"Fim da minha vida."

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Ponto de vista do Sam

Deixei-a à porta do hospital e voltei para o dormitório. Deixei-me cair sobre a cama... quando saí daqui há uns dias atrás nunca imaginei como seriam as coisas da próxima vez que estivesse aqui. Estou cansado. Não só fisicamente, mas psicologicamente. Estou esgotado. Sinto que não tenho força o suficiente sequer para dizer uma palavra que seja. Não tenho coragem sequer de abrir os olhos, não vá o mundo desmoronar mais um pouco. 

Ninguém está preparado para a dimensão dos choques que eu tive hoje. Primeiro soube que vou ser pai, de um filho da Vicky... logo da Vicky... Quer dizer, eu não me sinto preparado para ser pai de ninguém mas se fosse da Jo... era fodido, mas nós dávamos um jeito na vida. Eu sei que se isso acontecesse nós éramos capazes de lidar com a situação, e eventualmente, quando nos habituássemos à ideia, poderíamos até ficar um pouco felizes que fosse. Mas com a Vicky? Isto é o meu pior pesadelo a acontecer bem na frente dos meus olhos.

A Vicky vai casar, com um filho meu na barriga. A Jo vai-se embora assim que o Collins ficar melhor. E eu? O que é que eu vou fazer? Voltar para São Francisco? Para quê? A Vicky vai ser casada... o marido só vai descobrir quando a barriga começar a crescer, porque ela não é mulher para lhe contar antes. 

E quando ele descobrir? O que é que vai acontecer? Ele vai expulsá-la de casa! De certeza! E depois quem é que tem de tomar conta dela? Exatamente. Eu! E como? Não sei! Eu não quero tomar conta dela, eu quero-a bem longe de mim! Mas não tenho coragem de a deixar assim abandonada. Afinal eu também já gostei muito dela. O primeiro amor nunca se esquece, mesmo que seja um primeiro amor de merda.

Sinto-me culpado por não estar nem um pouco preocupado com o Collins... mas tenho coisas muito mais importantes com que me preocupar neste momento... Como o facto de a Jo ir embora quando ele melhorar. O que é que eu vou fazer sem ela? Como é que eu vou recordá-la? Eu sei que vou lembrar-me dela cada vez que respirar, para o resto da minha vida. 

Ela está marcada no meu corpo... como uma tatuagem invisível que cobre toda a minha pele e que me preenche por dentro. Quão estúpida seria a ideia de tatuar o nome dela? Soltei uma risada irónica. Seria muito estúpida... porque é que eu faria uma coisa dessas, se eu já a vejo em mim? A tatuagem seria apenas para os outros poderem ver também, mas eles não têm de ver, nem têm de saber o que sinto. Talvez um dia mais tarde faça mesmo essa tatuagem... mesmo que não seja o nome, apenas alguma coisa que a simbolize. Vou fazê-la no dia em que sentir que me estou a esquecer dela, daqui a uns cinquenta anos. Sorri de novo. Cinquenta anos é muito tempo... nem sei se estou vivo daqui a cinquenta anos, mas se estiver eu sei que mesmo assim ela vai permanecer na minha memória. Memória... é tudo o que ela vai ser para mim. Apenas memórias dos dias em que fui feliz.

Abri os olhos e olhei em volta. Fixei bem cada pormenor de cada canto daquele mundo. Daquele nosso pequeno e caótico mundo... que já não existe. 

Levantei-me da cama. Comecei a tirar as minhas coisas das gavetas e a colocá-las na minha mala. Tirei tudo o que me pertencia. Fui à casa de banho, tirei os meus perfumes da estante, e finalmente, a escova de dentes. Coloquei a minha mala, já feita, no canto do quarto. Abri a mala que ela tinha levado para São Francisco e arrumei tudo no lugar. Sei que ela não vai estar com paciência para arrumar seja o que for quando voltar. 

A cada peça de roupa que tiro da mala, e que coloco nos armários, o seu perfume fica mais intenso no ar. Respirei fundo algumas vezes... pode ser a última vez que sinto o seu perfume. 

Quando acabei de arrumar tudo peguei na minha mala, que continuava no canto do quarto. Abri a porta para sair. E olhei em volta. Deixei cair de a mala de novo no chão.

Eu sei que ela nunca vai ter coragem de fazer isto... vou ter de ser eu. Peguei na minha almofada, que esteve sempre ao lado da sua, em cima da cama, desde a primeira vez que dormi aqui. Coloquei-a dentro do armário. No mesmo sítio de onde a tirei naquela noite. Voltei a ir até à porta, e olhei apenas mais uma vez.

Deparei-me com a nossa foto, na moldura em cima da secretária. Eu amo aquela foto. Foi tirada numa tarde de sol, num dos espaços verdes do campus. E estamos os dois tão felizes. É tão bom ter esse momento eternizado para me poder lembrar dele vezes e vezes sem conta. E para poder regressar a esse momento, por frações de segundo, e deixar escapar aquele sorrisinho estúpido...

Fui até à secretária. Peguei na moldura e coloquei-a dentro da minha mala. Finalmente ganhei coragem, antes que as lágrimas se apoderassem de mim, saí do quarto, fechei a porta. Desci as escadas, e deixei a minha cópia da chave dentro da secretária que se encontrava na entrada do edifício. 

Atirei a mala para o banco de trás do carro, e entrei para o lugar do condutor. E agora? Vou para onde? Volto para o meu antigo dormitório? Que remédio...

Liguei o carro e fui até ao meu edifício. Entrei no dormitório. O Ryan não estava lá... ao menos isso. Pude arrumas todas as minhas coisas com calma. E ainda tive tempo de me deitar e pensar em qual seria o meu próximo passo. Tenho de contar aos meus pais que vou ser pai... quando me vim embora apenas disse que um amigo da Jo tinha tido um acidente e que ela estava desesperada para voltar, não mencionei o "pormenor" de que a Vicky está grávida de mim.

Nem sei porque é que arrumei as minhas coisas aqui... estou completamente despistado. Vou ter de arrumar tudo nas malas de novo para ir para São Francisco. Bem posso dizer adeus à universidade, ao curso, aos amigos, a tudo... bem me posso mentalizar para trabalhar na empresa do meu pai... bem me posso preparar para procurar casa para mim e para a Vicky quando o Gary a expulsar da sua maravilhosa mansão... 

E foi assim que a minha vida, pura e simplesmente, deu uma volta de 180 graus. E aquilo que devia ser, já não é... e quem devia estar, já não está. Ainda nem tenho vinte anos, e já sei que este é o fim da minha vida.

Hey <3 vocês tanto pediram para trazer o Sam de volta que eu decidi fazer um capítulo apenas com as reflexões dele. O que acharam? 

Eu sei que no último capítulo tinha falado sobre o fim desta história e o início de uma segunda parte, no entanto,algumas de vocês foram falar comigo no chat, e pessoas que até estão nisto do wattpad e das história há bem mais tempo que eu, e o conselho que mais recebi foi para continuar com a história aqui mesmo, porque os capítulos não são muito longos e a história (ainda) não está numa fase em que se justifique o fim da primeira parte e o início da segunda, numa história à parte. Então o que vai acontecer é que a história vai ter uma segunda parte, mas sem uma "ruptura", ou seja, quando a história chegar a um determinado ponto (que eu já sei qual é) eu vou indicar que a partir daí começa a segunda parte, porém integrante da primeira história, é só como que um ponto de viragem. (Não sei se me fiz entender xD)

Já sabem, deixem as vossas opiniões/críticas/reações/sugestões nos comentários porque eu AMOOO falar com vocês e saber o que acham.

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Daqui a pouco há mais 

Kiss <3

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