11. O Anão e a Elfa

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- Senhora, corra - sussurrou Thrain, tão baixo e ao mesmo tempo tão alto. Seu tom foi quase inaudível, mas ainda assim ressoou pelos salões cavernosos num eco profundo.

Alariën ainda estava em estado de choque. Abriu os olhos, mas as imagens continuavam passando pela sua cabeça repetida e interminavelmente.

- Senhora, corra - repetiu o anão, agora decididamente tentando controlar a voz. - Estamos em perigo.

Alariën não ouvia, não se importava. Todos os seus pensamentos estavam dirigidos ao que acabara de acontecer.

- Não podemos ficar aqui - ele a sacudiu, vendo que ela não fazia nada além de continuar parada, de olhos arregalados.

- O que está fazendo? - disse Alariën, finalmente voltando à realidade. Puxou o braço.

- Ouve isso? - perguntou Thrain num sussurro baixo e urgente.

Alariën apurou os ouvidos. Conseguia ouvir, apesar de o som estar muito baixo, apenas um eco nas profundezas. Então eles correram.

Os passos pesados ecoavam ainda mais alto que o som que ouviam. Tambores ressoavam incessantemente, um som lento e retumbante ecoando em todos os lugares e em lugar nenhum. Bum, bum, bum, aumentando e diminuindo lentamente. Parecia estar acompanhando as batidas do coração do anão e da elfa.

Os dois paralisaram, petrificados, sentindo o medo se espalhar pela pele, pelos ossos, pelo coração. Sabiam desde o começo que havia pouca chance de saírem vivos dali. Agora, pareciam inexistentes.

- O que vamos fazer? - Alariën ofegava. Apoiou as mãos nos joelhos, inalando o ar com força. Pararam por menos de cinco segundos, mas se não saíssem dali agora, não sairiam nunca mais.

Thrain, vendo que Alariën estava prestes a desmaiar, puxou-a pelo braço com urgência. Não deram vinte passos antes de ela cair e o rufar dos tambores aumentar até as paredes tremerem.

- Meu senhor, eu... - tossiu. - Não consigo continuar. Ajude-me.

A pele da elfa estava pálida. Ela se dobrou e despejou quase todo o café da manhã aos pés de Thrain.

Thrain olhou desesperado para todos os lados, esperando e temendo ouvir o mínimo barulho, um passo, um sinal de que estavam sendo perseguidos. Não ouviu nada. Apressou-se em ajudá-la, afastando-se cuidadosamente da poça que ela havia deixado.

- O que está sentindo? - sussurrou Thrain.

Alariën mal conseguia abrir a boca para responder. Thrain decidiu deixar as conversas para depois.

- Eu posso carregá-la. Venha, apoie-se em mim. - passando a tocha para a mão esquerda, pegou-a pela cintura, colocando-a de barriga sobre o ombro direito. Isso só a fez gemer mais quando ele começou a correr, mas não havia muito que fazer.

- Segure isso, princesa - ele lhe deu a tocha, e embora ainda estivesse numa posição desconfortável, era o único jeito que lhe permitia correr.

Quando ela fez o que foi pedido, ele voltou a correr. Correu quase como se não a estivesse segurando, nem mais veloz, nem mais devagar. O peso de Alariën parecia incomodá-lo menos que uma pena.

Os tambores pararam abruptamente. Os dois também. Haviam parado na frente de um grande arco, que levava a três lugares diferentes. O da esquerda levava para baixo, o do meio para frente e o da direita, para cima. Todos pareciam levar ao Leste. Thrain realmente conhecia aquele lugar, pois não hesitou antes de entrar na passagem da direita. Era uma subida longa e vertiginosa, e Thrain cansou-se depois de algumas horas de marcha. Encostou-se à parede rochosa e colocou Alariën no chão com cuidado, logo depois acendendo uma fogueira. Tinha medo de ser pego, mas não poderia cuidar da companheira no escuro.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora