34. Mornië Utulië

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Elwën. A irmã que tanto amava, que às vezes pensava que nunca mais veria novamente. A simples visão dela ali era o suficiente para que o coração de Alariën parasse de bater por um instante.

- Alariën - ofegou ela, olhando para a irmã como se não houvesse mais ninguém na sala. Pelo visto, Elwën também não imaginava que encontraria a irmã tão cedo.

A próxima coisa que Alariën sentiu foi o corpo de Elwën contra si num abraço de quebrar os ossos, que ela retribuiu com a mesma intensidade. O cheiro da irmã, a visão, tudo parecia o mesmo. Alariën daria tudo para permanecer naquele abraço, não deixar que Elwën jamais a soltasse.

- Não pensei que a encontraria aqui - Elwën continuou, enxugando a lágrima do rosto. - Vim atrás de nossa mãe. Tivemos notícias de que ela viria para cá, e foi isso que eu fiz assim que recebi a carta...

- Mamãe está aqui - Alariën a interrompeu; a irmã falava tão depressa e com tanto desespero, Alariën precisava acalmá-la. Segurou o rosto dela entre as mãos. - Estamos bem, estamos seguras. Sente-se, vamos conversar.

- Na verdade, senhorita Alariën - interrompeu Celeborn, que estivera conversando com Elwën quando Alariën e Lenwë chegaram. - Estamos tendo uma conversa bastante séria, então...

- Por favor, meu senhor - Alariën rebateu. - Não vejo minha irmã há meses. Teremos todo o tempo do mundo para discutir o que quer que seja.

Celeborn sentiu-se claramente insultado, e seu rosto deixou transparecer isso. Mas ele não podia negar tal pedido. Com um aceno de cabeça, ele disse:

- Senhorita Elwën, nos encontraremos novamente pela manhã.

Elwën assentiu e Celeborn saiu do quarto com a mesma leveza de sempre, como se nada tivesse acontecido. Alariën esperou ele sair para voltar sua atenção para a irmã. Abraçou-a com força novamente, temendo que se a soltasse ela escaparia, fugiria de seu alcance. Era um medo tolo, mas não pôde evitar.

- Quando chegou aqui? - começou Alariën, vendo que a irmã ainda estava alterada.

- Há duas horas. Colocaram-me neste quarto, dizendo que eu deveria esperar a chegada de Lenwë, e enquanto isso trouxeram comida e água para lavar-me. Foi uma longa viagem.

Alariën olhou para Lenwë, que estava em pé ao seu lado, sem dizer nada.

- Por que estava esperando Lenwë?

Elwën balançou a cabeça. - Eu sabia que ele estaria aqui. Disseram que mamãe estava doente, sem poder sair da cama, e acharam que não seria uma boa ideia encontrá-la agora. Por isso, pedi que chamassem Lenwë, já que ele era o único que eu podia contar. Foi um impulso. Eu estava totalmente sozinha, e ele foi o primeiro que me veio à mente.

- Mas seu pai está aqui - Lenwë respondeu. - Meu avô, Thranduil. Ele chegou junto com Alariën.

- Eu não sabia disso - Elwën disse. Seu rosto já estava voltando à cor normal.

Alariën não discutiu. Voltou-se à questão realmente importante, agora que julgava que sua irmã estaria calma o suficiente para responder.

- Por que veio para Lothlórien? Não estou reclamando, não mesmo. Meu coração está pulando de felicidade ao revê-la. Mas eu nunca imaginaria que viesse até aqui.

Elwën baixou a cabeça como se estivesse envergonhada.

- Mamãe nos abandonou - respondeu. Alariën viu que seus olhos novamente haviam se enchido de lágrimas. - Saiu no meio da noite, sem avisar a ninguém. Ficamos sem entender o porquê. Ainariël conseguiu lidar com isso, Elladar está ajudando Elrond a tomar conta de Valfenda, embora seu pai esteja mais triste do que jamais o vi. Ele está definhando, acha que foi abandonado, assim como eu. Há algumas semanas, um mensageiro chegou com uma carta de nossa mãe, e eu fui uma das poucas a ler. Ela dizia que estava em Mirkwood, mas que se dirigia a Lórien. Por isso estou aqui. Não aguentei ver tudo que está acontecendo em nossa casa sem poder fazer nada. Escrevi inúmeras cartas e nenhuma foi respondida. Vim procurar nossa mãe e trazê-la de volta. E agora que você está aqui, poderá voltar para casa também.

Seu tom ao dizer a última frase foi tão esperançoso, tão cheio de alegria que Elwën até sorriu. Alariën sentiu seu coração se partindo em mil pedaços.

- Não posso voltar para casa - respondeu ela, nunca imaginando que diria essas palavras. Quase não ouvia o que estava dizendo.

Elwën ficou séria novamente.

- Por que não?

Alariën abriu a boca e fechou. Elwën realmente não sabia de nada, nem de Legolas, nem de Thranduil, nem das outras coisas que lhe acontecera desde que saíra de Valfenda. Eram tantos motivos para dar que a elfa não soube por onde começar.

- Eu tenho algo a fazer aqui - respondeu simplesmente. - Todos nós temos. A Senhora Galadriel explicará tudo, pois eu não posso. Não consigo reviver tudo que aconteceu, mesmo que seja para você, a quem amo tanto. Não sou a mesma pessoa que era quando deixei nosso lar, embora algumas coisas tenham permanecido. Quero voltar para casa todos os dias, é o meu maior desejo. Mas não posso fazer isso agora.

Agora era a vez de Elwën não saber o que falar. A elfa disse apenas:

- Foi bom saber que está aqui.

Alariën sorriu fracamente.

- Senti tanto sua falta.

As duas voltaram a se abraçar, seus corações sentiam pela primeira vez uma pontada de esperança há muito desconhecida.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora