Eu não proferi uma única palavra o caminho todo de volta a cidade e as meninas não insistiram em conversas. Eu só queria minha casa, a minha família e esquecer que quase todo o meu final de semana tinha acontecido, queria ocupar minha mente com qualquer coisa que não fosse Noah ou a garota coberta de sangue. Marisol e Alexandra não viram a minha situação depois que peguei meu caderno e vi aqueles desenhos, foi Pietro quem entrou no meu quarto me procurando preocupado, que me encontrou sentada no chão chorando e os restos do meu caderno de desenho espalhados por todos os lados. Foi ele quem, ao invés de me perguntar o que estava acontecendo, pegou todos aqueles papeis e os jogou no lixo, que terminou de guardar minhas coisas e arrumar minhas malas, foi ele quem sem dizer uma única palavra, apenas se sentou no chão ao meu lado e me deixou chorar toda a avalanche de emoções que eu vinha sofrendo desde que tinha chegado. Ele não disse nada, apenas ficou lá, me dando toda a privacidade do mundo e ainda assim não me deixando sozinha.
Quando me recompus eu perguntei a ele porque não tinha me perguntado nada e ele apenas sorriu, acariciou meu rosto com a ponta dos dedos e deu um suave beijo na minha testa antes de se levantar.
-Porque as vezes, meu anjo, a coisa que você mais precisa não é falar, mas sim ter apenas alguém ao seu lado que entenda as suas lágrimas sem precisar de explicação. - falou me olhando de cima e me estendeu a mão para me ajudar a levantar. - Porque as vezes, você só precisa saber que alguém se importa.
As meninas tinham me encontrado quinze minutos depois disso, já recomposta e pronta para ir embora o mais rápido que eu pudesse. Agora eu estava aqui, finalmente parada na frente de casa, mas ao invés de estar feliz eu só me perguntei quando esse pesadelo teria fim quando vi o delegado encostado em seu carro que estava parado na calçada. Independente do que ele estivesse fazendo ali, eu sabia que não podia ser sobre nada bom.
-O que ele está fazendo aqui? - perguntou Marisol olhando de olhos semicerrados para o delegado.
-Talvez queira fazer mais algumas perguntas sobre o caso. - falou Alexandra.
-Mais algumas perguntas? - falou Marisol com irritação. - Faltaram perguntar o número que ela calça e quantas vezes vai ao banheiro. Não vejo porque ela tem que passar por tudo isso.
Suspirei, já cansada de tudo aquilo.
-Seja o que for vamos acabar logo com isso. - falei já descendo do carro.
Assim que pisei na rua não contive um olhar atravessado para minha casa, sentindo um arrepio horrível na espinha. Meu coração começou a bater muito lentamente, os sons se tornando abafados e altos em meus ouvidos. Agora que eu parava para pensar, não havia motivos para um delegado estar parado esperando ao lado de fora da minha casa a não ser... Deus, por favor, eles não. Eu tinha falado com meu irmão pouco antes de sair do rancho, mas não pude evitar o medo que senti da possibilidade de alguma coisa ruim ter acontecido com minha família. Respirei fundo, tentei controlar minhas mãos que começaram a tremer e andei na direção do delegado.
-Delegado Dantas, o que faz por aqui? - perguntei indo direto ao ponto e sem perder tempo com cumprimentos. - Já falei sobre tudo que eu sabia para os policiais que foram no rancho.
-Não é por isso que vim aqui, Srta.Delacur. - falou com a formalidade de sempre.
Olhei para minha casa novamente com o coração apertado e Dantas seguiu meu olhar, parecendo entender minha apreensão.
-Não, não, sua família está bem. Não aconteceu nada a eles. - falou apressadamente com um olhar de desculpas, - Vim por outro motivo.
-Ora, então fale de uma vez ao invés de ficar enrolando! - falou Marisol de modo insolente.
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Meu Último Suspiro - O início - Livro 1
Ficción GeneralDepois de passar um ano na Itália esfriando a cabeça e vivendo seu sonho de viajar para o país que sempre quis conhecer, Safira Delacur sente que finalmente é hora de voltar para casa. Mesmo atormentada por sonhos estranhos e um forte pressentimento...