"O último."

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Virei-me de forma a ficar deitada de frente para ele. Ele não me olhou nos olhos, ficou a brincar com a madeixa do meu cabelo. Com um ar pensativo. 

"Desculpa Ty..." Estas palavras saíram da minha boca sem que eu desse por elas. 

Ele finalmente olhou nos meus olhos. 

"Desculpa de quê pequenina?" Perguntou a sorrir.

"De nunca te ter dado o valor que tu mereces." Baixei os olhos.

Ele sorriu novamente.

"Nós já tivemos esta conversa, não já?"

"Sim mas... eu sinto-me mal, porque sei que tu mereces muito mais do que aquilo que eu te dou."

"Não digas disparates. O simples facto de ter a tua amizade depois do que fiz já me deixa muito feliz... Penso tantas vezes em como é possível confiares em mim depois de todos as merdas que eu me dei ao luxo de fazer..." Riu-se.

"Eu não consigo não confiar em ti, porque sempre que as coisas estão mal, de alguma forma tu resolves e fica tudo bem... não sei como fazes isso, mas o simples facto de ouvir a tua voz é o suficiente para me acalmar."

"Gostava de ter esse efeito em mim próprio..."

Ele deixou-se cair de costas na cama, com um braço dobrado de baixo da cabeça. Fizemos alguns instantes de silêncio. 

"Eu estou preocupada contigo Ty..." Desabafei.

Ele olhou para mim.

"Porquê pequenina?"

"Porque sim... acho que andas a trabalhar demais, a fumar demais, a descansar de menos e... pareces-me tão sozinho." 

"Eu não estou sozinho... tu estás aqui comigo." Sorriu.

"Sim, mas quando não estou... Aposto que se eu não estivesse cá e se não tivesse acordado tu ias trabalhar até à hora de te arranjares para sair para o trabalho... Isso não te faz bem."

"Sim. És capaz de ter razão. Esse era o plano." Suspirou.

"Quando é que tu descansas afinal? Quantas horas dormes por noite, mais ou menos?"

"Normalmente... durmo duas ou três horas no sofá quando chego a casa. Depois volto para a empresa de manhã, tomo cinco cafés por dia: um antes de sair, um quando chego à empresa, um depois de almoço, um a meio da tarde, e outro depois de dormir aquelas duas ou três horas no sofá... E só nos fins de semana é que me dou ao trabalho de vir para cama... durmo umas quatro horas, cinco no máximo."

"Tu és doido?" Perguntei mais alto do que era suposto. "Tu dormes numa semana o que era suposto dormires numa noite! Sabes que podes ficar doente a sério? Podes ter um esgotamento... sei lá..."

Ele respirou fundo. 

"Eu sei mas..."

"Não existe um mas Ty... Tu tens de colocar a tua saúde primeiro, porque a viveres assim não vais aguentar muito tempo."

"Eu sei...Talvez amanhã não vá trabalhar... o que achas?" Propôs com os olhos cravados no teto. 

"A sério?" Perguntei animada.

"Sim... eu tenho mais trinta folgas para gozar, que ainda nunca tirei. Posso tirá-las quando quiser."

"Trinta?" Arregalei os olhos. "Há quanto tempo não tiras folgas?"

"Pff... há muitos, muitos meses... Nem me lembro de quando tirei a última. Então... o que achas de ficar em casa amanhã?"

"Acho muito bem!" Sorri.

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