36. Vestígios de morte

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Legolas estava deitado em sua cama, encarando o teto muito acima de sua cabeça. Ainda era cedo, ele imaginava. Presumia pelo fato de que todos ainda estavam acordados, conversando entre si, e os seus companheiros de quarto tinham um estranho senso de horas ali dentro, embora o elfo ainda não estivesse tão acostumado de estar ali a ponto de saber o horário certo.

Legolas sabia com certeza, porém, que já se passara um dia inteiro desde que ele conversara com a Regente no pátio da fortaleza. Ele nunca tinha visitado aquele lugar, e não ficou surpreso por ser tão sombrio e silencioso quanto o resto de Utumno.

Ele não esperava a resposta dura da Regente, mas sabia que não era tão improvável. Legolas sentia que estava cruzando algum tipo de limite, e logo ao ver que Laurelian também percebeu isso, ele achou melhor se afastar e não dizer mais nada.

Do outro lado do cômodo, o elfo chamado Aelin observava Legolas com cuidado. Legolas não viu, mas sentiu o olhar do outro sobre si. Ele se sentou e chamou o elfo moreno para se sentar ao seu lado.

Aelin andava com uma postura que Legolas ainda achava impressionante para ele. Aelin dizia não lembrar nada do que lhe acontecera e até mesmo de quem era, mas poucos detalhes como o seu caminhar eram o suficiente para que Legolas pudesse formar uma conclusão ou duas. O príncipe apostava tudo que tinha que Aelin era um elfo de linhagem nobre, assim como ele.

- Alteza - cumprimentou Aelin antes de se sentar no local indicado.

- Legolas, apenas - disse o príncipe, encarando o outro elfo. Eles eram iguais, e ao mesmo tempo diferentes em tudo.

- Sabe, os boatos correm rápido aqui - Aelin comentou.

Legolas franziu a testa.

- Que tipo de boatos?

Aelin suspirou, como se estivesse escolhendo as melhores palavras.

- Larinnon, meu irmão - apontou para outro elfo de cabelos tão escuros quanto os dele. - o viu saindo ontem à noite enquanto todos dormiam. Disse que você fez isso durante várias noites.

Legolas sentiu um tremor involuntário. Não sentia medo dos outros, mas se eles descobrissem tudo... Legolas não queria nem pensar nisso.

- Não sei do que está falando, senhor - Legolas respondeu com polidez, uma expressão genuinamente preocupada em seu rosto. Aelin decidiu não discutir. Perguntara ao elfo e ele negara. Não podia simplesmente acusá-lo.

- Só quero dizer-lhe, Alteza - Aelin continuou, apesar de Legolas ter dito para não chamá-lo assim. - que estamos do seu lado. Todos aqui estamos juntos, na mesma canoa...

- No mesmo barco - corrigiu Legolas. Aelin sorriu.

- Exato. Se sentir que deseja nos contar algo, estaremos prontos para ouvir.

Aelin parecia realmente disposto a ajudar Legolas, e o príncipe queria mais do que tudo poder lhe dizer o que pensava. Mas Aelin nunca concordaria com aquilo, nem nenhum dos outros ali.

- Obrigado, Aelin - Legolas respondeu com toda a sinceridade que conseguiu reunir. – Não me esquecerei de suas palavras.

O elfo moreno fez uma pequena reverência e foi se juntar a Larinnon, seu irmão. Legolas voltou a deitar-se na cama, tendo de volta a visão do teto acinzentado.

Quando todos estiveram dormindo (Legolas fez questão de se certificar que todos estavam respirando de forma regular e profunda), o príncipe bateu levemente na porta. Um orc apareceu sem fazer barulho, e Legolas disse com a voz quase muda:

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora