Melhor noite de sono?
Se alguém me falasse isso eu perguntaria se era algum tipo de piada. Me revirei na cama a noite toda sentindo um calor absurdo e sentindo um desconforto que não podia explicar. Acordei com as roupas molhadas de suor e o cabelo grudando desgrenhado na nuca, minha garganta estava arranhando, meu corpo estava todo dolorido e minha cabeça, mesmo que eu ainda não estivesse totalmente desperta, estava começando a doer.
-Acorda dorminhoca! - falou minha mãe. - Já está na hora de levantar.
Esfreguei a nevoa do sono dos meus olhos e ajustei minha visão até encontrar minha mãe. Ela estava não muito longe colocando uma pilha de roupas limpas no meu sofá, o cabelo curto estava preso em um rabo de cavalo, vestia apenas uma legging preta e uma blusa um pouco mais comprida vermelha, o que indicava que não iria trabalhar hoje.
-Acorda filha. - falou ela novamente. - Levanta e vem me ajudar no serviço.
-Mãe... - minha voz estava horrível e não pude deixar de fazer uma careta pela dor. - Não estou me sentindo bem.
Seus olhos azuis se voltaram para mim com preocupação enquanto ela andava até o meu lado na cama. Ela colocou a mão na minha testa e bochecha e depois franziu a testa.
-Está com febre. - falou.
-Minha garganta e minha cabeça estão doendo. - falei.
-Acho que você está com...
Antes que ela terminasse de falar, eu espirrei.
-Gripe. - falou chacoalhando a cabeça. - E vendo as roupas molhadas estendidas no seu banheiro, acho que sei porque.
-E me molhei no meio do dia quando ajudei Dimitri a lavar o bar.
Ela apenas chacoalhou a cabeça enquanto olhava para mim em desaprovação, mas logo estava sorrindo. Minha mãe sabia o quanto eu era ruim em relação a doenças, para me derrubar apenas uma gripe muito forte ou virose. Médicos nunca foram uma das minhas primeiras opções e mesmo que odiasse tomar remédios, preferia isso do que ir no posto de saúde.
-Que tal você ir tomar um banho para ver se baixa essa febre enquanto procuro um remédio? - perguntou.
-Gosto dessa ideia. - falei com a voz rouca.
Empurrei as cobertas e sai da cama sentindo como se tivesse sido atropelada. Peguei roupas limpas na gaveta, e fui para o banheiro enquanto minha mãe saia do quarto. Como ia ficar em casa mesmo, não fui muito criativa na escolha, peguei uma calça de pijama e uma regata. Meu rosto estava pálido, minhas olheiras estavam bem escuras e minhas bochechas tão vermelhas quanto se eu tivesse levado tapas, que ótima aparência. Tomei banho na água gelada, lavei meu cabelo e depois o sequei da melhor forma que pude, apenas para não deixar encharcado.
Quando sai do banheiro minha mãe já estava me esperando com um copo de água e dois comprimidos.
-Peguei um anti-inflamatório e outro para dor. - falou me entregando o copo e um dos comprimidos.
-Já vai servir.
Tomei os dois comprimidos fazendo careta por causa da dor na garganta.
-Porque não vai ficar lá na sala enquanto eu termino o serviço aqui encima? - perguntou minha mãe. - Se deitar na sua cama do jeito que está agora, vai ficar pior.
-Tudo bem.
Peguei um dos box da série Sobrenatural que eu tinha, dei um beijo em minha mãe e sai do quarto. Já que não estava a fim nem de andar, pelo menos podia curtir um dos meus seriados favoritos, mesmo que já soubesse a maioria dos episódios decor. Coloquei a caixa encima do sofá e fui para a cozinha, mesmo que minha garganta estivesse me matando, meu estômago estava clamando por comida. Fiz um copo de leite com café e peguei um pedaço de bolo de chocolate que parecia delicioso encima da mesa. Eu poderia sofrer para comer, mas valeria a pena.
Preparei tudo para começar uma boa maratona de episódios, arrumei o DVD, puxei uma manta que estava jogada em um dos sofás e me enrolei nela segurando minha comida.
-Maninha, você pode... - começou meu irmão chegando na sala, mas parou assim que me viu enrolada na manta. - Ué, você não ia ajudar a mamãe?
-Eu ia, se estivesse aguentando comigo mesma.
-E o que você tem? - perguntou se apoiando nas costas do sofá.
-Gripe, dor de garganta...
-Os velhos companheiros de sempre.
Ele sorriu e deu um beijo no topo da minha cabeça.
-Logo você melhora.
-É o que espero. Mas então, o que você ia pedir?
-Ahn.. - falou olhando para a TV, já concentrando no que passava. - Nada demais.
Olhei bem para o seu rosto e chacoalhei a cabeça, quem ele achava que podia enganar? Cuidei dele a minha vida toda, ainda chegaria o dia que ele poderia me enrolar.
-A chave está encima da minha escrivaninha. - falei. - Apenas não estrague meu carro.
Ele arregalou os olhos e se voltou para mim.
-Como sabia que era isso que eu ia pedir? - perguntou com surpresa.
-Sou sua irmã mais velha. - falei tomando meu café e fazendo uma careta de dor. - Te conheço melhor que ninguém.
-Ponto pra você.
Falando isso, ele levantou meus pés e se sentou onde antes eles estavam, os colocando em seu colo.
-Então agora tenho um tempo até a hora de sair. - falou.
-É hoje aquele aniversário?
-Sim, lá pelo meio-dia tenho que ir.
-Hum... - falei enquanto comia um pedaço de bolo. - Então você podia trazer a Jasmine para almoçar aqui amanhã.
Mesmo que seus olhos estivessem fixos na TV, vi um leve desconforto passar por seu rosto.
-Não sei... Talvez.
Parei por um momento e comecei a rir, o que não foi algo muito inteligente, já que minha cabeça começou a doer mais.
-Está com medo de trazê-la aqui? - perguntei. - Está com medo que ela me conheça?
Ele tomou o controle das minhas mãos e deu pause na TV. Mexia com os dedos de forma inquieta, uma característica que nós dois tínhamos quando estávamos nervosos.
-É mais assustador ela conhecer você do que a mamãe. - falou.
-Jacob, eu não vou xingar a garota ou algo do tipo. Você me conhece. - falei fazendo com que ele olhasse para mim. - Como vou saber que tipo de pessoa ela é se não conhece-la? Apenas quero conhecer a garota que vai me ajudar a cuidar do meu irmão.
Ele encarou seriamente por um tempo, sua expressão relaxando enquanto um sorriso começava a tomar forma.
-Tudo bem, tudo bem. - falou em rendição. - Amanhã eu trago ela para almoçar e apresento vocês duas.
-Agora eu tenho mais um bom motivo para ficar boa da gripe.
Um sorriso travesso apareceu em seu rosto enquanto eu dava mais uma golada no meu café.
-Então...
-O que foi dessa vez? - perguntei.
-Quando você vai trazer o Pietro aqui em casa para a gente conversar?
Quase cuspi leite com café pelo nariz, o que teria sido uma cena nada agradável. O leite passou reto pela minha garganta e senti meus olhos enchendo de lágrimas por causa da dor. Jacob tomou o copo das minhas mãos e segurou meu ombro enquanto meu corpo se sacudia em uma tosse.
-Jacob! - resmunguei enquanto voltava ao normal.
-Hora ruim para fazer piada? - perguntou com olhar inocente.
-Apenas aperte o play e fiquei quieto.
Rindo da minha reação, ele deu play no DVD e voltamos a assistir. Minha vida agora era assim, eu ser zoada por todos os meus amigos e familiares. Olhe que eles nem sabiam o que tinha acontecido na noite anterior. Pelo menos ainda não sabiam.
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Meu Último Suspiro - O início - Livro 1
Ficção GeralDepois de passar um ano na Itália esfriando a cabeça e vivendo seu sonho de viajar para o país que sempre quis conhecer, Safira Delacur sente que finalmente é hora de voltar para casa. Mesmo atormentada por sonhos estranhos e um forte pressentimento...