Epílogo - Adeus à Terra-Média

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Alariën acordou com um susto, como sempre acontecia. Uma sequência de pesadelos brigava por espaço em seu sono, e a cada manhã ela se sentia pior do que no dia anterior. Sonhos que envolviam Ainariël morrendo eram os mais frequentes, embora ela também tivesse começado a ter pesadelos sobre Legolas logo que passou a festa do casamento de Elwën, três meses atrás. Esses costumavam ser os mais demorados, os que faziam ela acordar suando e tremendo. A elfa não imaginava por quanto tempo ela iria suportar aquilo.

Nos primeiros meses após a Batalha de Utumno, Alariën começara com os sonhos. Ela corria para o quarto de Elrond ou Elwën, ou de qualquer outro que estivesse no caminho; precisava ver alguém, ver que ainda estava viva e que tudo não passava de um sonho ruim. Mas a realidade a atingia com força, e logo ela voltava a se trancar no quarto, chorando tanto que sua cabeça doía. Após dez meses nesse ritmo, ela começou a perceber os sinais de cansaço e angústia nos rostos de Elwën e Elrond, que praticamente cuidavam dela durante o dia e a noite. A partir daí, ela deixou de correr para o quarto deles quando tinha pesadelos, e sua única companhia era o silêncio mórbido de seu quarto, às vezes fazendo ela piorar. Alariën ficava horas sem conseguir voltar a dormir, com medo de olhar pela janela, com medo de algum orc aparecer e matá-la enquanto estava distraída. Assim como fizeram com Ainariël...

Sem que Alariën soubesse, Elrond se comunicava com Tauriel por meio de cartas, mas a elfa também não sabia mais o que fazer em relação à filha. Ela visitara Valfenda três vezes durante aquele ano, chegando a passar quase uma semana em cada viagem, mas de nada adiantou. Alariën continuava com os pesadelos, e apesar de agora ela ter Tauriel ao seu lado para consolá-la, isso não mais servia; Alariën aprendera a guardar seus sonhos para si mesma, e por várias noites Tauriel despertou com o barulho do choro de Alariën, que acordava e ficava longe da cama da mãe, abafando os ruídos para que Tauriel não acordasse. Era extremamente angustiante passar todo o tempo ao lado de Alariën sem saber como ajudá-la, sem ter como ajudá-la. A todos só restava esperar, esperar para que aquilo passasse. Mas ninguém tinha nenhuma garantia de que fosse passar.

Dia após dia, Alariën definhava. Dois meses antes do casamento de Elwën, ela havia parado de comer sozinha, e só se alimentava quando alguém a auxiliava, e até isso era difícil; era preciso insistir que ela comesse, conversar durante longos minutos para que ela percebesse que precisava comer; só então Alariën se dispunha a obedecer. Após uma semana aquilo já se tornara enfadonho. Elwën nunca reclamava de ajudar a irmã, muito menos Elrond e Elladar, mas todos viam o cansaço evidente que eles demonstravam. Elwën só voltou a sentir ânimo quando começou a preparar os arranjos do casamento, com Aelin sempre ao seu lado. Os dois juntos completavam a força que faltava no outro, e só assim eles conseguiam se levantar da cama para um novo dia tortuoso.

Sem ter mais sono para voltar a dormir, Alariën se levantou com lentidão e viu que a luz do sol transpassava a cortina fina de sua janela. Ela se aproximou devagar; gostava da luz do sol, mesmo que não saísse do quarto para apreciá-la totalmente. O dia estava clareando, o rugido do Bruinen era um som constante perto do seu quarto. Alariën ficou encostada à janela por uns minutos, apreciando o som. Ela se acostumara a ouvir o Bruinen caindo nas montanhas desde que era criança; brincava com Elwën dizendo que elas iriam se afogar, mesmo que fosse impossível. Os irmãos Elwën, Elladar e Alariën riam enquanto brincavam sobre a Ponte do Vau, era o lugar preferido deles. Elrond e Tauriel morriam de medo, mas isso só fazia a brincadeira ser mais divertida. Alariën era a mais corajosa; dizia para eles irem até o outro lado da Ponte, mas Elladar sempre negava, ameaçando contar tudo para Elrond. Os dois pequenos elfos costumavam brigar o tempo todo por causa disso. Elwën, por ser a mais velha, sempre tentava acalmar os ânimos, embora nunca conseguisse. No fim das contas, ela deixava os dois irmãos brigando e ia passear sozinha por Valfenda, passando pelas casas dos elfos e vez ou outra comendo alguma comida gostosa que os elfos ofereciam.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora