Fiquei quase uma hora sentada debaixo das árvores com a câmera nas mãos enquanto encarava o horizonte. Eu tinha passado por um pequeno momento de estresse andando de um lado para o outro até tropeçar em uma pedra e quase perder uma unha para ela, até finalmente ver que sentada seria uma melhor forma de ficar enquanto eu pensava. Girei a câmera em minhas mãos e pela milésima vez tentei entender o que poderia ter levado Pietro a agir daquela forma. Ele estava bem quando me pegou, parecia até mesmo muito animado, ele estava sorrindo bastante, algo que nem era tão comum assim e nossa conversa tinha sido tranquila, o que tornava difícil eu tirar alguma conclusão. Sei muito bem que ninguém escolhe o momento em que vai passar mal, mas francamente, até mesmo para esses parâmetros o comportamento dele tinha sido muito estranho. O que também não estava mais sendo uma novidade. Difícil mesmo estava sendo achar alguma coisa muito comum nele.
Percebendo que ficar ali olhando a paisagem e girando aquela câmera não iria resolver nada, me levantei e bati a grama da minha calça, peguei minha bolsa que estava encostada na árvore e virei rumo a trilha pela qual tínhamos vindo. Nunca fui o que poderia ser chamada de ótima em me orientar, mas tinha uma mente boa o suficiente para memorizar detalhes que era muito útil para que eu não me perdesse. A caminhada até a casa de Pietro não ia ser curta, mas eu precisava saber o que estava acontecendo e, se fosse desculpa o bastante, devolver sua câmera. Então, decidida, coloquei meus fones de ouvido, liguei o modo aleatório e deixei que as músicas tocassem enquanto caminhava. Levou uns vinte minutos, mas o percurso nem pareceu tão longo assim. O sol já tinha esquentado e eu sentia uma gota de suor escorrendo por minha nuca, fora uma necessidade desesperada de beber água, mas aguentei até chegar ao gramado da elegante casa. O carro de Pietro estava parado logo ali na frente, mostrando que ele estava em casa, seguido de um belo Mercedes prata que talvez fosse de sua irmã. Eu podia ouvir vozes vindo da casa, eliminando pelo menos uma de minhas suposições, de que ele tivesse ficado ruim o suficiente para ir ao hospital.
Hesitei um pouco diante da porta, nervosa. Eu talvez não devesse ter vindo até aqui, mas agora que já tinha percorrido todo esse caminho, não tinha mais como voltar a trás. Respirei fundo e bati na porta, o som soando um pouco alto demais e fazendo com que as conversas lá dentro parassem, esperei um minuto e bati de novo, dessa vez ouvindo passos vindos na minha direção. Em menos de dois minutos a porta se abriu e o rosto de Evelyn surgiu pela fresta. Ela estava com o cabelo curto preso em um pequeno rabo de cavalo, estava sem maquiagem e usava roupas bem simples, apenas um short jeans desfiado e uma camiseta branca de uma banda que eu não conhecia. Ela cheirava a ervas e flores. Mesmo simples daquele jeito, ela parecia que poderia ir para qualquer festa e estar totalmente adequada.
Eu tentei abrir um sorriso, mas seus olhos arregalados e a expressão surpresa fizeram com que eu congelasse o gesto simpático.
—Oi... Safira. – falou um pouco hesitante. – Que surpresa.
Ela sorriu para mim, mas isso não encobriu o quanto ela parecia inquieta e talvez até... Nervosa com a minha presença. Estranho.
—Oi Evelyn. – falei torcendo meus dedos. – Desculpe atrapalhar você, é que...
Eu me calei assim que, ao se mover um pouco para o lado, ela abriu mais a porta e permitiu que eu visse a sala. Havia no total quatro pessoas na lá, o que explicava as conversas que eu tinha ouvido. Stefan estava sentado em um sofá de dois lugares, provavelmente onde Evelyn também estava sentada, e em um poltrona ao seu lado estava um garoto que eu nunca tinha visto. Ele provavelmente tinha a minha altura e era bem magro, sua pele era pálida e seus cabelos eram acobreados e revoltados, em uma mistura até interessante. Vestia jeans escuros e uma camiseta preta, o que destacava sua pele, assim como algumas sardas que tinha nos braços e rosto. Seus olhos tinham um estranho tom de caramelo e eram emoldurado por cílios espessos, que quase formavam uma sombra nas pálpebras, seus lábios eram finos e ele os franzia toda hora, em uma mistura de irritação e divertimento. Seus traços eram o que podia se chamar de simples, mas diferentes, tinha feições magras, um nariz reto e queixo arredondado, não mostrando nada de grandioso ou marcante de sua descendência, mas por mais estranho que parecesse isso o fazia parecer bonito e interessante. No sofá maior estava Pietro, vestia agora uma camiseta cinza e uma calça preta, os cabelos úmidos mostrando que provavelmente tinha saído do tamanho a não muito tempo. Ele passava uma mão no rosto e tinha a testa franzida, parecendo ao mesmo tempo frustrado e envergonhado. Sentada ao seu lado e acariciando suas costas com uma expressão carinhosa como se o consolasse, estava Vitória. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo e ela vestia um vestido florido que poderia torna-la quase delicada, se eu não soubesse sua verdadeira natureza.
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Meu Último Suspiro - O início - Livro 1
Fiction généraleDepois de passar um ano na Itália esfriando a cabeça e vivendo seu sonho de viajar para o país que sempre quis conhecer, Safira Delacur sente que finalmente é hora de voltar para casa. Mesmo atormentada por sonhos estranhos e um forte pressentimento...