"A vida de antigamente."

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Entrei no avião, procurei o meu lugar e instalei-me. É impressionante como eu sou uma pessoa totalmente diferente daquela que veio para cá há quase três anos. Agora rio-me só de pensar que tinha medo de andar de avião. Agora os aviões são as minhas segundas casas de tão habituada que estou. Não é ridículo que eu tenha tomado calmantes na minha primeira viagem? Sorri sozinha a pensar nestas coisas. 

O avião descolou e vi Detroit a ficar cada vez mais pequeno. Consegui ver o campus, os edifícios e as pessoas pequenas como formigas a andar de um lado para o outro. A vida no campus prossegue, e algures lá em baixo está um novo Miller, a fazer a cabeça em água a uma nova Jo, e um novo Ty a fumar na janela de um dormitório. A minha vez acabou para poder dar a vez a outros. A minha história ficará para sempre marcada naquele campus, mas será apenas uma memória.

O avião foi subindo cada vez mais e eu parei de olhar para baixo. Recostei a cabeça no banco do avião e olhei para o relógio. O avião do Sam, para São Francisco deve partir dentro de 10 minutos. Esqueci-me de lhe desejar uma boa viagem. 

Daqui a cerca de duas horas eu vou fazer escala em Nova Iorque e o Tyler vai estar à minha espera no aeroporto para me fazer companhia enquanto eu esperar pelo voo com destino a Lisboa, ele vai ser a última das despedidas dolorosas e depois estou livre para ir. Para voltar para Portugal. 

E o Sam vai ficar em São Francisco. Vai arranjar um emprego. Vai conhecer uma mulher absolutamente deslumbrante e aos poucos eu vou desvanecendo, vou-me tornando apenas uma boa recordação de um romance da faculdade. E ele vai apaixonar-se por essa mulher, vai ser o namorado ideal. As minha fotos vão ser guardadas numa caixa empoeirada no fundo do armário. Um dia vai ter dinheiro para comprar um anel de noivado, e então vai levá-la à ilha grega de Santorini para pedi-la em casamento. Depois vão comprar uma vivenda com jardim, com quintal, com janelas de persianas azuis e uma cerca de madeira branca. Quando se mudarem para essa casa a caixa empoeirada com as minhas fotos lá dentro vai para o lixo "por engano" durante as mudanças. Vão organizar um casamento para pouca gente, vão casar num jardim perto do porto de São Francisco, junto à agua. Na lua de mel vão voltar a Santorini. 

Vão ter um cão labrador, e ao fim de pouco tempo, a recente Mrs. Miller vai engravidar e dar-lhe o seu primeiro filho. Vai ter uma vida feliz. 

Como é que eu sei tudo isto? Porque estes eram os planos que fazia para nós. Porque eu sei que esses são os seus sonhos. O anel, a ilha de Santorini, o casamento à beira rio, a vivenda e o labrador era o que ele planeava para nós. Mas infelizmente e Mrs. Miller não serei eu.

Quando chegar aos 40 anos vai fartar-se daquela maltida tatuagem que fez pela namorada da faculdade, vai rir-se do ridículo que foi fazê-la e vai removê-la. E finalmente não restará absolutamente nada de mim em si. 

Apenas o simples facto de pensar estas coisas deixa-me com um nó na garganta. Eu consigo ver um futuro para ele, sem mim. Mas não consigo ver um futuro para mim, sem ele. Não consigo imaginar-me a ter interesse em nenhuma outra pessoa. Não consigo imaginar-me a apaixonar-me por mais ninguém. E eu sei que as fotos dele nunca vão ficar numa caixa escondida. E nunca, mas nunca vou remover a tatuagem.

***

O avião aterrou em Nova Iorque. Desembarquei e liguei ao Tyler. 

"Então? Já chegaste?" Perguntou mal atendeu.

"Já, estou na zona de espera, em frente às escadas rolantes."

"Estou aí em cinco minutos."

Há meses que eu não vejo o Ty pessoalmente. Tenho tantas saudades dele, e de tudo. 

Olha para o fundo, vejo um homem alto e lindo de fato a vir na minha direção. Fica bem melhor ao vivo. Ele avistou-me e levantou o braço. Veio ter comigo. Mal chegou ao pé de mim, com um meio sorriso abraçou-me e deu um beijo na minha testa. 

"Então miúda? Como é que estás a aguentar-te?"

"O que é que te parece?" Perguntei forçando um sorriso.

"Parece-me que estás a fingir que estás bem para não me preocupares." Franziu a a testa.

Eu olhei para baixo.

"Acertaste..." 

Ele colocou o braço pelos meus ombros e sentámo-nos na zona de espera. 

"Tens a certeza que não queres ficar uns dias aqui em Nova Iorque? Ainda tens uns tempos antes de o visto acabar de vez, e fazia-te bem ficares afastada de tudo durante uns dias... Ainda vais a tempo de cancelar o voo, e se não der para cancelar simplesmente fode para isso, e eu pago-te o bilhete para quando quiseres ir..."

"Não Ty. Eu não posso fazer isso. A minha família está toda a espera que vá hoje, e a parte mais difícil eu já consegui fazer, por isso eu vou apenas esperar que esta hora passe para eu entrar no avião e sair só em Lisboa."

"Pensa bem Jo... ias ter a casa só para ti, eu vou trabalhar e tu podias pôr a tua cabeça em ordem." Passou a mão pela minha face para secar uma lágrima que me fugiu.

"Obrigada, mas não. Eu vou acabar o que comecei." 

"Sabes que podes sempre contar comigo. A porta da minha casa está sempre aberta para ti. Qualquer dia que acordes com vontade de conhecer Nova Iorque liga-me. Eu arranjo-te bilhete para o dia seguinte se for preciso."

Eu ri-me.

"Obrigada..."

"Anda, vamos comer um gelado ao McDonalds enquanto esperamos." Piscou-me o olho.

Fomos comer o gelado e pouco tempo depois ouvi a primeira chamada para o meu voo. Ele olhou para mim com os olhos arregalados. 

"É agora minha pequenina..." Forçou um sorriso, no entanto deixou escapar uma lágrima.

"É agora meu grandão..."

Ele tomou-me nos seus braços e deu-me um abraço enorme, beijou a minha testa,eu fechei os olhos para sentir melhor o seu beijo e quando fiz isto uma lágrima fugiu de cada um dos meus olhos. Eu beijei a sua face molhada. Largou a minha mão e ficou a ver-me ir para a zona de embarque.

Entrei no avião que me vai levar a casa. Tal como antes tinha visto Detroit, vi Nova Iorque ficar pequenina lá em baixo. Um peso caiu sobre os meus olhos. Talvez por causa do cansaço de tantas emoções fortes num só dia. 

***

"Senhores passageiros, por favor coloquem os cintos de segurança, estamos prestes a aterrar no aeroporto da Portela, Lisboa." Disse a assistente de bordo no comunicador.

Eu coloquei o meu cinto. E a cidade de Lisboa, esperava-me lá em baixo. Aterrámos. Desembarquei e fui buscar as minhas bagagens. Mal olhei para zona de espera vi a minha família e a Dani lá em baixo, com um ar ansioso. Quando me viram todos abriram os braços o que me fez ter de escolher quem abraçar primeiro. 

Não resisti aos braços da minha mãe, depois do meu pai, depois da Dani. Não me deixaram levar as minhas malas, e fomos para o carro, para mais uma viagem de duas horas até à minha pequena cidade do interior. Todos pareciam tão felizes que até me sentia mal por estar triste. A minha mãe tagarelava alegremente com o meu pai nos bancos da frente, enquanto no banco de trás a Dani se apercebeu do meu estado emocional. Passou a mão no meu braço. 

"Deixa lá Jo... Vai correr tudo bem. Estás de volta ao tua vida de antigamente." Forçou um sorriso.

Hey babes <3 Pois é... ela está de volta à portugal, ele está de volta a são francisco e o Ty continua em NY :/ O que é que acharam deste capítulo? Digam com sinceridade ;)

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Daqui a pouco há mais :P

Kiss <3

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