Capítulo 25

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Infelizmente não consegui ganhar a corrida até meu quarto já que tive que parar para pegar minha bolsa, o que apenas fez com que Marisol voasse escada acima e fosse a primeira a tomar banho. A garota se tornava uma ninja quando o assunto era banho. Enquanto ela cantarolava no chuveiro junto com as músicas de seu celular, um hábito já, Alexandra e eu fomos revirar meu armário. Mesmo que andassem precavidas para qualquer emergência, ela e Marisol nunca estavam inteiramente satisfeitas com suas escolhas de roupas, então apelar para meu armário parecia uma boa opção.
Alexandra me contava algumas coisas sobre como andava seu namoro enquanto avaliava minhas camisas. Ela e Christopher já estavam a quase três anos juntos, e apenas olhando para eles, mesmo que algumas de suas atitudes me deixassem confusa, dava claramente para notar o quanto o relacionamento deles era forte e o quanto se amavam.
-... o Chris ta contando que pode ganhar uma bolsa, mas se não ganhar, ele me disse que vem guardando um dinheiro para ajudar os pais dele na mensalidade. - falou pegando uma camisa vermelha.
-Ele consegue sim, Ale. - falei mexendo nas prateleiras. - Christopher sempre gostou de pensar um passo à frente de tudo.
-Eu sei é só que... - ela ficou mexendo na camisa. - Estou um pouco assustada, sabe? Parece que esses anos passaram tão rápido e agora eu não sei bem o que fazer. Colégio, faculdade, uma nova cidade, namoro...
Um pensamento me ocorreu enquanto ela franzia a testa para um de meus casacos, eu ainda não tinha entregue os presentes que tinha trazido para meus amigos, com toda confusão dos últimos dias eu nem tinha mais me lembrado. Puxei duas sacolas roxas do fundo do armário enquanto olhava para cima e sorria para ela.
-Você sabe o que quer fazer? - perguntei. - Tem certeza de tudo que quer para o seu futuro?
-Bom, certeza de tudo não, mas de uma boa parte sim. - respondeu.
-E do que você tem certeza?
-Eu quero ir cursar Designer, conseguir um emprego de meio período para ajudar nas contas... Quero planejar o meu futuro com o Christopher, porque sei que não vai existir outro na minha vida.
Sorri para minha amiga que tinha um brilho apaixonado nos olhos.
-Então não tem do que ter medo. - falei puxando as sacolas até seus pés. - Apenas aproveite.
Alexandra olhou para as sacolas com a testa franzida.
-O que é isso? - perguntou.
-O presente que fiquei de entregar e acabei esquecendo.
Ela se abaixou e começou a revirar as sacolas, tirado de dentro de uma delas uma caixa azul escura. Comecei a sorri enquanto ela abria a caixa e seus olhos se arregalavam.
-Isso é...
-O sapato que você queria quando estávamos no primeiro ano? Sim.
Dando alguns pulos e gritinhos histéricos que me fizeram sorrir, Ale ergueu o par de saltos que vinham sendo seu sonho de consumo a alguns anos. Eles eram azuis e tinham bolinhas brancas, eu não sabia bem se tinha 10cm ou 15, mas o brilho nos olhos da minha amiga me mostrou que isso não importava.
-Como você conseguiu?!
Comecei a sorri enquanto separava minhas roupas.
-Mostrei meu desenho para minha tia, que mostrou para uma amiga estilista e a mesma se dispôs a fazer um favor para mim.
Ela jogou os braços ao meu redor e me deu um abraço tão apertado que fez minhas costelas doerem. A garota podia ser magra, mas tinha um aperto de ferro.
-Obrigado, amiga.
-Por nada... Agora posso voltar a respirar?
Ela se afastou de mim sorrindo e voltou para suas sacolas. Peguei uma calça jeans azul claro, uma blusa de mangas cinza e uma jaqueta de couro marrom que eu tinha ganhado de Lesly em meu aniversário. Coloquei minhas roupas encima da cama e estava pronta para ir procurar minhas botas quando meu celular tocou em algum lugar dentro da minha bolsa. Revirei os bolsos e com muito custo, achei meu celular brigando com a mola do meu caderno, eu tinha que começar a tomar mais cuidado com onde o colocava. Comecei a resmungar, mas parei assim que vi o nome no visor e um sorriso se abria em meu rosto.
-Oi Les.
-Oi prima, - falou a voz familiar. - como você está?
-Bom, estou bem no limite do possível. Ou pelo menos tentando que as coisas fiquem bem.
-Eu soube da sua amiga, sinto muito. - falou um pouco hesitante. - Eu tinha ligado para você e o Jake atendeu e me contou o que aconteceu. Agora entendi porque não ligou antes.
-Ele não me contou que você tinha ligado. - falei franzindo a testa.
-Não tem problema, Sa. - falou sorrindo. - Você atendeu agora e ta tudo bem.
Me sentei na cama e olhei pela janela um pouco desconfiada, Lesly estava muito calma para o meu gosto, não que ela fosse exatamente eufórica, mas essa calmaria toda era motivo para se desconfiar.
-E o que você ta querendo me contar? - perguntei.
-Eu voltei a falar com a Angy um dia depois de você ir embora. - falou. - Ela veio aqui em casa e conversamos, pedimos desculpas uma para a outra e agora somos inseparáveis novamente.
-Isso é muito bom Les, mas... O que mais aconteceu?
-Porque acha que tem mais alguma coisa?
Sorri, eu tinha certeza que ela estava mexendo no cabelo, um habito que tinha quando ficava nervosa.
-Porque não nasci ontem e conheço você muito bem.
Ela suspirou.
-Tudo bem, é o Anthony. Nós conversamos bastante depois que você foi embora e ele até passou a noite aqui em casa, assistimos filmes, comemos bobagens e ele me animou. - prendi meu sorriso enquanto escutava. - Eu sai com Jason algumas noites atrás e... Não me diverti com ele nem a metade do que me diverti com o Tony, não importava o quanto ele se esforçasse.
-E...
-Eu estava voltando com ele do Colégio, digo, com o Tony e... Passamos em frente aquela barraquinha de flores que tem no caminho, tinha as minhas rosas favoritas lá dessa vez e o Tony comprou uma pra mim. Eu ia agradecer ele quando ele... Ele me beijou.
Fiquei parada por um momento, a boca aperta e os olhos encarando o vazio com espanto.
-Eu não sei o que aconteceu comigo, eu fiquei assustada e acabei saindo correndo. - continuou ela. - Ele apareceu em casa no outro dia e veio me pedir desculpas por ter feito aquilo, mas... Meio que eu acabei beijando ele. Tipo, eu não tinha conseguido parar de pensar naquele beijo, a noite toda e ele apareceu todo fofo me pedindo desculpas e... Eu apenas não sei o que fazer e to apavorada.
-Me dê só um minuto para eu soltar os fogos que já volto para te dar um conselho.
Ela parou por um momento.
-Safira!
-Meu nome. - falei rindo.
-Você sabia disso? Sabia o que ele sente por mim? - perguntou nervosa.
-Les, acho que até os mendigos sabiam disso. - respondi. - Só você que não notava.
-Eu fiquei perdida quando ele se declarou e agora não sei mais o que fazer.
-Primeiro pense. Você gosta dele realmente? Não como alguém importante na sua vida, mas como um cara que você quer do seu lado. - falei ajeitando minhas roupas encima da cama. - O que você sentiu quando beijou ele?
Ela ficou em silencio por um tempo.
-Que eu preciso e quero ele na minha vida.
Abri um sorriso cheia de orgulho.
-Então está ai sua resposta.
-Como consegue me aconselhar sem basicamente dizer nada? - perguntou sorrindo.
-Porque na maioria das vezes, a resposta está em nossas perguntas.
-Filosofia de escritora. - falou e eu sorri.
-Estou feliz por vocês Les. - falei. - Anthony é um ótimo garoto.
-Obrigado e... Por falar em garoto, que é esse que anda mexendo com sua cabeça em?
Quase deixei o celular cair, o que chamou a atenção de Marisol que estava saindo do banheiro.
-Como é? - perguntei incrédula.
Lesly gargalhou do outro lado.
-As notícias correm, prima. - falou empolgada. - Marisol me mandou mensagem.
Fuzilei minha amiga que me sorria inocente do outro lado do quarto. De inocente Marisol só tem a cara mesmo. Apontei para os fundos do armário onde estavam as sacolas com seus presentes e voltei para minha ligação.
-Então... Quem é ele?
-É apenas um garoto que conheci e com quem fiz amizade. Nos damos bem, temos muito em comum...
-Nome, de onde é? ...
-Pietro e ele é de Veneza.
-Interessante... Se conhecem a quantos dias? Quando vão começar a namorar?
-Uou, uou... Vai com calma ai. Nos conhecemos no dia que cheguei e meio que brigamos ontem, então não sei se vamos voltar a nos falar.
Tocar no assunto me desanimou um pouco e, mesmo que eu gostasse de conversar com Lesly, preferi omitir alguns fatos que ela com toda certeza não entenderia.
-Da para perceber na sua voz que você gosta dele, além disso... - falou. - Você não consegue ficar brava por muito tempo com as pessoas de quem gosta. Um defeito seu que adoro.
Sorri, eu não podia discordar dela.
-Mas mudando de assunto, como está a Charlotte? Teve alguma notícia dela?
Eu sentia muita falta daquela francesa maluca. Tinha tentado até falar com ele pelo telefone, mas esse vivia fora de área, o que levando em consideração a sorte que minha amiga tinham com celular, não era nenhuma surpresa.
-Estou muito bem, obrigada. - falou uma voz doce com sotaque francês.
Não consegui conter meu sorriso.
-Bom saber, sua sumida. Pelo visto recebeu minha carta.
-A Carta, você quer dizer, Cher. Ninguém escreve como você. - falou sorrindo. - Mas agora um assunto sério, como você está realmente?
Suspirei, Charlotte sempre foi boa em enxergar o que eu escondia.
-Seguindo o conselho que você me deu na última vez que nos vimos. - falei. - Aprendendo o sentido da vida, explorando os momentos que surgem na minha vida, me focando menos em coisas pequenas e sorrindo mesmo quando não quero.
-É assim que se faz. - falou com orgulho. - Mas e quanto esse garoto, o que aconteceu?
Dei um resumo rápido do que tinha acontecido para ela, que apenas escutou tudo sem me interromper nenhuma vez.
-Olha, - falou quando terminei de contar. - está na cara que vocês precisam conversar um pouco mais e talvez isso seja uma boa. Você é uma garota forte e durona, mas como nossa pequena bem lembrou aqui, não consegue ficar brava com ninguém que gosta por muito tempo. Você já impôs sua opinião para ele, deixou sua posição bem clara e nem posso dizer o quanto estou orgulhosa... - rimos. - Mas agora que o tempo passou um pouco, se ele for conversar com você novamente... Apenas tenha a paciência que você sempre tem e conversem.
Me peguei sorrindo enquanto olhava Marisol e Alexandra discutindo sobre quais roupas que iriam usar. Charlotte me conhecia bem, mesmo no pouco tempo que tínhamos convivido, não chegava a ser como Sol e Ale, mas chegava bem perto, era uma amiga muito querida. Sendo bem mais louca e impulsiva que Marisol, Char as vezes agia como minha irmã mais velha, uma demonstração de carinho sua que nunca dispensei.
-Obrigado, Char.
-Por nada, cher.
-E... O que aconteceu com seu celular? Tentei te ligar e dá apenas fora de área.
Ela bufou.
-Aquela máquina diabólica com toda certeza não foi feita para mim...
Fiquei rindo por um tempo enquanto conversava com ela e com Lesly, o sotaque de Charlotte sempre ficava mais forte quando ela estava nervosa, o que, se não fosse pelo tempo de convivência, eu não entenderia metade do que ela falava.
-Gente, foi bom falar com vocês, mas... - comecei assim que Alexandra saiu do banheiro. - Eu e as meninas vamos sair, então tenho que ir me arrumar.
-Tudo bem, você merece se divertir um pouco. - falou Lesly.
-Se tiver muitos gatinhos por ai, me avise que vou lhe fazer uma visita. - falou Char.
Ri.
-Pode deixar que aviso sim. Um beijo para todo mundo ai, nos falamos logo e... Amo vocês.
-Pode deixar. - falou Lesly. - Beijo, também te amo.
-Je t'aime, cher. - falou Charlotte. - Baisers.
-E qualquer novidade pode ligar, dane-se o fuso horário. - falou Les.
-Tudo bem, tchau meninas.
-Tchau.
Joguei meu celular de lado na cama e comecei a me preparar para tomar banho.
-O que fiz para merecer o olhar mortífero? - perguntou Sol pegando uma saia na sacola.
Ela não era exatamente curta, mas era grossa e de couro, com zíperes laterais que me chamaram atenção assim que coloquei os olhos naquela saia.
-Por você fazer fofoca para a Lesly. - falei.
Sol apenas deu de ombros.
-Alguém tinha que manter ela informada.
Revirei os olhos.
-Agora chega de enrolar e vai logo tomar banho. - falou me empurrando na direção do banheiro. - Não quero chegar muito tarde.
-Quem tava tomando banho de princesa aqui não era eu. - resmunguei.
-Mas você também não foge da regra, agora vai.
Mostrei a língua para elas e fui em direção ao banheiro.
-Por nada, viu. - falei enquanto fechava a porta.
-Também te amamos. - responderam as duas sorrindo.

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora