Trust

"O primeiro dia."

A manhã chegou mais rápido do que eu queria. O sol entrou pelas cortinas. Acordei com o Ty ao meu lado... virei-me de frente para ele, para poder simplesmente admirar a calma do seu rosto enquanto dorme. Tenho a sensação e quase a certeza de que é a última vez que acordo ao seu lado... Não sei bem porque sinto isto, até porque de todas as vezes que me separei dele, acho que sempre soube que um dia voltaria a estar nos seus braços por alguma razão. Mas desta vez é diferente. Sinto que é mesmo a última vez. 

Ele sorriu, inesperadamente.

"Tens muito o hábito de observar as pessoas enquanto elas dormem?" Perguntou na brincadeira.

"Não... só tenho o hábito de te observar a ti." Ri-me. 

Levantei-me da cama e fui até à casa de banho. Quando acabei de tomar o duche ele já não estava no quarto. Vesti-me e fui até à cozinha onde ele estava a fazer o pequeno almoço, ainda em tronco nu. Eu fui até ele para o ajudar a acabar de preparar a comida, e ele deixou um beijo na minha testa. 

"Podes ir tomar banho, eu acabo isto." Propus. 

Ele assentiu com a cabeça, deu-me um sorriso e foi tomar duche. Quando voltou eu já tinha o pequeno-almoço na mesa. Esta manhã tudo está silencioso. Arrumámos tudo. Fomos ao quarto, eu peguei na minha mala, que tinha deixado feita ontem. Ele pegou no blazer, na gravata e na pasta.

Fomos até ao hall de entrada, ele colocou a pasta no chão, colocou a gravata e vestiu o blazer em frente ao espelho que se encontrava pendurado na parede.

"Que tal estou?" Perguntou quando acabou de se arranjar.

"O empresário mais sexy do ano..." Brinquei enquanto lhe ajeitava a gravata.

***

Em cerca de uma hora estávamos no aeroporto. Fiz o check-in. Ele, embora estivesse atrasado para o trabalho, não quis ir embora antes de o meu avião descolar. Durante todo o tempo em que esperámos pela chamada para o meu voo ele ficou a abraçar-me pela cintura. E a dar conselhos no meu ouvido, do género: 

Quando conseguires um emprego dá tudo por tudo.

Não te deixes ir abaixo.

Liga-me sempre que precisares. 

Estas duas semanas podem repetir-se as vezes que quiseres, basta uma chamada e eu compro os bilhetes do teu voo. 

Não te transformes numa viciada em trabalho como eu.

Mantém-te forte pequenina...

No meio de todos estes conselhos sussurrados no meu ouvido ouvimos a primeira chamada. Levantámo-nos ao mesmo tempo, ele abraçou-me e eu retribuí. Não consegui evitar que uma lágrima fugitiva me escapasse. 

"Vou sentir a tua falta pequenina... eu sei que foram só duas semanas, mas já estava tão habituado a ti."

"Também vou sentir a tua falta grandão..."

Ouviu-se a segunda chamada para o voo, e eu tive de o largar e ir para a zona de embarque. Fui até à escada rolante e ele ficou em pé a ver-me ir embora. Vou ter saudades dele... o meu eterno amor inacabado, que vai ficar por viver...

***

Ouvi o aviso para colocar os cintos de segurança para a aterragem. A Inês vai buscar-me ao aeroporto e vou ficar em casa dela durante dois ou três dias. Depois ela vai passar o fim de semana à nossa cidade e leva-me.

Quando cheguei pude vê-la à minha espera, acenei-lhe para que me visse. Ela olhou para cima e sorriu. 

"Então? Que tal foi a viagem?" Perguntou, enquanto se dirigia a mim para me cumprimentar.