20. Olhe para o Leste

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Mirkwood, sete dias antes

A Floresta das Trevas estava vazia. Ou pelo menos era assim que pareceu a Tauriel quando ela adentrou o Salão do Rei.

Quando morara ali, era raro encontrar algum lugar que ninguém estivesse ali, vigiando ou arrumando, ou até mesmo passeando pelos enormes salões. Dessa vez, no entanto, Tauriel e os elfos em sua companhia demoraram pelo menos uma hora para achar alguém no enorme Palácio.

- Onde estão os outros? - perguntou Nëhi.

- Não faço ideia - sussurrou Tauriel, o que era absolutamente verdade. Nunca vira o castelo tão vazio, tão abandonado.

- E o rei? - Nëhi voltou a falar. - Ele deve estar em algum lugar, afinal de contas... O que é isso?

Ela mesma se interrompeu quando viu uma mancha de sangue ao lado do trono que Thranduil costumava sentar, o assento agora coberto de poeira. A mancha já estava ali há dias, isto era evidente; apenas os olhos penetrantes dos elfos teriam conseguido enxergar, visto que ela já quase desaparecia no chão imaculado.

- Thranduil não era tão displicente com a limpeza do palácio – sussurrou Tauriel. – Ele é o rei, mas não significa que é indiferente ao lugar em que mora. Algo está terrivelmente errado.

Apesar de não saber o que sentia, o aperto em volta do coração de Tauriel ameaçava sufocá-la. Entretanto, ela respirou fundo e tentou manter a calma enquanto dava ordens aos guardas.

- Vamos continuar revistando. Não é possível que não encontremos ninguém nessa imensidão.

Os elfos prontamente se colocaram a postos e seguiram para diferentes cantos do palácio, segundo a ordem de Tauriel. Junto com ela, Tauriel levou Nëhi e mais cinco elfos, pois ela conhecia bem o palácio e sabia onde procurar. Ainda assim, era estranha essa nova atmosfera pesada e sombria em que o lugar se encontrava. Tauriel morara ali por quase quinhentos anos e nunca houvera um dia em que ela passasse por um corredor sem ter alguém para cumprimentá-la. E a falta de vida ali era mais que evidente por cada canto que Tauriel passava.

Uma fina camada de poeira cobria tudo, desde os móveis que o rei tanto prezava até o chão que costumava ser imaculadamente limpo. Tauriel, porém, forçou-se a se lembrar de que estivera em Mirkwood havia mais de vinte anos, e o rei poderia ter mudado seus costumes durante esse tempo. Deve ser apenas isso, ela tentava se convencer, não significa que algo ruim possa ter acontecido. No entanto, o peso em seu coração não diminuía; era como se cada passo fizesse com que ficasse pior.

Eles viraram em um corredor e quase tropeçaram numa garotinha que estava correndo. Nëhi quase foi ao chão com a garota, mas passado o susto, Tauriel tentou acalmá-la e perguntou onde estavam todos.

- Estão nas casas por trás do palácio – ela disse ainda assustada. Tinha cabelos desgrenhados e roupas sujas, como se tivesse acabado de correr o dia todo. – Não entramos mais aqui desde que o rei saiu.

- Como assim "o rei saiu"? – Nëhi foi a primeira a perguntar. – Por que motivo ele haveria de sair daqui?

- Eu não sei – ela disse, olhando para os lados como se estivesse muito apressada. Tauriel notou tardiamente que ela carregava uma bolsa nas mãos.

- Olhe, preciso mesmo levar isso pra minha família – a garota continuou, apontou para a bolsa. – Eu posso levá-las até lá se quiserem saber algo, mas preciso ir.

Tauriel olhou para Nëhi e seus guardas. Voltou o olhar para a garotinha e disse:

- Está bem, irei com você. Pode mostrar o caminho?

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora