9. Inesperado

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Um minuto. Dois minutos. Três minutos. O tempo passava ao redor da elfa paralisada e ela nem sentia.

Está vivo, está vivo, está vivo, retumbava uma voz em sua cabeça como batidas de tambores, incessantemente.

Alariën, depois de longos instantes, moveu as mãos trêmulas em direção ao solo. Com muito cuidado, ela tirou as botas para não apagar as marcas recentes e examinou cada centímetro da terra enlameada. Não encontrou muita coisa, além do que achara antes. A fogueira, pelo que ela pôde deduzir, fora acesa há um dia e meio e apagada horas depois. Provavelmente por isso os elfos de Lórien não haviam reportado nada ainda. Deduziu também que o bando que acampou ali fora de aproximadamente vinte e dois a vinte e cinco orcs. Apesar de toda a tensão e ansiedade, ela não pôde deixar de se sentir um pouquinho orgulhosa de suas habilidades.

Alariën abafou um grito ao ver pegadas fortes conduzindo ao Leste. Entre elas, dava para distinguir com clareza um rastro fino de alguém que, sem dúvida, fora arrastado.

Com esperança renovada, Alariën voltou a calçar as botas e montou em Ched, seguindo rapidamente a trilha marcada que se tornava mais nítida a cada légua.

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Alariën quase não percebeu quando sumiu.

Não foi tão abruptamente, por isso ela não notou de imediato que havia algo errado. Depois de quase um dia inteiro seguindo a trilha que não parecia acabar nunca, Alariën achou estranho as pegadas começarem a desaparecer lentamente, dia após dia. Até que definitivamente sumiram.

A elfa gemeu ao olhar para o chão sob seus pés. Estava agora muito próxima das minas de Moria, algumas léguas à frente, embora ela não soubesse disso.

Ela desmontou, incrédula.

- Oh, oh, oh...

A elfa rastejou como um animal, tocando o chão.

- Não pode ser possível... - ela sussurrava, horrorizada.

Mas era. E agora ela estava definitivamente perdida. Não tinha a mínima ideia de onde estava, levando em conta sua excitação ao descobrir a trilha deixada pelos orcs.

Não sabia o que pensar, o que fazer. Tudo parecia tão inútil nesse momento. A elfa parou e respirou fundo, tentando ver suas opções dali pra frente. Ela ainda tinha provisões para mais alguns dias de viagem, e Ched ainda estava tão disposto quanto no dia em que quando saíra de Lórien. No entanto, seu item de maior valor, um enorme mapa muito detalhado, de nada mais lhe servia, pois num descuido ela havia parado de observá-lo há horas.

Levantou-se e olhou ao redor. Silêncio. Um silêncio tão profundo e mortal que dava até para ser sentido.

Alariën arrepiou-se. Nada havia a fazer a não ser seguir em frente até que achasse algum lugar conhecido - ou seja, algum lugar que Thranduil pudesse ter lhe indicado no grande mapa.

Quando a elfa já estava quase cansando de cavalgar, apareceu à sua frente o grande paredão de Moria se erguia imponente e sombrio. A elfa captou o máximo que pôde do lugar, mas não lhe vinha à mente a localização exata. O rei jamais imaginara que ela iria parar ali, então fazia sentido eles não terem discutido esse local.

A terra à sua volta era desolada e vazia. Tudo era cinzento, desde algumas nuvens no céu até o chão pedregoso. A claridade da lua cheia só atingia a parte central do paredão, formando linhas entrelaçadas no que poderia ser um desenho. Alariën já estava se preparando para dar meia volta quando algo súbito aconteceu.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora