Capítulo 15

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Não sei por quanto tempo fiquei debaixo do chuveiro, o exercício de deixar que a água levasse embora todos os meus pensamentos deu certo porque quando finalmente sai meus dedos já estavam enrugados. Coloquei minha roupa, escovei os dentes e dei uma leve secada no meu cabelo, não ficou as mil maravilhas, mas eu não estava com animo, e muito menos paciência, para fazer algo melhor. Peguei uma aspirina no armário e enchi meu copo de água, agora que toda a agitação do momento tinha passado meu corpo estava sentindo seus efeitos, eu me sentia exausta e minha cabeça ribombava como um tambor.
Assim que sai do banheiro encontrei com Marisol na porta, ela já estava com suas roupas nas mãos, o sorriso fraco que me deu mostrava o quanto estava cansada, eu mesma não estava em um estado muito melhor. Me joguei na cama e fui em busca do meu celular, eu tinha até me esquecido de mandar mensagem para os garotos avisando que já tinha chegado em casa. Digitei uma mensagem rápida para Dimitri no bate-papo, ele não estava online, o que significava que provavelmente ainda não tinha saído do bar. Comecei a escrever uma mensagem para Pietro e no mesmo momento meu celular tocou, fazendo com que eu me assustasse e quase o derrubasse.
-Droga! - resmunguei segurando o aparelho com firmeza.
Me ajeitei nos travesseiros enquanto o celular voltava a tocar, atendi sem nem mesmo ver que estava ligando.
-Alô?
-Oi Safira. - falou uma voz conhecida do outro lado da linha.
-Ah, oi Pietro. - falei me afundando mais nos travesseiros e ficando bem confortável. - Eu ia te mandar uma mensagem bem agora.
Senti seu sorriso do outro lado da linha.
-Sei que parece meio estranho eu estar te ligando, mas... Eu queria saber se você está bem.
Suspirei olhando para o teto.
-Marisol e eu chegamos bem, ela veio dirigindo. - falei. - Uma das piores partes foi contar para meus pais o que aconteceu.
-Eles ficaram muito mau? - perguntou.
-Eles a viram crescer e são amigos dos pais dela... Então posso dizer que sim.
-E como você está se sentindo?
Puxei meu edredom sobre minhas pernas e fiquei brincando com as linhas soltas.
-Pior do que uma hora atrás e provavelmente melhor do que vou estar amanhã, ou não. Eu nunca perdi uma amiga assim então... Eu não sei exatamente como devo agir e me sentir.
Pietro suspirou.
-O luto é diferente para cada pessoa, o primeiro dia é o mais difícil porque por mais que você saiba que aconteceu, uma parte de você ainda diz que as coisas podem mudar.
Ficamos em silêncio por um longo tempo apenas escutando a respiração um do outro.
-Acho que você deveria descansar um pouco. - falou.
-Fala sério? - sorri sem vontade. - Eu nem sei se vou conseguir dormir.
-Se quiser podemos ficar conversando até você pegar no sono. - falou. - Posso ser muito entediante.
Soltei um risada fraca.
-Acredite, você é tudo, menos entediante.
Ele fez uma pausa.
-Acha mesmo isso? - perguntou.
-Não minto quando a resposta é fácil.
-Você faz isso com todas as pessoas?
Franzi a testa.
-Faço o que? - perguntei.
-Faz com que se sintam bem mesmo quando não querem?
-Um dos meus trabalhos é ajudar, mesmo quando as pessoas não querem ajuda.
-E quanto a você? - perguntou. - Gosta de ser ajudada?
Parei por um momento, a conversa tinha pulado de um lado para o outro, mas não era algo desconfortável. Sempre foi tão fácil para mim me desligar dos meus problemas e ajudar os outros, simplesmente ignorar o que eu estava sentindo, era mais fácil. Bastava poucas palavras e um sorriso e eu poderia convencer qualquer um de que eu estava bem, bom, pelo menos quase qualquer um.
-Isso é outra história, que talvez fique para outro dia.
Escutei seu sorriso.
-Não quer falar sobre isso, entendo.
-A certas coisas que não gosto de falar, ainda mais pelo telefone.
-Tem medo de alguém estar escutando? - brincou.
-Sou paranoica ás vezes, mas não apela também.
Nós dois rimos, era uma situação bem diferente, mesmo que várias partes de mim estivessem exauridas, tristes, eu me senti bem melhor falando com ele, talvez como sempre a distração seja um dos melhores remédios, a rota de fuga que sempre escolho quando as coisas ficam ruins.
-Obrigado.
-Pelo que? - perguntou confuso.
-Por me distrair.
-Sempre que precisar pode me ligar. - falou. - Afinal, não é para isso que servem os amigos?
-Está desempenhando esse papel muito bem.
-Fico feliz em ouvir isso.
-Bem, eu vou desligar agora... A Marisol já vai sair do banho.
-Tudo bem, tente dormir. - falou. - Você precisa descansar um pouco.
-Vou tentar.
Ficamos em silêncio por um tempo, eu queria e não queria desligar, era bom falar com ele e ao mesmo tempo confuso, porque eu não sabia direito o que falar.
-Boa noite, Pietro.
-Boa noite, Safira.
Desliguei o celular e coloquei na cômoda, quando terminei de me ajeitar sob as cobertas Marisol saiu do banheiro.
-Era a Ale? - perguntou guardando sua nécessaire na bolsa.
-Não, Pietro.
Mais uma vez ela não fez comentários ou piadas, terminou de guardar suas coisas, apagou a luz e se jogou ao meu lado na cama sem dizer uma única palavra. Fiquei por um tempo olhando para ela e dez minutos depois a vi entrando na inconsciência do mundo dos sonhos. Sorrindo, peguei a manta que estava dobrada no pé da cama e a cobri, sempre quis ter essa facilidade para dormir, mesmo quando estava cansada eram incontáveis minutos até a inconsciência me levar, mas para Marisol nunca existiu tempo ruim quando o assunto é o sono.
Fiquei olhando para o teto enquanto escutava sua respiração calma ao meu lado, tudo na casa era o mais puro silêncio e eu não sabia mais se meus pais ainda estavam em casa ou não, apenas continuei a encarar o teto escuro como se pudesse enxergar alguma coisa e não notei meus olhos se fecharem.

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora