O rosto de Noah não saia da minha mente desde o momento do refeitório e mais de uma vez me perguntei se esse era um dos indícios da loucura. Eu sempre vi coisas que não sabia explicar, ouvia e até mesmo adivinhava, principalmente desde que tinha voltado para casa, mas agora era diferente, isto era diferente. Eu nunca tinha visto algo tão real como aquilo. Como se eu já não tivesse esquisitisses o bastante na minha vida. Chacoalhei a cabeça para me livrar daqueles pensamentos soturnos e voltei a me olhar no espelho para terminar de me arrumar.
Marisol tinha conseguido persuadir sua chefe a lhe dar o dia de folga e, em consequência disso, também foi falar a com minha e juntando a empolgação das duas para que eu tivesse uma vida social mais ativa, acabei sendo dispensada do trabalho pelo resto do dia. Buscamos nossos vestidos e depois disso Marisol me arrastou de loja em loja em busca do sapato perfeito até o dia chegar ao fim. Agora estávamos no meu quarto, nos aprontando para o baile, e ela estava transformando ele em uma zona de guerra. Sempre me perguntei como ela conseguia bagunçar tanta coisa para se arrumar, e dessa vez ela nem iria precisar escolher a roupa com a qual iria, se precisasse as coisas seriam muito piores. Eu já estava basicamente pronta enquanto tudo que ela tinha arrumado até agora era seu cabelo, emoldurado em uma trança cascata feita pela minha mãe e cachos negros e selvagens que eu tive toda a paciência de modelar. Marisol de fato era a pessoa mais enrolada que eu conhecia.
Ajeitei meu vestido mais uma vez e me avaliei. Ele era todo preto e de certa forma até um pouco simples, seu comprimento ia até um pouco acima dos joelhos e solto da cintura pra baixo, modelando meu corpo. O decote era em formato de coração e as alças grossas, dando um caimento perfeito. Nas costas havia um decote um pouco mais ousado no qual havia tiras transpassadas feitas de contas prateadas. Eu tinha escolhido uma sandália preta com tiras pra amarrar no tornozelo e minha mãe tinha arrumado meu cabelo, fazendo uma trança e depois elaborando um elegante coque do qual escapava alguns fios. Minha maquiagem era escura, deixando meus olhos de um azul mais claro e vibrante. Para fechar havia o colar que Marisol havia me dado no final do dia de compras, em uma tentativa de se desculpar por me arrastar de um lado para o outro. Ele era delicado, dourado e oval e no meio dos entalhes, como destaque principal, havia uma grande pedra vermelha. Ele era único e perfeito.
—É realmente muito lindo. - falei tocando no colar.
Marisol olhou para mim por cima do ombro e sorriu carinhosamente.
—Amiga, você que está linda. - falou. - Pietro é um cara de muita sorte.
—Obrigado! - sorri agradecida pra ela. - Que horas Diego vem buscar você?
—Ele não vem mais.
—O que? - perguntei de olhos arregalados. - Como assim não vem mais?
Marisol continuou a se maquiar, dando os retoques finais e não parecendo chateada com a situação, o que era estranho já que ela vinha me falando sobre ir ao baile com ele a dias.
—Porque aparentemente ele tem o pior irmão do mundo. - explicou. - David vive pegando o carro dele escondido e dessa vez além de pega-lo, ele também estragou o Jeep e não contou nada para o Diego, que foi descobrir isso hoje de manhã pouco antes de ir pra escola. O mecânico disse que não vai ficar pronto a tempo e David já pegou o carro da mãe deles.
—Aposto que fez de propósito porque sabia que Diego vai com você. - falei um pouco zangada.
Ela deu de ombros, como se não fizesse diferença.
—Ele falou que conseguiu concertar a moto velha que eles têm na garagem e vai com ela, falou para nos encontramos no baile. - ela caminhou até onde seu vestido estava encima da cama e o olhou de forma admirada, quase apaixonada, mas eu sabia que não era na roupa que ela estava pensando. - Ele disse que uma moto não é o jeito certo de levar uma garota ao baile e que não iria acabar com toda a minha produção porque o irmão dele é um completo babaca.
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Meu Último Suspiro - O início - Livro 1
Fiksi UmumDepois de passar um ano na Itália esfriando a cabeça e vivendo seu sonho de viajar para o país que sempre quis conhecer, Safira Delacur sente que finalmente é hora de voltar para casa. Mesmo atormentada por sonhos estranhos e um forte pressentimento...