"Sabor"

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E foi então que ouvi bater à porta, ele respirou fundo e revirou os olhos, afastando-se de mim e deixando-se cair de costas na cama.

"Quem é?" Perguntei num tom de voz mais elevado para que me pudessem ouvir do outro lado da porta.

Ninguém respondeu. Passados uns segundo de silêncio foi o Sam quem perguntou quem era, e mais uma vez ninguém respondeu.

Eu levantei-me da cama para ir abrir.

"Eu vou lá... não sabemos quem é, não vou deixar que sejas tu a abrir a porta." Disse segurando-me a mão e levantado-se da cama.

Ao abrir a porta a sua expressão mudou por completo.

"Michelle?" Peguntou boquiaberto. 

"Muito bem Sammy... vejo que não perdeste tempo..." Ela entrou no meu dormitório sem pedir licença. "Até já dormem juntos... que avançado que isto está..."

"O que é que queres?" Perguntou-lhe impaciente.

"Como assim o que é que eu quero baby? Quero levar de volta o que é meu...Já contaste à tua nova amiguinha, não já? Já lhe contaste que és meu?"

"Eu não sou teu. Nem teu, nem de ninguém! Nunca fui!" Ele parecia enraivecido.

"Bem...podes não ter sido meu... mas com certeza já foste da Vicky, não é verdade meu amor?"

Vicky? Quem raios é a Vicky? Eu não estava a perceber absolutamente nada daquela conversa.

"Michelle, cala-te e sai daqui!" Ordenou-lhe.

"Oh...não me digas que o teu mais recente 'brinquedo' também não sabe da Vicky? Eterna paixão e único amor da tua vida."

"Sai!" Gritou, com uma fúria na voz que eu nunca tinha presenciado antes.

"Sammy, Sammy... aposto que ainda não lhe contaste da visita surpresa que ela te fez segunda-feira, pois não? E da noite no motel..."

Eu dava tudo para poder perceber o que estava a acontecer, quem é a Vicky, que visita surpresa, e que motel? Eu não disse uma única palavra, limitei-me a observar e a ouvir o que estava a acontecer à minha volta. Olhei para o Sam, ele tinha os olhos molhados, e a sua força para gritar com a Michelle tinha-se esgotado.

"Já arruinaste o meu dia e a minha vida, podes sair agora?" Perguntou-lhe com uma voz trémula.

A Michelle limitou-se a olhar para ele com o mesmo sorriso com que tinha entrado no dormitório, de seguida dirigiu-se a mim:

"Encara a realidade querida... ele não é para ti, tu mereces melhor." Com estas palavras saiu.

O Sam bateu com a porta, voltou a trancá-la. Sentou-se na cama. Eu não disse uma única palavra, ele olhou para cima, fechou os olhos, e de cada um deles soltou-se uma lágrima que deslizou suavemente pela sua face até cair no meus lençóis. E atrás dessas duas primeiras lágrimas vieram muitas mais. 

Eu peguei na sua mão.

"Sam... " Disse a medo.

Pela primeira vez desde que a Michelle tinha entrado ele olhou para mim. 

"Sam... o que é aconteceu?" Perguntei com receio que o seu choro aumentasse. Eu não aguento vê-lo chorar.

Os meus receios comprovaram-se, e mais uma vaga de lágrimas se soltou. 

"Eu... eu... vou ficar sem ti, Jo." Disse-me com a voz mais fraca que alguma vez tinha ouvido da parte dele.

"Não... é claro que não vais ficar sem mim." Tentei acalmá-lo.

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