Capítulo 12

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Mesmo antes de chegar na porta eu já podia ouvir a batida da música, as conversas e as altas gargalhadas, o que era uma pequena amostra do que estava me aguardando lá dentro. Marisol empurrou a porta com um sorriso travesso e assim que tive plena visão do local arregalei meus olhos, não dava para acreditar no que tinham aprontado comigo. O lugar estava lotado com basicamente metade do corpo estudantil do Estadual. Eles estavam espalhados por toda parte nas mais diversas atividades, rindo, bebendo e conversando da maneira que apenas adolescentes fazem, ou seja, muito alto. Me pergunto se o motivo do dono ter deixado a festa ser feita aqui é porque sabia o lucro que teria.
Assim que parei de olhar as pessoas dei uma boa conferida no ambiente, o lugar era realmente tão bonito quanto tinham me falado, um dos bares mais frequentados da cidade. A decoração era simples, mas elegante e jovial, o que tornava o lugar aconchegante, as luzes um pouco fracas davam um ar misterioso e clássico, o que era um combinação interessante. No canto direito havia um pequeno palco onde uma banda preparava seu equipamento para a apresentação da noite, logo atrás deles havia uma enorme faixa branca com letras azuis escrito BEM-VINDA SAFIRA, só essas figuras mesmo para aprontar uma coisa dessas. Logo na frente do palco havia uma pequena pista de dança, um espaço perfeito para quem queria curtir um bom final de noite.
As mesas eram espalhadas por todos os lados naquele estilo cabine, um banco de cada lado e uma mesa no meio, o que era bem legal já que mais pessoas poderiam sentar e não precisaria ficar grudando os lugares caso o grupo fosse grande. A maioria dos lugares já estava ocupado por grupos imersos em conversas animadas e divertidas, o que dava uma clima descontraído ao ambiente. De frente para a entrada ficava o bar, o balcão lustroso era ocupado por algumas pessoas mais solitárias que apenas observavam o movimento. Na parede atrás deles estavam diversas prateleiras com as mais variadas bebidas, desde as mais doces até as amargas. Os Barmans andavam de um lado para o outro fazendo algumas manobras bem elaboradas e deslizando copos, e algumas vezes garrafas, diretamente nas mãos de seus clientes. Fiquei olhando Dimitri rodar uma garrafa de Bourbon e imaginei que trágico fim ela teria, pelo menos nas minhas mãos.
Ao lado do bar ficava a porta da cozinha por onde toda hora alguém passava com uma bandeja, com a casa cheia os funcionários estavam a todo vapor. Mais ao fundo do lado esquerdo e num piso elevado ficavam as mesas de jogos, pelos menos três delas eram de sinuca e outras duas de pebolim, ambos jogos que eu adorava, na parede mais atrás estavam alguns alvos para arremesso de dados, o que eu não me lembrava de já ter visto em muitos lugares. Foi realmente um bom investimento o que Rodrigo fez aqui, além de ser criativo a forma como ele decorou tudo.
Olhei novamente para o palco e depois de um tempo finalmente descobri o grupo que estava lá, na verdade reconheci. Logo abaixo da minha faixa havia outra menor, ela era vermelha e em belas letras pretas se lia LOCOMOTIVE, o nome da banda que Jeff tinha formado com uns amigos alguns anos atrás. O grupo era formado por Thales e Henry, os guitarristas, Danilo, o baterista, Emily, a baixista e segunda voz, e por último Jeff, que era o vocalista e tocava o instrumento que lhe desse na telha. Eu já tinha ido em algumas das apresentações deles quando ainda morava por aqui, confesso que eles eram bons. Emily era loira e vivia com seu cabelo amarrado em um rabo de cavalo, era magra e tão alta quanto o resto dos garotos. Thales tinha aquele ar meio desengonçado da adolescência ainda e seu cabelo era como um arbusto, vivia uma armação que eu não podia deixar de observar, Henry já tinha o visual um pouco mais normal, apesar de seu rosto ter traços mais maduros era só abrir a boca que já deixava claro sua idade, seu cabelo era até na altura dos ombros e sempre achei um injustiça um garoto ter um cabelo liso como o dele.
