Eu poderia ter continuado tranquila quanto a eles não terem voltado ainda, não deveria entrar em pânico. Eles poderiam estar curtindo aquela cascata maravilhosa ou quem sabe tinham se misturado a um dos grupos que estavam se divertindo por ai e tivessem estendido o passeio. Era isso que aconteceria em uma situação normal. O problema era que há muito tempo coisas simplesmente normais não aconteciam comigo. O aviso que Noah nos dera mais cedo martelava na minha cabeça junto com uma vozinha sussurrante no fundo da minha mente que dizia que alguma coisa estava muito errada.
Eu não podia negar que durante o dia enquanto riamos e nos divertíamos, um pressentimento ruim não tinha apertado meu coração e me deixado agoniada por um bom tempo. Mas como todas as demais coisas ruins, eu tinha decidido ignora-lo e continuar com o final de semana. Agora as palavras de Noah tinha soado como um canalizador, fazendo com que o pensamento se tornasse ainda mais forte. O sol já tinha se escondido no horizonte e as cores do crepúsculo estavam sendo substituídas pela noite, deixando toda a bela paisagem que eu via pela janela sinistra. A floresta não parecia mais tão amistosa para se vagar agora que estava escuro.
Fiquei por um bom tempo em silêncio, apenas encarando Noah e deixando que meus pensamentos se aquietassem. Tantas coisas passavam pela minha cabeça naquele momento que eu chegava a me sentir tonta.
—Noah... O quanto aquela floresta e aquela trilha são perigosas a noite? – perguntei.—O suficiente para que eu não vá lá num horário desses e que os outros funcionários só entrem armados. – falou sem hesitar. – Eu disse àquela hora para vocês, o limite da propriedade dá para uma área com mata fechada e é considerada perigosa, um dos motivos pelo qual meu pai mandou construírem cercas e colocarem placas até lá. Mesmo com as precauções alguns animais sempre escapam para esse lado e as vezes as cercas são sabotadas. Já tentamos falar com o dono, mas ele é recluso e não gosta de visitas.
—Que ótimo! – falou Marisol com sarcasmo. – Agora além de uma floresta perigosa e cheia de animais selvagens, também tem um fazendeiro ermitão maluco.
—Você tem certeza que eles ainda não voltaram? – perguntei.
—Verifiquei duas vezes. – falou passando a mão no rosto mostrando o quanto estava nervoso. – As seis horas os funcionários já começam a vasculhar os arredores e pedir para que todos voltem das trilhas. Meu pai impôs esse horário como um toque de recolher depois que um casal foi atacado por um dos animais no ano passado.
Suspirei passando a mão no cabelo e fechei os olhos por um momento, tentando me orientar. Bobagem a minha achar que esse seria apenas um final de semana normal. Normalidade estava se tornando uma coisa rara.
—Esse homem que você falou... Ele é capaz de machuca-los? – perguntei.
—Um ermitão maluco que não gosta de visitas? O que você acha? – falou Marisol alterada. – Deve ser um daqueles velhos barbudos que ficam sentados em uma cadeira de balanço na varanda segurando uma carabina carregada.
Eu não era a única no grupo com uma imaginação fértil.
—Que reconfortante, Sol. – falei.
—Ela não está de todo errada, Safira. – interveio Noah. – Há moradores muito antigos por aqui, e como muitos de cidade pequena, são muito territorialistas e não gostam de estranhos em suas propriedades.
—O que vamos fazer? – perguntei.—Vou separar alguns grupos de busca. – falou. – Eles podem ter se desviado da trilha quando andavam, é muito fácil se confundir com os caminhos, ainda mais quando fica escuro.
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Meu Último Suspiro - O início - Livro 1
Genel KurguDepois de passar um ano na Itália esfriando a cabeça e vivendo seu sonho de viajar para o país que sempre quis conhecer, Safira Delacur sente que finalmente é hora de voltar para casa. Mesmo atormentada por sonhos estranhos e um forte pressentimento...