Capítulo 2

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Geralmente quando se está ansioso o tempo passa mais devagar, comigo até agora a história esta sendo bem diferente, ele passou mais depressa do que pensei. É como se depois que decidi voltar o tempo tivesse acelerado.

Meus amigos me fizeram aproveitar cada pedacinho da cidade que puderam me levar, tenho que dizer que me deram uma memorável festa de despedida. Mesmo depois de duas semanas só estou me dando conta de que vou embora agora, vendo as malas prontas encima da cama e o quarto completamente despido de tudo que o fazia meu.

Boa parte das minhas coisas nós tínhamos empacotado e despachado para minha casa, só deixando o essencial para trás, tudo que eu usaria nos poucos dias que passaria ali. Falei para minha mãe que tudo naquelas caixas são apenas coisas extras que acumulei e que agora estão ocupando espaço, mas que quero guardar. Não contei a ela que estou voltando, para nenhum deles na verdade, quero fazer uma surpresa e considerando que todos acham que só volto no natal, acho que vou ter a reação que quero.

Olhei pela janela a bela vista da cidade que vou sentir falta, partir sempre se torna a parte mais difícil de todas. Passei os dedos por minha escrivaninha, onde passei noites escrevendo alguma ideia do meu livro enquanto olhava pela janela, esse lugar com toda certeza aguçou meu lado criativo, mas outra mudança de cenário agora pode me fazer bem.

Já sinto a ansiedade tomar conta de mim, talvez seja por isso que estou acordada desde as cinco horas da manhã. Tive agradáveis noites de sono depois daquele dia, por incrível que pareça, mas essa noite me sentia terrivelmente inquieta, então não me surpreendi em ter apenas cochilado por algum tempo quando fui acordada pelo barulho do carro do vizinho, já ás cinco da manhã. Sem conseguir dormir, parti para minha corrida matinal, fui mais longe do que era do meu costume, passei na padaria favorita da minha tia para comprar pão e fui até mesmo a uma das minhas livrarias favoritas. Um empresário francês - que graças aos frequentes eventos que minha tia vai, aprendi a identificar -, me passou uma cantada nada educada enquanto eu escolia alguns livros, a má sorte dele? Sei francês quase tão bem quanto italiano.

Não sei o que foi mais engraçado, a expressão dele quando dei uma resposta em sua língua que deixaria tanto Charlotte quanto Marisol, orgulhosa, ou o rapaz do caixa cuspindo o café pelo nariz quando escutou o que falei. Ao que parece ele também tem algum conhecimento bilíngue, me deu até um sorriso quando fui pagar os livros. Mesmo com toda essa agitação logo no inicio da manhã, nem três horas tinham se passado, uma coisa sobre mim? Sou ansiosa. Quando quero alguma coisa ou preciso fazer algo, geralmente fico inquieta, tendo que me manter sempre ocupada, péssimo dia para não ter trabalho e nem ir á escola.

Depois de um longo período de greves por causa de uma crise, as aulas finalmente voltaram, o que significa que eu não estarei tão adiantada quando voltar para casa, já que lá não é semestral. Podia ter declarado hoje como meu último dia de aula, mas quis encerrar isso antes. Ajudei Ilda na cozinha para ter com que me distrair, despois sai ás compras com ela, o que me fez ficar ocupada e rindo pela metade do dia até que finalmente voltamos para casa e fui arrumar minhas malas.

-Safira, já esta pronta? - a voz do meu tio me arrancou dos meus pensamentos.

Olhei para a porta a tempo de ver sua cabeça se esgueirar por ela.

-Estou.

-Então vamos, seu vôo parte em duas horas e não quero pegar trânsito.

-Tudo bem!

Ele pegou minhas malas e as levou para fora, passei a alça da minha bolsa favorita pelo ombro, olhei pela janela mais uma vez e sai fechando a porta. Desci as escadas e encontrei Ilda me esperando, ela esta mais ansiosa do que eu, torcendo os dedos de ansiedade e com os olhos já marejados.

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora