Trust

"Jogo perigoso..."

Ponto de vista da Joana

Aqui estou eu como sempre quis estar. Como já não estava há tanto tempo, e sinto que estou no melhor lugar do mundo. Envolvida no mais aconchegante abraço que poderia sequer imaginar.

Hoje de manhã quando acordei não seria capaz nem de sonhar como ia terminar a minha noite, pois isto é melhor do que qualquer sonho. Eu tinha tantas saudades de tudo! Quando ele saiu por aquela porta, naquela manhã, foi como se o que de mais valioso eu tinha, deixasse de ser meu... Se é que alguma vez tinha sido meu... No entanto acho que não o parei porque o meu subconsciente me disse para não o fazer 'Deixa ir... se voltar, é teu...'  Foi o que o meu subconsciente disse, mas não alto o suficiente para que eu o conseguisse ouvir, por isso tinha ficado tanto tempo sem perceber porque é que não o tinha impedido, e agora entendo. Ele voltou... é meu.

Será que é isso que o Tyler acha que vai acontecer? Será que ele me está a libertar, à espera que eu volte? Porque eu tenho quase a certeza que nunca vou voltar. E também não gostei da maneira como ele se foi embora sem dizer nada... Se calhar ele não era bem o que eu achava que ele era... Ou se calhar percebeu, que quando o Sam está, ele não tem um lugar. 

Eu sei que fui injusta com ele. Muito até. Porque eu sei que ele gosta de mim, e eu não vou dizer que não gosto dele, se dissesse seria mentira... mas seria uma mentira ainda maior se dissesse que ele está ao nível do Sam... porque não é verdade. Nunca ninguém esteve. Nunca ninguém vai estar...

É verdade que eu não entendo o porquê de ele fazer o que faz, é certo que ele passou por muita coisa e que as circunstâncias da vida o fizeram ser assim, e ele não tem culpa de não saber lidar com os problemas da melhor forma, ele podia ter escolhido outras saídas... não o posso culpar de ter escolhido a saída mais fácil... eu também o fiz. Aliás, se eu não escolhesse a saída mais fácil não estaria aqui nos Estados Unidos... não teria fugido dos problemas que tinha em Portugal...

Fico feliz que o Sam nunca me tenha perguntado o porque de ter vindo para cá... eu acho que vou contar-lhe quando achar que posso... quando me sentir preparada.

Por agora, vou apenas parar de pensar, esquecer o mundo inteiro, porque o meu mundo está aqui. Deitado ao meu lado, a dormir... 

Aposto que nunca ninguém reparou como o 'maléfico' Sam Miller fica com a expressão mais pacífica deste mundo enquanto dorme... ou então talvez só tenha esta expressão quando dorme comigo... Se ele ao menos soubesse o caos que sou... Ainda bem que ele nunca conheceu a Joana do passado... Ele não ia gostar... Ainda bem que já não sou essa pessoa, já não penso como essa pessoa pensava, e não quero sequer lembrar-me dela...

Não posso evitar sorrir quando olho para ele, e não posso evitar o facto de querer beijá-lo a todo o momento... mas não vou acordá-lo, prefiro simplesmente ficar a admirar o seu rosto... Se ele ao menos soubesse...Mas não sabe.

A culpa invadiu-me. Porque é que não sabe? Será que continuaria aqui se soubesse? As nossas história são tão diferentes, mas tão iguais ao mesmo tempo. Ele foi um 'sweetheart'  nos tempos do colégio... e eu? Bem... vamos não falar sobre isso.

Um dia eu conto-lhe, conto-lhe tudo... cada detalhe. 

Mas agora limito-me a apreciar cada detalhe seu... cada milímetro da sua pele... é um perigo! Cada milímetro da sua pele que não esteja encostada à minha é um crime... e cada milímetro da que está... um pecado.

Eu devia dormir, a enfermeira disse que tinha de descansar, no entanto o sono não vem, e eu vejo pela fisga da janela que o sol está quase a nascer... talvez sejam horas de dormir. Fechei os olhos.