15. Fuga para a Floresta

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A trilha de sangue que Alariën havia deixado desde a ponte a ajudou imensamente no caminho de volta, apesar de ela já ter memorizado cada curva. A tocha que ela agarrava tremia a ponto de se apagar, tal era o nervosismo da elfa. Ela tentava acalmar as batidas frenéticas do coração, seu corpo estava alerta a qualquer sinal de perigo, qualquer ruído de passos ou o clarão de uma chama. Mesmo seus ouvidos apurados não conseguiam detectar o mínimo som, mas isso não a acalmava nem a impedia de olhar por sobre o ombro a cada instante.

As pálpebras de Alariën pesavam de sono e cansaço, tornando a tarefa de seguir pelos corredores quase impossível, sem contar com a fraqueza extrema que sentia; as lágrimas de dor que insistiam em descer embaçaram a pouca visão que ela tinha, fazendo com que a fina trilha sangrenta parecesse oscilar e se duplicar à sua frente.

Ela cambaleava, os pés trêmulos pisavam acidentalmente a barra do vestido rasgado, e uma vez ela até tropeçou e caiu no chão duro de pedra. A pontada de dor, por menor que fosse, foi pior do que ela poderia ter imaginado, e fez mais lágrimas descerem, ardentes. Mas ela não poderia ficar ali para sempre. Tinha que salvar Legolas.

Legolas, uma voz irrompeu em sua mente, clareando seus pensamentos. Como se uma luz tivesse aparecido no centro da escuridão profunda, ela viu que era a única que poderia tirá-lo de seu sofrimento antes que fosse tarde demais. Pelo que se lembrava, ele estava numa situação bem pior que a dela. Estremeceu só de imaginar que morreria ali, sozinha, e daria o mesmo destino a Legolas. Obrigou-se a se levantar, cada movimento era uma tortura.

Alariën conseguiu sentar-se e apoiou a mão onde antes havia batido a cabeça, e encontrou o local molhado, pegajoso. Sentiu vontade de vomitar ali mesmo. Não agora, a voz reapareceu. Não agora.

Alariën respirou fundo e tateou pelo chão pela tocha. Quando levantou-se, um fio de sangue descendo pela boca, o clarão alaranjado das chamas lançou-se sobre a Ponte de Khazad-dûm. Um mínimo sorriso apareceu no rosto da elfa. Conseguira.

Sem hesitar, Alariën cambaleou para atravessar a ponte com a maior velocidade que seus ferimentos e a dor permitiam. Colocou o primeiro pé na travessia estreita e olhou para trás mais uma vez. A tocha clareou metade do salão, mas Alariën não viu nenhum orc. Virou-se novamente e correu.

Ela sentia como se estivesse correndo através do fogo. Não estava tão rápida como esperava estar, mas cada parte do seu corpo gritava em desespero. Mais sangue descia pelas pernas e braços, e por um segundo ela pensou que não conseguiria chegar até o final, que cairia pela última vez e seria engolida pela escuridão do abismo negro embaixo de si, assim como Thrain fora.

Thrain, a voz quase gritou, trazendo consigo a lembrança do que ela fizera há poucas horas. Alariën arregalou os olhos, percebendo que já havia passado pelo local que Thrain tombara e nem havia notado. Dessa vez, nenhuma lágrima desceu, apesar de seu coração ter apertado dolorosamente. A lembrança lhe deu forças. Por causa dela, Thrain estava morto. Ele morrera ajudando-a, tentando sair de Moria para ter uma chance de salvá-la e a Legolas. Ela não retribuiria morrendo ali. Não vou, disse a si mesma com uma confiança que ela nem sabia que tinha.

A ponte terminou em um salão idêntico ao anterior. Este, entretanto, se curvava para a esquerda, revelando uma escadaria rachada e poeirenta. Alariën tossiu, deixando a tocha escapar pelos seus dedos. A luz do sol que já estava tão próxima entrava pelas brechas de uma porta no topo da escada.

Alariën não conseguiu ver se algum orc guardava a saída, mas duvidava que houvesse. Era raro alguém entrar em Moria, e ainda mais raro alguém sair dali.

Ela subiu devagar, as mãos nos degraus, quase rastejando. Pedrinhas soltas estavam espalhadas em meio à poeira, machucando seus pés e mãos descalços. Ela não se incomodou; estava próxima demais da porta, e nada mais importava além do caminho tortuoso à sua frente.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora