14. A Terra dos Senhores dos Cavalos

240 16 3
                                    

O sol pálido brilhava por sobre as planícies verdejantes de Rohan e o palácio de Meduseld, mas dentro do salão onde Haël e Lenwë Greenleaf participavam de uma reunião, a única luz provinha das velas distribuídas ao redor da grande mesa quadrada. O inverno havia chegado, e as correntes de ar frio forçaram os criados a fechar todas as janelas do cômodo.

Ainda assim, Haël, que já estava completamente agasalhada, estremecia e batia os dentes ao lado de Lenwë, que se empenhava em ler um mapa. Ela ouvia sem muita atenção as conversas entre os senhores, preferindo, assim como seu marido, examinar os mapas da Terra-Média e os livros antigos espalhados pela mesa. De vez em quando, no entanto, ela acenava com a cabeça em aprovação e Lenwë lhe sorria.

A reunião iria demorar, no mínimo, mais algumas horas, Haël pensou com desânimo. Entediada, afastou a cadeira sem fazer barulho e deixou o cômodo, atraindo olhares de alguns senhores, a maioria expressando desaprovação. Haël não deu atenção aos olhares; sabia que a reunião duraria horas, e não achava tentadora a ideia de ficar presa ali dentro durante metade do dia. Lenwë, sendo o senhor de Rohan, tinha a obrigação de participar de todas as reuniões que fossem solicitadas, e ela, sendo sua esposa, também era obrigada a acompanhá-lo. Lenwë sabia que a mulher nutria pouco interesse pelos assuntos tratados, mas ainda insistia para que ela fosse ao menos para fazer-lhe companhia. Hoje, no entanto, Haël sentia vontade de sair, ficar sozinha e cavalgar. E foi isso que fez assim que fechou a porta atrás de si.

Primeiro, foi até seu quarto e trocou o longo vestido cinza que trajava por uma veste mais adequada, adicionando um manto de pele para se aquecer; se já estava frio dentro do salão, lá fora devia estar uma situação alarmante. Logo em seguida, disparou para o estábulo, cantarolando baixinho.

Os cavalos de Edoras eram dóceis e gostavam muito de Haël, e todos relincharam alegremente ao vê-la entrar. Ela acariciou cada um deles antes de correr para Harad, um garanhão branco e forte que lhe foi dado pelo marido. Ela o selou sem pressa, e quando o montou, os outros cavalos patearam o chão. Haël sorriu e disse que voltaria logo, conduzindo Harad para fora do estábulo em direção à claridade dourada. O vento soprava forte, fazendo a crina de Harad ondular e o manto de Haël escorregar lentamente pelos ombros. Ela segurou rapidamente antes que caísse na grama, sem se preocupar em agarrar as rédeas.

Cavalgou durante muito tempo, descrevendo círculos sobre a relva verde e brilhante, às vezes em passo lento e às vezes galopando. Ria à toa, a forte ventania fazendo cócegas em seu rosto. Não viu o tempo passar, e só percebeu que devia voltar quando o sol começou a se esconder lentamente no oeste.

Sussurrando palavras élficas para Harad, Haël fez o cavalo dar meia volta para Meduseld. O trajeto foi mais curto do que pensara, e instantes depois ela retornava ao grande palácio dourado no topo da colina.

Ao longe, ela via uma figura solitária fora do palácio, a capa grossa tremulando atrás de si como uma bandeira. Haël avançou com mais rapidez.

+

Lenwë encontrava-se parado no último degrau que levava às portas de Meduseld, toda a terra de Rohan estendida à sua frente. As estrelas já começavam a brilhar no céu acima, a lua iluminando a colina de Edoras. A maioria das pessoas já se encontrava em casa, e as ruelas estavam vazias. Foi com facilidade que seus olhos encontraram Haël voltando apressada para casa; esperou pacientemente até ela se aproximar.

De fato, a reunião havia durado horas, e Lenwë se sentia cansado. Esperara Haël aparecer desde que terminara, e depois, vendo que ela demorava, saiu para observar as estrelas, apesar de já estar acostumado aos longos passeios da esposa, que adorava cavalgar por Rohan quando não estava ocupada, o que significava a maior parte do dia. Ele não partilhava do mesmo desejo, e preferia ficar em seus salões aconchegantes comendo, bebendo e se divertindo. Nisso, os dois eram inteiramente diferentes. Haël nunca gostara de estar no meio da multidão, ou em festas e banquetes, que eram algo rotineiro em Meduseld. Preferia ficar sozinha, ao ar livre, tendo por companhia apenas seus dóceis cavalos.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora