"Tudo por nós..."

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Ponto de vista do Sam

A manhã chegou rápido demais para o meu gosto... Levantei-me, vesti-me, olhei para ela. Tão calma, tão pacífica... não vou ficar com ela o resto do dia. Não posso. Não consigo. 

Não vou levá-la ao aeroporto. Ela admitiu-me que não quer que ninguém a leve e que prefere ir de táxi. Eu compreendo... deve ser mais fácil assim. No lugar dela faria o mesmo.

Sentei-me na cama, apenas a observá-la. Queria reter bem esta imagem. Quero nunca mais na vida esquecer-me desta noite, que tinha tudo para dar errado, mas que foi perfeita. É irónico como eu já tinha passado tantas noites com ela, mas logo esta foi a minha preferida... justamente esta! 

Parece que como todas as estrelas se alinharam para nos conhecer-mos, e para nos unirmos, todas as estrelas estão de novo a alinhar-se para nos separarmos. A cada segundo que passo aqui a olhar para ela, só consigo sentir que amo mais, que a quero mais, que a desejo mais... Não queria acordá-la, mas não posso ir-me embora sem dizer nada. Que espécie de pessoa egoísta seria eu se o fizesse? Eu tive tanto tempo para contemplá-la, para me despedir internamente, e para, de certa forma, me preparar psicologicamente para sair por aquela porta. 

Dei-lhe um beijo na testa, na esperança que ela acordasse, e resultou. Abriu os seus olhos castanhos e profundos,e parece que já estavam preparados para chorar, ainda mal tinha acordado. 

"Bom dia meu amor. Só te acordei para avisar que vou embora..." Irónico, que só quando todo o meu mundo caiu por terra é que comecei a chamar-lhe de meu amor. Devia ter começado a fazê-lo mais cedo. 

"Não... já?"

"Sim..." Engoli o choro. Eu tenho de ser forte pelos dois.

Ela levantou-se da cama, colocou-se na pontinha dos pés e abraçou-me como se nunca me quisesse largar. Eu fiz o mesmo, e a realidade é que não a queria largar mesmo. Comecei a ouvi-la soluçar de choro. Não... porque me fazes isso Jo? Sabes que sou fraco... 

A fortaleza impenetrável que eu queria ser desmoronou. Todas as lágrimas que eu tinha comprido para não saírem soltaram-se de uma vez só. 

"Eu amo-te!" Disse-me ao ouvido entre soluços.

Não está a facilitar nada...

"Eu também te amo Jo... tu não imaginas sequer o quanto. Eu amo-te tanto..." 

O meu maior medo, que tive desde o dia em que a conheci estava a concretizar-se diante de mim: Eu estava prestes a perdê-la. 

Ao fim de longos minutos naquele abraço apertado conseguimos, muito a custo, libertar-nos um do outro. Ela sentou-se na cama a olhar para baixo. Eu encostei-me à parede a olhar para ela, com os olhos inchados, cara molhada... Fui até junto dela, agachei-me para ficar-mos ao mesmo nível, peguei-lhe na mão. 

"Eu nunca me vou esquecer de ti! Nunca..." Deixei um beijo na sua testa.

"Eu também nunca me vou esquecer de ti..." Respondeu com uma voz que teimava em não sair. 

Abri a porta. Não voltei a olhar para ela, porque sabia que perderia a coragem de sair se o fizesse. Saí e fechei a porta atrás de mim. 

Reprimi um pouco o choro. Entrei no carro e olhei para a sua janela. Ela estava lá, a olhar para baixo. Fiquei uns bons dez minutos sem conseguir arrancar, mas finalmente ela voltou para dentro do quarto, e aproveitei esse momento em que ela não me estava a ver para me ir embora.

Cheguei ao meu dormitório, o Ryan não estava lá e ainda bem, porque eu precisava de explodir. Sem pensar no que estava a fazer, apenas por mero impulso de desespero peguei numa caneca vazia que estava em cima da secretária e atirei-a contra a parede. Quando ouvi o estoiro da caneca senti de imediato um pouco da minha raiva desvanecer. 

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