Capítulo 54

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Eu não queria que aquilo parecesse fazer tanto sentido. Mas fazia. Poderia parecer uma mentira, eu queria que fosse uma mentira, mas se eu parasse para pensar em todas as esquisitices que vinham acontecendo comigo nas últimas semanas, não havia como negar o que estava diante dos meus olhos. Não havia como negar a mais pura e terrível realidade.

"Eu sou um vampiro.".

Essas palavras reverberavam na minha mente como uma melodia infernal. E as provas delas estavam bem ali, a verdade estava ali, sua transformação, gravada atrás das minhas pálpebras e visível toda vez que eu fechava meus olhos. Eu sempre tinha visto coisas estranhas, acreditado nelas, e Deus sabe quantas coisas aparentemente inexplicáveis tinham acontecido na minha vida nas últimas semanas, mas a mera possibilidade de realmente haver criaturas sobrenaturais vagando pelo mundo parecia demais para lidar. Eu podia não ter gritado, desmaiado ou coisa do tipo, mas parecia estar à beira de um ataque de pânico. Eu não conseguia me controlar. Minha pele estava quente, meu corpo todo tremia e eu não conseguia respirar, e isso não era por causa da minha recente corrida. Era como se algo estivesse pressionando meu peito e impedindo o ar de passar. Minha visão estava embaçada e eu mal conseguia pensar, tudo era uma confusão de imagens e pensamentos.

Me apoiei na primeira parede que encontrei, nem sabendo ao certo como cheguei do lado de fora da escola, e encostei minha testa nela fechando os olhos, esperando que a brisa gelada me ajudasse. Eu não me importava com a neve caindo em mim ou com o frio, tudo que eu queria era conseguir calar o turbilhão de emoções e sentimentos que me sufocavam.

—Safira... Safira.

Foi tão baixo que por um momento achei que pudesse ser coisa da minha cabeça, mas o som parecia muito claro, como se visse do lado. E então, tão repentinamente como veio, minha crise passou. Levantei minha cabeça lentamente e respirei fundo, ainda com os olhos fechados e feliz por sentir pouco a pouco meu corpo parar de tremer.

—Safira...

Girei minha cabeça e abri meus olhos de uma vez. A voz parecia mais forte, mais clara, mas ao olhar para o estacionamento escuro e deserto não encontrei ninguém.

—Safira...

Foi quase como um sussurro no meu ouvido e dessa vez ela não parecia apenas mais alta, mas também perturbadoramente familiar. Uma voz com a qual eu não tinha convivido muito tempo, mas tinha sido o bastante para que eu pudesse reconhecê-la.

—Noah? – chamei com hesitação.

Por um momento todas as outras preocupações sumiram e eu me pus a olhar em volta à sua procura, porque onde quer que fosse ele não devia estar muito longe.

—Safira. - falou novamente com dificuldade, como se sentisse muita dor. - Por favor, me ajude.

Pelo canto do olho vi um arbusto se mexer e pude enxergar o vulto de uma mão.

—Noah? - chamei novamente, dessa vez com mais força na voz.

Esperei, mas não ouve resposta. Eu podia não estar no meu melhor momento, nem estar pensando com muita clareza, podia nem ser a ideia mais inteligente que já tive, mas caminhei em direção ao som da voz. Havia uma trilha ali que levava para a floresta que ficava atrás da escola, da qual era separada apenas por um muro alto de tijolos, um lugar que a maioria dos alunos aproveitava para fazer alguma coisa que não estava nas regras, como usar drogas e dar amassos. Não precisei andar muito para encontrar a trilha e graças a neve também foi fácil achar uma trilha fresca de sangue, o vermelho se destacando contra o branco. Eu sabia que devia voltar e pedir ajuda, sabia que algo ali parecia estar muito errado, mas ao invés de seguir mais um dos sábios conselhos da minha consciência, eu abracei a mim mesma por causa do frio e caminhei rumo a floresta.

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora