Após alguns momentos de silêncio, a pensar em como nada daquilo faz sentido, consegui finalmente articular alguma coisa:
"C-como é que s-sabes disso?" Gaguejei com as voz trémula.
"Devias falar menos enquanto dormes Jo..." Respondeu sem olhar para mim.
"E-eu falo enquanto durmo?" Porque é que ele nunca me tinha dito antes?
"Falas... e não é pouco."
"O que é que eu digo?"
"Cenas do teu passado. Chamas o Luís, por exemplo. Dizes que não devias ter-te vindo embora... esse tipo de coisas."
"Há quanto tempo é que tu sabes disso?"
"Fui descobrindo as coisas a pouco e pouco... umas noites falavas mais, outras falavas menos. Se eu puxar por ti dizes-me tudo."
"E tu perguntas-me coisas enquanto durmo?"
"Ás vezes..."
"Porquê? Porque é que me perguntavas cenas se sabias que eu não estava de plena consciência? Porque é que não perguntas enquanto estou acordada?" Gritei, fora de mim.
"Eu pergunto e tu não me dizes Joana!" Joana? Ele nunca me chama Joana. Eu não gosto quando ele me chama assim!
"Tu não me dizes um monte de coisas e não é por isso que eu te pergunto coisas enquanto estás a dormir!"
"Porque eu não falo enquanto durmo!" Levantou a voz.
"Mesmo que falasses Sam... achas que eu ia perguntar cenas que sabia que tu ainda não estavas pronto para me contar? Eu nunca faria isso. Nunca! Entendes? E se sabias essas coisas todas porque é que mesmo assim ficaste? Porque é que fizeste questão de me pedir em namoro se sabias que ia acabar numa discussão como esta? Aliás, acaba sempre! Acaba sempre em merdas de discussões como esta."
Ele ficou calado a olhar para baixo, com as mão pousadas no volante. Eu fiquei a olhar em frente com os olhos húmidos.
"Porque é que nós sequer tentamos?" Perguntei sem olhar para ele. "Porque é que continuamos a tentar se dá sempre no mesmo? Olha para nós... parecemos dois loucos. Ontem à noite foi o que foi. Hoje agimos como se nada tivesse acontecido, começamos a namorar do nada, através de um impulso que nem sequer foi pensado. E passado umas horas, aqui estamos nós, a discutir como se não houvesse amanhã. Como sempre. Porque é a única coisa que sabemos fazer. Caso ainda não tenha reparado... Não vale a pena."
"Como assim não vale a pena? Como te atreves a dizer que não vale a pena? Estás maluca?"
"Se calhar estou. Aliás, estou de certeza, para ter aceitado namorar contigo só posso estar maluca. Completamente fora de mim..."
"Jo..." Olhou para mim, enquanto engolia a seco e tomava coragem de prosseguir. "Não me faças isso. Por favor... só não faças isso."
"Não faço o quê?" Perguntei tão friamente quanto me foi possível.
"Não faças isto. Não me digas que não valho a pena. Porque sabes que eu acredito, e eu não quero ir-me a baixo de novo."
"Então porque é que fazes essas merdas Sam? Custava muito pedires para falar comigo, seriamente, e dizer que querias compreender-me e saber a minha história? Se eu soubesse que fazias tanta questão de saber eu tinha-te contado."
"Mas eu pedi para me contares. Tu evitaste sempre essa conversa. E já viste bem tudo aquilo com que eu tive de lidar? Já te passou pela cabeça o quanto me doeu, e ainda dói o facto de não confiares em mim?"
"Mas eu confio em ti porra!" Disse mais alto do que era suposto. "O que é queres que eu faça mais para te provar que confio em ti?"
"Que me contes as coisas sem eu ter de te perguntar enquanto dormes, por exemplo."
"Tarde demais. Tu já sabes tudo."
Ele baixou a cabeça de novo. Não sei no que é que estava a pensar quanto decidiu perguntar coisas sobre o meu passado enquanto eu dormia. Isso não é justo. Eu não tive a oportunidade de lhe explicar nada como deve ser. Ele pode ter ficado a perceber tudo errado.
