Trust

"Basta quereres."

Ponto de vista da Joana

Quando percebi que era mesmo ele o meu coração ficou gelado. Senti um nó na garganta que quase me impedia de respirar. Todas as minhas amigas se aperceberam disso. Eu quis fugir. Mas já fugi uma vez, para os Estados Unidos. Agora eu vou encará-lo. 

"Olá Luís." Respondi-lhe séria. 

"Como estás? Já não te via há tanto tempo."

"Estou bem." Assumi a posição de armadura impenetrável.

"Achas que podemos falar?" Sorriu. 

"Creio que não tenho nada para falar contigo." Ele arqueou a sobrancelha.

"Por favor?" Olhou-me com aqueles olhos verdes que eu já não via há tanto tempo. Como dizer que não?

"Fala então."

"Aqui não... lá fora?" Propôs. 

Eu não respondi, passei à sua frente, e saí porta fora. Ele seguiu-me. 

Ao chegar à areia da praia eu encostei-me há parede exterior do bar. 

"Fala agora." Ordenei friamente.

Ele sentou-se na areia a olhar para o mar.

"Será que podes sentar-te ao pé de mim?" 

"Não."

"Anda lá Joana... já não somos crianças." Pediu quase a sussurrar. 

Eu sentei-me ao seu lado. 

"Então... divertiste-te lá nos Estados Unidos?" Sorriu.

"Sim..."

"Como é que foi?"

"Foi bom."

Sorriu novamente e olhou para mim.

"Ficaste um bocadinho fria de há três anos para cá, não ficaste?" Perguntou com a sua voz rouca, por natureza. 

"Não. Só aprendi a selecionar as pessoas com quem devo ser fria."

"E achas que deves ser fria comigo?"

"Tenho a certeza." 

"Sabes, estes três anos não foram fáceis para mim também. Eu percebi a merda que tinha feito assim que acabei de a fazer mas nunca mais consegui falar contigo. Eu quis tanto pedir-te desculpa. Quis tanto dizer que não sei o que me passou pela cabeça para fazer o que fiz. Quis tanto poder simplesmente redimir-me. Mas nunca ninguém me deixou sequer chegar perto de ti. A tua mãe dizia sempre que não estavas. As tuas amigas nunca me deixaram obter o teu novo número. Consegui finalmente falar algumas vezes contigo, quando já estavas lá. Mas tu nem me ouvias... Foram tempos complicados para mim também."

"Azar o teu."

"Não sejas assim! Tu sabes que não és assim, e eu também sei que tu não és assim. Quem é que estás a tentar enganar?"

"Eu não estou a tentar enganar ninguém. Estou a tentar que tu percebas que eu estou a lixar-me para aquilo que tu passaste ou deixaste de passar! Não me interessa. Quem fez a porcaria foste tu! Ou queres que eu acredite que a gaja te fez saltar para cima dela? Eu não acredito nisso. Até porque tu de indefeso não tinhas nada. Ainda não tens. Se lhe saltaste para cima foi porque quiseste."

"Eu não digo o contrário. Mas tu sabes que eu não estava em mim. Sabes que eu não estava habituado a beber e também sabes que nós tínhamos discutido imenso antes disso acontecer."

"Ah sim... claro. Agora a culpa é minha e tu tens toda a desculpa do mundo por me teres encornado porque eu tinha discutido contigo."

"Não foi isso que eu disse."