E foi assim: em casa. Eu com ele, ele comigo, e os dois juntos, que as semanas passaram, e os meses passaram. Sem dar por isso um ano passou e os meus pais já sabiam do meu namoro. Sem dar por isso dois anos passaram e nesse verão ele foi a Portugal conhecer a minha família, que não fala inglês, mas todos fizeram um esforço para se comunicarem por gestos e sorrisos amáveis. Conheceu as minhas amigas, a Dani, a Bia, a Matilde, a Eduarda... Todos diziam o mesmo: "Não o deixes escapar.". Enquanto a família se deixava encantar pelo seu jeito sempre educado, as amigas derretiam-se pelos seus olhos castanhos com ligeiros tons de dourado e verde. E ele amou Portugal. O nosso sol, o nosso mar, a nossa areia branca e fina, diferente da de São Francisco. Amou o calor do nosso verão e a ligeira brisa que sopra sem se dar por ela. E o ar, diz ele que é mais leve.
Sem dar por isso fui vezes sem conta a São Francisco. Sem dar por isso a sua família passou a ser minha também, assim como os seus amigos de lá, que sempre fizeram questão de me incluir nos seus grupos.
Sem dar por isso a Kylie voltou a namorar com o Jake, que lhe prometeu fidelidade eterna, mas que depressa falhou na sua promessa. No entanto ela levantou a cabeça, de novo, e seguiu o seu caminho, sendo a mulher forte de sempre, até que encontrou a sua casa nos olhos claros do Mark, que também prometeu amá-la, sem mas e sem porquês. E amou. Ainda ama. Todos os dias, como se ela fosse a única mulher na face da terra. Como se não existisse nada de tão belo e perfeito como ela. E todos os dias lhe diz, ao acordar, como é bom tê-la ao seu lado. Ela merece.
Sem dar por isso a Michelle engravidou do Jake, ambos saíram da universidade. Foram viver para o Texas, de onde ele é. Tive pena. Ainda eram tão novos, com uma vida pela frente. Mas o Jake começou a trabalhar na empresa de construção do seu pai, e a Michelle na caixa do Walmart. Soubemos pelas redes sociais que casaram. Vivem agora num apartamento pequeno. Tiveram uma menina. Chamaram-lhe Belle. O Jake tornou-se o pai de família que nunca ninguém acreditou que ele pudesse ser. A Michelle - uma mãe apaixonada pela sua pequena Belle. Fazem uma vida pequena, mas feliz. Fico também feliz por eles.
O Ryan ocupou o lugar do Jake na fraternidade, a organizar sempre as melhores festas, com as melhores pessoas. Conseguiu terminar o curso. Foi embora um ano antes de mim e do Sam. Viajou para Amesterdão, onde conseguiu trabalho. De lá manda postais ao Sam de vez em quando. A falar de como as raparigas holandesas são "boas" e de como são fantásticos os cafés em que se pode fumar "substâncias duvidosas". O Sam apenas se ri e abana a cabeça quando lê esses postais. O Ryan será sempre o Ryan. No final pergunta sempre quando o Sam lhe vai fazer uma visita, e ele responde "Um dia destes."
Sem dar por isso, a Vicky meteu o pé na argola, o Gary descobriu. Pediu o divórcio. Ela ficou sem nada. Sem dinheiro. Sem bens. Sem amor, se bem que ela nunca o teve. Procurou o Sam algumas vezes, mas nenhuma delas com sucesso. Também saiu de saiu de São Francisco. Foi para Las Vegas. Trabalha num casino e dorme num quarto de hotel diferente todas as noites. Com um homem diferente todas as noites. É feliz assim. O que é que se há-de fazer? Diz que está a viver a vida. Ela que viva.
O Tyler... Tyler Collins. O eterno rapaz dos olhos ternos e sorriso doce. A minha eterna história inacabada. O meu eterno e grande amigo Tyler Collins. Inteligente, enigmático, dedicado, esforçado. O maior coração que tive o prazer de habitar. O eterno rapaz do cigarro entre os dedos, porque por muito que tente já não consegue largar o tabaco. O eterno, agora, Mr. Collins. Administrador de sucesso numa empresa multinacional sediada em Nova Iorque, onde vive desde que terminou o curso. O mais jovem administrador de uma empresa dessa dimensão. O de mais rápida ascensão profissional. E quando vejo as suas fotos no jornal, com um fato preto, camisa branca e gravata, sempre muito bem posta, e quase sempre com um cigarro na mão, digo com o peito inundado de orgulho "Este é o meu grande amigo Tyler!". Falamos por telefone todos os dias. Conta-me como correu tudo na empresa e como está exausto. Conta-me como precisa de um duche, de um copo de vinho e de um cigarro. Conta-me como é a vista do seu apartamento e como sente saudades minhas, e de toda a gente. Depois desliga, e no dia seguinte a história repete-se... A eterna história de amor, que não chegou a ser uma história de amor, mas foi quase. Eternamente inacabada. O meu eterno new yorker de fato e gravata. Simplesmente ele. Simplesmente eterno.
A vida no campus não para. Nunca pára.
No final do meu segundo ano aqui, eu e o Sam tentámos solucionar o facto de eu ter de ir embora no final do curso. Pedimos um visto de residência vitalício para eu poder ficas nos Estados Unidos. Foram semanas e meses a tratar de papéis e mais papéis. Foram longas horas ao telefone com os meus pais para eles compreenderem o que eu estava a fazer. A semana passada recebemos uma carta. O pedido do meu visto foi recusado.
Amanhã é a festa de formatura e depois... bem, depois vou-me embora.
Custa-me o simples facto de ter de olhar para o Sam para ver o seu rosto triste e olhos fundos. Dói cada pequena parte do meu ser por saber que tenho de o deixar.
Ponto de vista do Sam
Como se atrevem a recusar o pedido do seu visto? Não é justo! Dão a merda do visto a toda a gente. A imigrantes ilegais e todo o género de pessoa. Porque é que tiveram de lho recusar logo a ela? Como é que eu vou deixar partir uma parte de mim? Ela vai levar toda a minha alegria. Toda a minha a vida. Mas eu já sabia que isto podia acontecer. E nós estamos a tentar encarar isto com naturalidade.
Lembro-me de como ponderei tatuar o seu nome, um dia, quando quase me estivesse a esquecer dele. Mas hoje eu não pondero mais isso porque sei que nunca o vou esquecer. Mas preciso de a ter marcada no meu corpo. Ela está tatuada na minha alma, mas eu quero o marca sua no meu corpo para que toda a gente entenda que sou dela. Aconteça o que acontecer, serei sempre e trocarei sempre qualquer pessoa por ela.
Entrei no dormitório, ela já estava à minha espera.
"Vamos?" Perguntou quando me viu.
"Vamos." Respondi com um sorriso.
Foi o primeiro sorriso que não foi forçado desde que recebemos aquela maldita carta.
Entrámos no carro, fomos até ao estúdio. Chegámos em cima da hora da nossa marcação. Pude sentir o seu receio quando viu todo aquele espaço e a maca. Ela olhou para mim. Eu sorri.
"Não te preocupes. Eu vou primeiro."
Deitei-me na maca. Passado pouco tempo pude sentir a agulha na pele. É a minha primeira tatuagem. Não dói tanto como pensei. Deitado de barriga para cima, na maca, a segurar a sua mão, sempre com um sorriso no lábios, fingia que não me estava a doer nem um pouco. Porque honestamente, não dói nada em comparação com a dor que sinto sempre que penso que vou ter de a deixar ir.
O tatuador desliza a agulha, desenhado a palavra "Trust" (confia) no meu peito, do lado esquerdo a cerca de um palmo do ombro.
Finalmente acabou e foi a sua vez. Ela decidiu fazer a tatuagem na parte de trás do pescoço, apenas a um dedo de distância de onde começam as costas. Deitou-se de barriga para baixo, atou o cabelo encaracolado num troço. Eu dei-lhe a minha mão. O tatuador começou a desenhar a mesma palavra - Trust - igualzinha à que já tinha desenhado em mim. Do mesmo tamanho, com o mesmo tipo de letra. E ela apenas agarrava a minha mão, com muita força.
Ponto de vista da Joana
"Shh... já passou babe... estás a portar-te muito bem." Dizia-me enquanto eu sentir a agulha rasgar-me a pele.
Ele sorria para mim, e isso era o suficiente para não doer tanto. Hoje estou a fazer a minha primeira tatuagem. Igual à dele. A palavra Trust. Porquê? Porque é a palavra que nos caracteriza. "Trust", que em português é "Confia" representa toda a nossa batalha para ultrapassarmos as nossas diferenças, os nossos passados e todas as coisas erradas que fizemos. E hoje não há ninguém no mundo inteiro em que eu confie mais do que nele. Ele é a minha casa. O meu porto seguro. Ele faz parte da minha família. É tudo o que tenho de mais precioso, e a partir de hoje estará gravado na minha pele. Para sempre.
Hey babes <3 O que é que acharam deste capítulo?? Eu confesso que foi emocionante escrevê-lo. E estou ansiosa por escrever o próximo! O que acharam do rumo das vidas de toda a gente?
Deixem as vossas opiniões/críticas/reações/sugestões nos comentários porque eu quero muito saber o que vocês acharam. Este é um dos capítulos com mais informação e eu quero muito saber tudo o que pensam sobre tudo o que aconteceu nestes anos.
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Amanhã há mais.
Kiss <3
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Trust
Teen FictionJoana é uma estudante de 18 anos que entra numa faculdade nos Estados Unidos, o que a obriga a sair do seu país - Portugal. É na universidade que Joana vai conhecer o arrogante, sarcástico, convencido e player Sam Miller, um rapaz cuja fama não enca...