"Sim Jo... eu já sei de tudo. Já sabia quanto te pedi para namorares comigo. E isso impediu-me de o fazer? Não. Eu aceitei. Aceitei tudo. Ninguém tem culpa das partidas que a vida lhe prega. Tu também não tens. Tal como eu não tenho. Eu fiz muitas escolhas erradas. Tu fugiste dos teus problemas, e eu agradeço todos os dias por teres fugido. Se calhar isso não foi um erro. Se calhar tudo o que aconteceu contigo, e comigo, todas as partidas da nossa vida, aconteceram para que neste exato momento todas as estrelas se alinhassem e nós pudéssemos estar os dois aqui. Juntos."
Eu ia abrir a boca mas ele colocou um dedo sobre os meus lábios.
"Shh... eu ainda não acabei."
"Mas---"
"Sem mas nem meio mas. Agora deixas-me falar. Já disseste muitas coisas que eu sei que não querias dizer. Por isso fica calada e ouve-me. Ou melhor, escuta-me. Presta atenção, assimila as minhas palavras e pensa um pouco sobre elas antes de abrires a boca para dizer mais algum disparate. Ok?"
Eu não tive coragem de o contradizer, e apenas acenei com a cabeça para que ele continuasse. E ele continuou, a olhar bem fundo nos meus olhos, como se procurasse falar diretamente com a minha alma.
"Como eu estava a dizer. Provavelmente tudo o que aconteceu, foi para que pudéssemos estar juntos neste exato momento. Talvez todas as nossas discussões estúpidas e sem fundamento, todas as incertezas, inseguranças, faltas de confiança, de alguma forma façam sentido. Porque depois de tudo eu continuo aqui, e tu não me viraste as costas nem saíste do carro quando já poderias tê-lo feito. EU virei-te as costas uma vez, e não há nada de que mais me arrependa. E nunca mais vou voltar a fazê-lo. Ontem à noite discutimos muito. Foi uma discussão mesmo muito feia. No entanto, nenhum de nós foi embora, nenhum de nós expulsou o outro. Eu fiz-te desmaiar, e achei que não te merecia por isso. Achei que era a maior besta deste mundo, e nem percebi como ainda poderia querer estar contigo sabendo que te faço tão mal. Mas tu acordaste, e perguntaste por mim. Foi a primeira coisa que fizeste. E porquê? Porque no fundo eu sou a única pessoa que te faz sentir segura e eu sei disso. E também sei que és a única pessoa que me faz sentir quem eu sou, e também sei que quando te beijo o mundo desaparece e eu só te quero a ti. Eu estou-me a fuder para o que tu fizeste no passado, estou-me literalmente a fuder para esse teu ex-namorado. Estou-me a fuder para esta merda de gente que diz que não podemos estar juntos. Porque nós podemos. E nós devemos, e nós vamos ficar juntos, quer queiram quer não. Não é escolha deles. Eu já te disse isto hoje, eu amo-te, com todos os teus defeitos. Cada pequeno defeito teu contribuí para a tua perfeição. Tudo aquilo que descobri enquanto dormias só serviu para me mostrar que tens tantas cicatrizes quanto eu. E adivinha... eu vou fazê-las desaparecer. Uma a uma, até não restar nenhuma para contar a história. Tal como tu fazes com as minhas de cada vez que me beijas. Eu sinto-as desaparecer a cada toque teu. Não me tires isso, e não me deixes com uma cicatriz ainda maior, e aberta. Nós conseguimos superar estas cenas. Somos superiores a isto. Não somos?"
"Somos."
Hey girls...acharam mesmo que ia separar o Joam? Acham mesmo que eu tinha coragem de fazer uma coisa dessas? :P
Fiquem atentas ainda vai sair mais um capítulo hoje, em princípio :D
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Daqui a pouco há mais.
Kiss <3
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Trust
Teen FictionJoana é uma estudante de 18 anos que entra numa faculdade nos Estados Unidos, o que a obriga a sair do seu país - Portugal. É na universidade que Joana vai conhecer o arrogante, sarcástico, convencido e player Sam Miller, um rapaz cuja fama não enca...