cuidar da elfa durante todo o dia, as roupas eram trocadas e lavadas pela mesma aia, mas ela agora não estava presente, a pedido de Alariën. Imaginou que a mãe poderia ficar algumas horas sem seus cuidados.

Sem fazer barulho, Alariën sentou-se na cama ao lado de Tauriel. Ela não estava tão pálida quanto antes, nem tão febril. A única coisa que mostrava o contrário era a faixa de pano estendida sobre a barriga da mãe, tapando o ferimento. Este não mais sangrava, mas a curandeira dissera que era melhor deixar por mais um tempo, até terem certeza de que Tauriel não teria mais nenhuma hemorragia. Alariën ainda estremecia ao se lembrar da chegada deles em Lothlórien, do sangue da mãe derramando-se em suas mãos.

Alariën pegou a mão de Tauriel, sentindo a pele lisa e suave. Recordava-se da época em que tinha medo do escuro, e implorava à mãe que fosse até seu quarto contar histórias até que ela pegasse no sono, e Tauriel costumava segurar sua mãozinha enquanto lia vários e vários livros de contos de fadas e histórias heroicas. As mesmas mãos firmes e calorosas agora estavam praticamente sem vida, mas iguais em aparência. Era como se elas tivessem trocado de lugar.

Alariën sentiu um pequeno, porém notável, aperto na mão que segurava a da mãe. Ela havia se distraído com suas próprias lembranças, mas agora voltava ao presente e fitava incrédula a mão que claramente havia dado um sinal de vida. Olhou para o rosto de Tauriel, e quase caiu da cadeira ao ver que a mãe tentava abrir os olhos, mas parecia que suas pálpebras estavam pesadas demais para realizar tal feito. Em poucos segundos a elfa conseguiu enxergar minimamente, o aperto na mão de Alariën aumentando a cada nova tentativa de despertar. Alariën sentiu seu coração afrouxar de alívio, lágrimas desceram pelo seu rosto, mas ela logo limpou, não queria que sua mãe a visse daquele jeito.

- A... Al... - Tauriel tentou, mas nada mais saiu.

- Shh, shh - Alariën pousou o dedo nos lábios da mãe, esta fechou os olhos novamente. - Não tente falar agora, só fique me ouvindo.

Tauriel agora conseguia enxergá-la totalmente, e foi sua vez de encher os olhos de lágrimas.

- Está sentindo dor? Se tiver, acene com a cabeça.

Tauriel balançou minimamente a cabeça em sinal de negação. Alariën suspirou, agradecendo.

- Pensei que fosse demorar para acordar - Alariën disse, a mão de Tauriel ainda agarrada à sua. - Passaram-se tão poucos dias, e todos disseram que seria uma recuperação lenta e difícil...

Tauriel assentiu, concordando, e Alariën riu, apesar de tudo. Tauriel dobrou os cantos da boca no que poderia ser um sorriso.

- Sente fome? Posso pedir para trazerem algo...

- N... não est...

- O que eu disse sobre descansar? - Alariën repreendeu-a novamente. Tauriel voltou a exibir a miniatura de sorriso.

- Suponho que, para mantê-la calada, eu mesma terei que falar alguma coisa. Creio que queiras saber tudo que aconteceu desde que voltamos de Khazad-dûm.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora