Não demorou muito tempo para que Noah assumisse a liderança novamente e dessa vez Dimitri decidiu ir com ele, não sem antes implicar comigo por tê-lo puxado. Pietro diminuiu o passo para caminhar ao meu lado e por vários segundos ficamos caminhando no mais absoluto silêncio. Ele estava perdido em pensamentos e parecia não prestar a mínima atenção na direção em que estávamos indo.
—Está tudo bem? – perguntei em voz baixa depois de um tempo.
—Vai ficar. – falou iluminando uma árvore caída. – Eu tenho que... Tenho que lidar com o meu medo mais cedo ou mais tarde. Não posso me apavorar para sempre com medo de perder o controle toda vez que vejo sangue.
Lembrei da história que ele me contou no jantar onde nos conhecemos, em como um acidente tinha atrapalhado seu sonho ser médico. Eu não conhecia muitas pessoas com fobia de sangue, para falar a verdade ele era a primeira, e eu não sabia muito a esse respeito, mas pelo que podia ver a coisa devia ser bem séria.
—Sei que não se compara ao que você passou, - falei. – mas todos temos medos que consideramos idiotas.
—Até onde pude conhecer você, Safira, não me parece uma pessoa que tem muitos medos. – falou esboçando um pequeno sorriso.
Sorri de lado e iluminei um grupo de árvores de forma curiosa.
—Eu tenho pavor de tempestades. – confessei. – Basta uma ventania um pouco mais forte e eu começo a entrar em pânico.
Ele deteve o passo e ficou me encarando por um tempo, como se processasse o que eu tinha acabado de contar. Pude ver em seus olhos a força que ele teve que fazer para conter uma risada. Eu sabia que era um medo bem estúpido, mas não podia fazer nada.
—Tempestades? Sério? – perguntou com descrença.
—Muito sério. – falei. – Cada pessoa aparentemente corajosa tem um medo que considera bobo, mas que é grave de alguma maneira a ponto de assusta-la.
—Isso é profundo. – falou iluminando mais à frente. – E qual o seu maior medo?
—O que estamos passando agora. – respondi.
—Andar por uma floresta escura e perigosa?
—Não. – chacoalhei a cabeça e olhei para o céu que parecia ainda mais escuro. – A possibilidade de perder mais alguém que amo.
Pietro se calou. Em todo aquele tempo bem que estávamos vagando pela floresta o silêncio não pesou tanto como uma presença quanto naquele momento.
*********
O silêncio era incomodo, mas ninguém proferiu uma única palavra por boa parte do caminho, a não ser quando fazíamos pausa para gritar os nomes dos nossos amigos. Eu não sabia bem a quanto tempo estávamos andando, mas estava começando a ficar cansada e com sede.
—Alexandra! Christopher! Evangeline! Deniel! – gritei mais uma vez.
Ficamos em silêncio a espera de uma resposta, mas não houve nada, assim como das últimas vinte vezes. Eu já estava ficando frustrada com tudo aquilo.
—Alguma notícia das outras equipes? – perguntei a Noah.
—A equipe de Nikolay achou algumas marcas frescas de sapatos fora das trilhas a oeste daqui, mas são de apenas uma pessoa. – falou.
—Sam? – questionou Pietro.
—É possível. – concordou Noah. – E levando em consideração o caminho que ele está seguindo, provavelmente está desorientado. A oeste daqui só tem uma cachoeira com uma queda suicida. É ruim se arrumar por lá sem equipamento de dia, no escuro e despreparado é morte certa.
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Meu Último Suspiro - O início - Livro 1
Ficção GeralDepois de passar um ano na Itália esfriando a cabeça e vivendo seu sonho de viajar para o país que sempre quis conhecer, Safira Delacur sente que finalmente é hora de voltar para casa. Mesmo atormentada por sonhos estranhos e um forte pressentimento...