27. Trombetas

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O dia amanheceu frio. Uma névoa densa envolvia a Floresta Dourada, na madrugada fazia as casas-árvores desaparecerem na massa cinzenta. Essa era a imagem que Alariën tinha do seu quarto se olhasse para frente. Olhando para baixo, ela veria um exército de elfos se preparando para a expedição à Moria.

Os elfos se vestiam como se fossem para uma batalha. Cada um usava armadura completa, uma espada e um arco e flecha, a aljava cheia de setas presa às costas; se houvesse alguma luta, os elfos iriam primeiramente utilizar todas as flechas, e por última opção usariam a espada. Alariën não concordava totalmente com isso; pensava que uma espada serviria tão bem quanto um arco.

Por isso, ela ignorou seu arco e flecha quando organizou as armas que levaria. Alariën procurou uma roupa de batalha que conseguisse abrigar todas as armas que possuía, e ela achou uma que lhe serviria perfeitamente bem. A roupa combinava com o cinto que ela prenderia a espada na cintura, e havia tantos bolsos por dentro que ela seria capaz de esconder diversas adagas sem o mínimo problema. E foi o que ela fez: colocou quatro punhais em lugares de fácil acesso em caso de emergência. Nunca se sabe quando você precisará de uma faca.

Alariën colocou o cinto, embainhou a espada e verificou mais uma vez se tudo estava no lugar certo. Ela não levaria comida nem água; sabia que os elfos levariam em abundância, e ela já estava atrasada demais para procurar comida.

Respirou fundo antes de descer as escadas, ansiosa. Seu coração batia forte, sua mente pensando se ela estaria fazendo a coisa certa ou se deveria ficar e esperar que eles voltassem. Mas ela não conseguiria, sabia disso. Não iria aguentar ficar um dia sequer sem saber de nada, no escuro.

Fechou os olhos e contou até cinco. Quando terminou, sentindo-se mais nervosa que nunca, Alariën foi se encontrar com os elfos.

*

Thranduil já estava subindo em seu cavalo quando Alariën chegou. Ele vestia uma roupa de batalha, apesar de não abandonar sua coroa de galhos. Alariën sentiu um aperto no coração, embora não soubesse por quê. Não pensou muito no assunto, afinal ela tinha outras coisas com que se preocupar.

Thranduil olhou na direção dela e se espantou. A expressão dele seria digna de risadas se a situação não fosse tão séria.

- O que faz aqui? - gritou ele, sem sair do lugar. Alariën foi obrigada a ir até ele, senão eles teriam que conversar aos gritos.

- Eu também vou - ela respondeu.

- Não, não vai - ele falou automaticamente.

Alariën estranhou a atitude do rei. - Você não pode mandar em mim. Eu estou bem melhor, e não vou ficar para trás. Vou junto.

Dito isso, ela deu as costas e procurou um cavalo disponível. Estava tão nervosa que quase não conseguia enxergar, mas ela logo achou um cavalo solto no mato e o pegou, montando-o sem precisar de sela. Ela não tinha pensado nesse detalhe, porém já era tarde demais.

Olhou ao redor, tentando achar a Senhora Galadriel. Não a viu, mas pensava que ela iria junto com eles. Ela estivera se empenhando tanto para resgatar Legolas, Alariën não conseguia imaginar que ela ficaria em casa enquanto os outros saíam rumo ao perigo. Ela tinha que estar ali.

- Cavaleiros! - uma voz forte calou todas as outras. Alariën reconheceria a voz do Rei em qualquer distância, por isso ela logo interrompeu seus devaneios para ouvir o que ele dizia.

- Nós não sabemos o que encontraremos pela frente, nem o que poderemos enfrentar. Só tenho uma coisa a dizer: fiquem juntos. Não teremos a menor chance se nos separarmos, especialmente num lugar tão maligno quanto as Minas de Moria.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora