Ponto de vista do Tyler
Todos me perguntam o que se passa comigo, mas a verdade é que eu estou bem. Estou melhor do que alguma vez estive... é tão bom simplesmente estar a lixar-me para tudo e todos. É tão conveniente. É tão bom deixar de ter a responsabilidade de ser o exemplo.
Preocupar-me com os meus pais? Nunca mais! Eles que se entendam... também a empresa sempre foi muito mais importante que eu. Enfiaram-me num colégio interno aos 6 anos, viam-me uma vez por mês...ligavam uma vez por semana. Quando tinha quinze, eles acharam que já não fazia sentido estarem a gastar dinheiro comigo num colégio interno, então, decidiram separar-me de todos os meus amigos, que eu tive a vida inteira, apenas porque eu continuar no colégio não convinha à carteira deles.
Mandaram-me viver sozinho, num apartamento em Nova Iorque... disseram que íamos passar tempo juntos lá... O apartamento tinha lareira. Quanto entrei lá pela primeira vez fiquei fascinado... consegui imaginar os Natais que ia passar com eles, junto àquela lareira, com uma árvore de Natal enorme ao lado da porta da varanda... Eu honestamente achei que naquele apartamento íamos ser a família feliz que nunca tínhamos sido antes... Pois sim... como era inocente por pensar isso.
A única coisa que aconteceu naquele apartamento foi a solidão de um adolescente que largaram no mundo real... e pronto. No meu novo colégio todos me olhavam com ar de "lá vai o riquinho..." como se eu tivesse tudo o que qualquer um deles poderia desejar. No entanto, do que me valia ter um apartamento espaçoso em Central Park se era todo só para mim?
E de que me valia que os meus pais tivessem carros topo de gama? Eu não me lembro da última vez que andei de carro com eles. Eu nunca me lembro de ter viajado fosse para onde fosse com eles... Nem sei como se deram ao trabalho de vir da Europa para cá quando eu tive este acidente...
Como é que alguém tem coragem de simplesmente largar o filho de 15 anos em plena Nova Iorque? Lembro-me como se fosse hoje... eles tinham ido visitar-me no fim de semana anterior, e tinham dito que àquela era a minha última semana no colégio interno... que íamos finalmente viver juntos... No fim de semana seguinte foram buscar-me. Já não estava com eles havia três meses nessa altura, porque andavam numa "fase de negócios importante". Levaram-me para esse apartamento. Quando chegámos a minha mãe disse que ia fazer o jantar. Eu fui para o meu novo quarto arrumar as minhas roupas... que nem eram assim tantas, porque andava a maior parte do tempo com a farda do colégio. Quando voltei para a sala a minha mãe já tinha saído, e o meu pai estava a falar ao telemóvel junto à porta da entrada, quando acabou a chamada disse-me que a minha mãe já tinha saído e que já estava a caminho do aeroporto... tinham de ir de urgência para Los Angeles por causa de um projeto qualquer. Limitou-se a ir a uma cofre, atirou-me um maço de notas para as mãos e perguntou "Isso chega para te desenrascares?" Da forma mais fria que alguém pode imaginar. Eu disse que achava que sim, e ele informou-me que estariam de volta do fim-de-semana seguinte. Voltaram um mês depois... para passar o fim-de-semana. E depois disso? Bem... via-os de dois em dois meses... mas ficavam sempre, apenas para o fim-de-semana.
E eu conhecia Nova Iorque? Não... nada! O primeiro dia que fui para o colégio novo simplesmente escrevi o nome do colégio num papel e apanhei um táxi para ir levar-me lá... depois disso aprendi os caminhos sozinho, tanto os caminhos a pé como os das linhas de metro... Sim, apenas com 15 anos!
A primeira vez que tentei ir para casa sozinho, sem ser de táxi, perdi-me... como aliás, já era de prever. Passei horas às voltas, a pé, ao frio, à chuva! Até que desisti e apanhei um táxi.
Fui assaltado vezes e vezes sem conta por aquelas ruas, no inverno, quando escurecia mais cedo e eu tinha de ir para casa depois de estar de noite. Cheguei a levar uma facada na barriga, quando tentei oferecer resistência... a cicatriz contínua aqui. Ás vezes a Jo passava os dedos por ela, levemente, quando ainda namorávamos. Acho que ela tinha vontade de perguntar o que era àquela cicatriz, mas nunca perguntou, e eu nunca lhe disse.
Na noite em que eu levei a facada os meus pais estava em Washington DC, o que nem é assim tão longe de Nova Iorque. Tinham uma viagem de negócio ao Brasil no dia seguinte. Ligaram-lhes do hospital. O meu pai perguntou se eu já estava bem, e a enfermeira disse-lhe que eu estava fora de perigo, e o que é que ele fez? Ligou à sua secretária dos escritórios de Nova Iorque para me ir buscar ao hospital quando tivesse alta e para ficar em casa comigo até que eu ficasse melhor.
Ainda acham que devo alguma coisa aos meus pais? A sério? Não! Não devo! Não lhes devo absolutamente nada, a não ser uma vida miserável e solitária. Se não fossem os meus amigos eu vivia absolutamente sozinho.
Ás vezes ficava à varanda do meu quarto, com vista para o Central Park, e via famílias a passearem por lá nas tardes de primavera e de verão. Via as famílias lá em baixo, a brincarem com a neve no inverno... Invejava cada uma dessas famílias.
E no Natal... bem, é mesmo preciso falar sobre isso? Os meus pais enviavam-me os presentes por correio, ou então mandavam a lista dos meus presentes à secretária, que ia comprá-los e entregá-los a minha casa. Não me lembro de ter passado um único natal com a minha família... se passei era demasiado pequeno para sequer me lembrar.
As noites de chuva eram tão monótonas...eu demorava imenso para adormecer nas noites de chuva... Não fechava a persiana da janela para poder observar o movimento da cidade... a minha companhia eram as luzes da rua e dos prédios, eram os sinais luminescentes no topo dos edifícios, eram as buzinas dos carros... as sirenes constantes... o barulho da cidade que nunca dorme. E eu também não dormia. Porque numa cidade com mais de 8 milhões de habitantes, eu estava sozinho... absolutamente sozinho.
A maior parte do tempo não faço ideia de onde estão os meus pais... tanto podem estar na Europa, como em Los Angeles, Miami, São Francisco, Dallas, Nova Iorque, Washington DC, Atlanta, Toronto, Ottawa, Singapura, São Paulo, Rio de Janeiro, Sidney, Camberra... Eles têm sempre tantos locais onde precisam de estar... mas nenhum desses locais é ao pé de mim.
Pergunto-me como ainda não me tinha revolucionado antes... e porque continuava a ser o filho perfeito para poder agradá-los... está mais do que claro que eles não apreciam absolutamente nada daquilo que eu possa fazer...
E depois... veio a Jo. E ela fazia-me companhia, eu divertia-me com ela, e não havia um único dia em que eu não sorrisse pelo simples facto de ela existir. Até ao dia em que descobri que nem ela ia mais fazer-me companhia, e que o seu perfume ia deixar de pairar no meu dormitório, e que os seus caracóis não voltariam a repousar no meu peito. Foi a gota de água.
Já que ninguém quer saber... agora faço o que eu quero... sem dever justificações a ninguém!
Hey babes <3 O que acharam? Admitam! Ficaram com pena do coitadinho do Ty :'( Eu fiquei com imensa pena mesmo!
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