Jeff tinha mais ou menos o porte dos outros garotos, não era o que se podia chamar de atlético, mas também não chegava a ser magrelo. Seu cabelo escuro era cortado rente a cabeça e a barba muito bem aparada dava um ar mais maduro a ele, seus olhos eram de um castanho escuro e sua pele morena parecia um pouco mais clara desde a última vez que o vi, ou talvez isso fosse resultado do seu visual dark. O All Star surrado era sua marca registrada e nunca o vi com um sapato diferente, vestia jeans preto ralado, uma jaqueta de couro e uma camiseta do ACDC. Ao contrário do que muitos achavam, Jeff não era o galã do colégio metido a estrela do rock, seu rosto tinha traços firmes e muito bem desenhados, não era o tipo de pessoa que poderia ser caracterizada pelo título de bonito ou feio, ele apenas se encaixava, seu jeito animado e louco era o que chamava a atenção das pessoas.
Como se notasse que estava sendo observado ele levantou a cabeça e olhou na minha direção me lançando uma piscadinha. Ele estava falando com sua namorada Camila, ela era um loira de olhos verdes no perfeito estereótipo de modelo, alta e super magra, uma bandana de caveiras prendia seu cabelo longo, a maquiagem forte marcava seus olhos, a roupa não era algo tão chamativo, apenas jeans esquine e uma camiseta preta com alguns desenhos. Ela também fugia dos padrões que as pessoas geralmente julgavam, não era esnobe nem metida, pelo contrário, sempre foi uma garota tímida e reservada. Deixei meu olhar vasculhar as mesas até encontrar a maior e mais animada, ela ficava perto do bar, o que não me surpreendia, e tinha tanto pessoas bem conhecidas quanto algumas que eu nunca tinha visto na vida. Marisol e Ale pareceram encontra-la no mesmo instante que eu já que antes que eu abrisse minha boca elas já estavam me arrastando para lá.
-Então não conseguiu escapar? - perguntou Erick assim que nos aproximamos.
Seus olhos escuros brilhando em diversão ao ver minha careta.
-E perder a oportunidade de ser o centro das atenções? - perguntei fingindo espanto. - Jamais!
Todos caíram na gargalhada já acostumados com o meu humor.
-É a nossa garota! - falou Christopher.
Algo na maneira como ele disse "nossa" fez com que eu relaxasse, eu geralmente me sentia um pouco deslocada em rodinhas, mas quando ele disse aquilo me senti realmente parte do grupo pela primeira vez. Eles não me deixaram em paz um segundo se quer, várias pessoas vieram até nossa mesa me dar boas-vindas, mesmo aquelas garotas que pareciam me lançar ondas de desprezo com o olhar. Fui apresentada as nossas aquisições do nosso grupo, incluindo Natasha, com quem Erick já estava namorando a quase um ano. Ela era um pouco mais baixa do que ele, cabelo de um castanho claro que quase parecia loiro e belíssimos olhos verdes, sua pele tinha um leve bronzeado do verão e se vestia de forma bem simples. Natasha era meiga e simpática, o que fez com que nos déssemos bem logo de cara, fiquei feliz por Erick finalmente encontrar a sua garota, ele nunca teve mais sorte do que eu no amor.
Me encheram de perguntas sobre o que eu tinha passado em outro país e não deixavam de rir dos épicos tombos que cai por lá.
-E os nossos presentes? - perguntou Isaac. - Você trouxe?
Dessa vez quem deu um soco em seu braço foi Elena, sempre zoavam ela por ser uma mistura étnica diferente, loira de olhos verdes com tendência asiática ou indígena, fora que era incrivelmente alta.
-Toma vergonha nessa cara, Isaac. - ralhou ela. - Bicho interesseiro.
-Agora é crime ser curioso? - perguntou esfregando o braço.
-Vou levar amanhã na escola, Isaac. - falei rindo. - Não se preocupe.
-Entregue o dele por último. - falou Sol.
Rimos da careta de Isaac enquanto ele entrava em uma discussão com as duas alegando que era uma injustiça o que estavam fazendo com ele.
-Hey, Safira? - chamou um rapaz nas mesas de sinuca. - Quer jogar?
