39. Tudo vai desaparecer

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Laurelian andou à frente dos orcs, que seguravam Legolas com mãos de ferro, machucando seus braços e pernas na pressa de irem para o exterior da fortaleza. Antes de chegarem lá fora, porém, Laurelian virou-se para o quarto dos prisioneiros, onde um número ainda maior de orcs aguardava às portas, esperando as ordens da Regente. A própria elfa entrou no cômodo, abrindo a porta com tanta força que metade das pessoas ali dentro pulou da cama. Quando viram que era a mulher misteriosa de que tanto falavam, a metade que estava desperta acordou os que ainda dormiam, e em menos de um minuto todos já estavam de pé, olhando a figura de Laurelian como se ela fosse uma assombração.

- Peguem todos - ordenou a Regente para os orcs, e ela logo se afastou da porta conforme o batalhão de criaturas invadia o quarto numa onda negra. Os elfos, homens e anões ali dentro recuaram, mas não foi o suficiente para os orcs armados e preparados; os prisioneiros ainda estavam sonolentos demais, surpresos demais para conseguir lutar. Os orcs os subjugaram com facilidade.

Legolas, atrás de Laurelian, havia tentado gritar, mas um dos orcs que o segurava tampou sua boca com tanta força que a pele se rasgou, sangue derramando na roupa suja do elfo. Um por um, os prisioneiros começaram a sair do quarto, cada um escoltado por dois orcs que os agarravam pelos braços e pernas. A maioria ainda vestia a mesma roupa cinzenta da última vez que Legolas os vira. A grande procissão demorou quase uma hora para sair do quarto, dada a demora dos prisioneiros em serem amarrados e levados para fora.

Antes de todos terem saído, Legolas ainda tentava com dificuldade limpar a boca suja de sangue, a pele rasgada ardia insuportavelmente. O elfo estava quase caindo no chão de fraqueza quando algo captou sua atenção, fazendo com que seus joelhos cedessem e ele esquecesse toda a dor por um momento.

Pois quem estava saindo do quarto naquele instante, agarrada por três orcs e lutando como se sua vida dependesse disso, era Haël, a esposa de seu filho. Seus olhares se encontraram e a moça da raça dos homens lutou com mais força que nunca, mas foi inútil. Os orcs apenas conseguiram rasgar grande parte de sua roupa, deixando-a quase nua. As criaturas odiosas levaram-na para fora enquanto ela gritava o nome de Legolas, uma última súplica.

O elfo não conseguiu aguentar e vomitou ali mesmo, irritando os orcs que o levavam. Os dois, ao mesmo tempo, deram um soco no príncipe, que desmaiou na mesma hora.

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Legolas acordou com o barulho de gritos na noite. Seu ouvido sangrava, e tudo que ele ouvia parecia estar abafado, como se ele estivesse ouvindo tudo de muito longe. Sua cabeça pendia, o corpo derrubado no chão, embora três orcs ainda o rodeassem; não era necessário, já que todos estavam tão concentrados na Regente que nem prestaram atenção no príncipe despertando.

Laurelian estava no meio de um grande círculo, fogueiras foram acesas atrás dos prisioneiros e orcs. A luz do luar iluminava pouco, mas Laurelian queria que todos vissem, que não perdessem um detalhe. O lugar em que estavam era desolado, cheio de folhas mortas espalhadas no chão e cinzas por todo o local, como se tudo tivesse sido incendiado há pouco tempo e só restassem as ruínas.

A elfa começou a dar um discurso, mas os ouvidos de Legolas pareciam estar tapados. Ele só via Laurelian mexendo os lábios, no centro do círculo, apontando o tempo todo para vários objetos estendidos a seus pés. Os objetos eram variados, e alguns eram tão pequenos que o príncipe não conseguiu distinguir. Ela pegou alguns e se dirigiu a uma pequena mesa que Legolas não tinha notado antes; estava a poucos metros dela, ainda no centro do círculo, que agora estava tão grande que Legolas não conseguia ver todos os integrantes. A maioria ainda sangrava e esperneava, numa tentativa pouco frutífera de se libertar das garras dos orcs.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora