"E foi então que..."

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Ponto de vista do Sam

"Sim, eu sei... só existimos nós"

Nunca tinha sido tão sincero na minha vida, é exatamente isso que sinto neste momento, sinto que o mundo se resume a nós, e que tudo o que eu posso precisar é que as nossas mãos dadas debaixo dos lençóis nunca se separem, e sentir para sempre a sua respiração quente no meu pescoço.

Continuo com o olhar fixo nos seus lábios, só eu sei o que me custa controlar todos os impulsos no meu corpo para não a beijar, e quando morde o lábio parece que está a convidar-me a perder todo o controlo e beija-la  neste preciso momento. Eu sinto a necessidade de engolir em seco repetidamente, talvez seja como forma de me acalmar, ou talvez seja simplesmente porque pensar no momento em que os nossos lábios se tocassem, me deixa com água na boca. 

O silêncio que se instalou não está a ajudar, muito menos as suas pernas, praticamente nuas, encostadas a mim. Ela não faz a menor ideia do efeito que tem em mim, e das sensações que me provoca sem sequer fazer de propósito. Eu preciso de quebrar o silêncio ou então... acho que vou perder a cabeça.

"Então... quando é que vou ter de ir embora? Amanhã de manhã?"

"Quando tu quiseres..." Se fosse quando eu quiser não seria nunca.

"Amanhã à noite?" propus, ela sorriu.

"Já te disse Sam... quando tu quiseres..."

"Domingo de manhã?" Eu sei que estou a esticar o tempo, e isso dá-me uma satisfação especial.

"Se ficasses até segunda de manhã podias dar-me boleia para as aulas..."

"Eu fico!" Respondi, sem pestanejar.

No entanto tenho a consciência de que isso vai prolongar a minha tortura... três noites e dois dias aqui com ela, sem poder fazer nada, sempre a segurar-me a mim próprio... mas isso não me incomoda, na verdade nada me pode incomodar enquanto estiver aqui, e nem sequer me passa pela cabeça fazer alguma coisa com ela... pronto, ok... talvez beijá-la me passe ocasionalmente pela cabeça... Não! Não Sam! Não vais fazer NADA! Pára com esses pensamentos...

"Sam... Sam?" Ela acordou-me do meu delírio.

"Sim... desculpa, diz."

"Passa-se alguma coisa?"

"Não, nada." Respondi a sorrir.

"Já é tarde... Queres dormir?"

"Tu queres?" Como se eu conseguisse dormir agora...

"Já passa das duas... e eu já estava a dormir antes de te ligar."

"Então dorme..." Disse enquanto passei a minha mão pela sua face, com cuidado.

"Não te importas?"

"Claro que não..." Peguei no comando da televisão e desliguei-a.

Ela esticou o braço e apagou a luz, voltou a virar-se para mim. Os seus olhos brilhavam com a pouca luz que havia no quarto.

"Boa noite Jo..." Dei-lhe um beijo na face.

"Boa noite Sam." Ela retribuiu o meu gesto, e no escuro, beijou-me mais perto dos lábios do que penso ter sido a sua intenção.

Eu abracei-a mais ainda, e ela aconchegou-se em mim, pousando uma mão no meu tronco, como se retribuísse o abraço também, porém um abraço mais subtil. 

Estremeci ao sentir aquela mão macia no meu corpo, mordi o lábio e fechei os olhos com força. Ainda bem que ela não pôde ver a minha reação...

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