Ele era alto, talvez por volta de 1,80 m, pele bronzeada, tanto seu cabelo arrepiado quanto seus olhos eram de um castanho escuro, lábios carnudos e um sorriso que com toda certeza poderia seduzir uma boa pare das garotas. Seus ombros eram largos e fortes, porte de atleta, a camiseta vermelha um pouco apertada não escondia que por baixo dela havia um tanquinho. O título cafajeste era quase escrito em sua testa, bastava olhar para as garotas que quase babavam olhando para ele, aposto que faz parte do time de futebol.
-Raymond Batterfild! - falou Sol fazendo uma careta.
Olhei para ela com a sobrancelha arqueada.
-Seu ficante? - perguntei;
-Ta mais para enrolo. - falou Ale.
Marisol parou de brincar com os canudinhos encima da mesa e lançou um olhar zangado para nós duas.
-Da para vocês calarem essa boca? - perguntou de cara amarrada.
Me virei para Raymond que parecia ainda esperar a minha resposta.
-Não sei se é uma boa ideia, Raymond. - falei. - Faz anos que não jogo.
Ele abriu um sorrisinho debochado.
-Está com medo? - provocou.
Estreitei meus olhos para ele e me levantei tirando a jaqueta, nunca recuei diante de um desafio.
-Vai se arrepender de ter me provocado. - falei com um sorriso frio.
Subi os poucos degraus até a mesa de jogos com alguns dos meus amigos junto, logico que eles não iriam perder o pequeno show. Havia alguns garotos ao redor de Raymond, um deles parecia sua versão mais jovem, devia ser o irmão dele que Marisol tinha me falado, Ricardo.
-Tem certeza que quer jogar? - perguntou Raymond sorrindo.
Saquei uma nota de cinquenta do bolso e bati na mesa.
-E se fizéssemos uma aposta? - perguntei.
Ele arregalou os olhos parecendo um pouco surpreso, mas depois sorriu e sacou outra nota de cinquenta e colocou encima da minha.
-Sempre é bom ganhar uma grana a mais. - falou pegando um taco.
Andei até a parede e escolhi o meu.
-Digo o mesmo. - falei.
Peguei o giz e passei no taco, fazia realmente um bom tempo que eu não jogava, sinuca foi um dos jogos que mais gostei de aprender.
-Vinte pratas que o Ray ganha dela. - falou um dos meninos amigos de Raymond.
Christopher sorriu debochado.
-Vinte que o Ray vai levar uma surra. - falou.
O menino olhou para ele um pouco descrente.
-Confia tanto assim na sua amiga? - perguntou.
-Ela joga desde os nove anos. - falou Erick parecendo empolgado. - Aposto nela também.
Apenas sorri e começamos a partida escutando nossos amigos fazendo as apostas, jogar sinuca era como andar de bicicleta, depois que se aprende não esquece jamais. Me diverti com as expressões de Raymond cada vez que eu encaçapava uma bola, ele parecia um tanto frustrado por estar perdendo para uma garota. Um bom tempo depois ele ainda tinha três bolas e eu apenas a bola oito.
-Acho que vou poder fazer umas compras com o dinheiro que vou ganhar. - falei.
Fiz um tripé com a minha mão e me posicionei mirando a bola oito, ela estava perto da caçapa do canto, se eu mirasse bem o jogo já seria meu. Deslizei o taco e fiz a jogada, todos ficamos vendo a bola branca deslizar e golpear a oito a mandando direito para a caçapa, não me lembrava da última vez que fiquei tão feliz por ganhar de alguém. Assim que a bola caiu meus amigos começaram a bater palmas, me virei para Raymond sorrindo enquanto segurava meu taco, ele estava fazendo uma careta, mas também parecia divertido.
-Tenho que admitir, - falou. - você joga bem.
-Fui bem ensinada.
Ele pegou as notas encima da mesa e colocou na minha mão a segurando em um aperto.
- Você mereceu.
Guardei o dinheiro no meu bolso e sorri para ele.
-Quem sabe não te dou uma revanche qualquer dia. - falei.
-Ai meu bolso.
Todos rimos enquanto Evangeline se aproximava, tinha mesmo achado estranho Deniel ter chegado antes dela, eles poucas vezes saiam sozinhos. Minhas dúvidas foram respondidas ao ver uma garota ao seu lado, na verdade eu não fui a única a me virar e olhar para ela. A garota estava mais para modelo do que para um simples aluna, ela era alto e magra, suas curvas muito bem desenhadas, pele com bronzeado impecável, o cabelo loiro-dourado fluía por seus ombros em ondas bem feitas. Seu rosto era anguloso e com traços delicados, elegantes, os lábios bem esculpidos eram carnudos e destacados por um batom rosa, os olhos de um azul bem claro marcados por uma maquiagem bem feita. Vestia uma blusa semitransparente branca e uma mini shorts azul marinho desfiado, o que evidenciava suas belas pernas.
Metade dos garotos ao redor olhava e basicamente babava encima dela, até eu tinha que admitir que ela era bonita, mas não sei porque, tinha algo nela que não me dava uma sensação boa.
-Oi Safira. - falou Evangeline me abraçando.
-Oi Angy. - falei retribuindo o abraço. - Quem é essa?
Ela deu um passo para o lado deixando a garota se aproximar mais da nossa roda, logo de cara não gostei da forma como ela olhou para mim, de uma maneira superior, quase como se sentisse nojo de mim.
-Essa é Vitória Vauffor, minha vizinha. - falou sorrindo. - Ela se mudou para cá a quase um ano.
-Prazer em conhece-la, Vitória. - falei forçando um sorriso amigável.
-Olá. - falou com um sorriso falso. - Então você é a famosa Safira?
Franzi a testa, não gostei nada da forma como pronunciou meu nome, foi quase com desgosto. Eu geralmente me dava bem com a maioria das pessoas, minha antipatia era para poucos e posso dizer que ela já entrou para o pequeno time.
-Eu não diria famosa.
Ela fez um gesto de pouco caso com a mão.
-Que isso, você foi o assunto da escola nesses dois dias.
Olhei para Marisol e Alexandra, pela cara delas eu podia dizer que meu palpite sobre aquela garota estava certo, ela não era nada que preste e minhas amigas pareciam não gostar dela tanto quanto eu. Revirei os olhos, era só o que me faltava agora ter que aturar essa garota como um espinho no meu pé, meu bom humor já estava indo embora e nem tínhamos trocado meia dúzia de palavras.
-Não acho que eu seja mais tão falada assim agora que todos já sabem quem eu sou. - falei.
-Talvez não seja por você e sim por suas amizades. - falou estreitando os olhos.
Estreitei os meus de volta, acho que finalmente entendi o jogo dela. Vitória não queria apenas provocar, ela queria informações. Fiquei impassível e estava pronta para responder quando os olhos de Vitória vagaram para trás de mim e começaram a brilhar.
-Hey cara, que bom que veio. - falou Raymond atrás de mim.
Me virei para olhar o recém chegado e vi Pietro se aproximando, ele estava em seu estilo habitual, jaqueta de couro, camiseta clara e os cabelos em uma bagunça tentadora. Ele cumprimentou Raymond e Christopher com um daqueles toques estranhos típicos de garotos e falou apenas um oi para o resto do pessoal. Acho que agora estava explicado o que tinha prendido a atenção de Vitória, não que eu pudesse culpa-la, mas talvez também explicasse o porquê de sua aparente hostilidade comigo, ela era uma das garotas que gostava de Pietro. Como que para confirmar minhas palavras Vitória começou a ajeitar as roupas e o cabelo ao meu lado, no rosto havia um sorriso discreto e sensual, o que com toda certeza faria muitos garotos caírem aos seus pés.
Estreitei meus olhos, era impressão minha ou o decote dela tinha aumentado?
-Que milagre fez você vir para cá hoje? - perguntou Chris.
Assim que desviei o olhar de Vitória meus olhos encontraram com os de Pietro, um sorriso divertido se desenhou em seus lábios enquanto me encarava.
-Eu não podia fazer desfeita com a dona da festa. - falou.
Não pude conter o sorriso assim que ouvi suas palavras, ao que parecia meu novo amigo era um homem de palavra.

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Nota da autora:

Demorei mais cheguei pessoal, finalmente esta aqui mais um cap para vocês. Sei que demorei e estava sendo um sofrimento para mim também, mas felizmente uma amiga bondosa me emprestou o not dela e eu pude escrever.
Os caps vão voltar semanalmente e segunda já vai ter outro pra vocês.
Este cap vai ser dedicado a Luahfermino, que me atormentou até que eu desse um jeito de escrever. Aqui pra vc Luah.

Espero que gostem.

Boa leitura!

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora