"Quando já não for um erro..."

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Quando o abracei ele agarrou os meus pulsos com firmeza, e fez com que eu o largasse. Mais uma vez virou-se de frente para mim. Eu baixei a cabeça, ele encostou-se à secretária como já tinha feito antes e cruzou os braços.

"Joana, eu não vou ficar. Eu não vou ficar contigo depois de teres dito que sentes que não está certo. Acredita em mim, eu fiz muitas coisas que 'não estão certas' na minha vida, mas tu não foste uma delas. Desta vez a culpa não é minha. Desta vez eu fiz tudo certo."

"Eu sei..." Respondi em surdina, sem sequer conseguir olhar para ele.

"E se tu pelo menos me conseguisses dizer o que há de errado connosco...mas tu não consegues. Sabes porquê?" Ele parecia estar à espera que eu respondesse à sua pergunta retórica, mas não o fiz. "PORQUE NÃO HÁ NADA DE ERRADO!" Gritou. "A único sítio onde isto é errado é dentro da tua cabeça!"

Eu também queria gritar comigo própria, e quanto mais ele falava mais eu percebia que ele tinha razão, e maior era o meu desespero. Não consegui mais segurar as lágrimas, que foram caindo uma a uma na alcatifa cinzenta do meu dormitório. Nunca olhei para ele, não queria que visse que eu estava a chorar, porque ele estava a dizer-me tudo o que eu merecia ouvir, e se me visse chorar, tenho a certeza de que iria ser mais brando com as palavras e eu não queria isso.

"E eu sei que isso são tudo coisas da tua cabeça pela simples facto de que não acredito que não se sintas bem comigo. Porque eu sei que sentes! Se não te sentisses bem não dormias no meu peito desde a primeira vez que dormiste ao pé de mim, no carro. E nessa altura conhecias-me há menos de 24 horas, e mesmo assim, não te importaste. O que é que mudou?"

"Nada..." Respondi, quase a medo.

"Nada não! O que mudou foi que ouviste coisas sobre mim, que soubeste coisas do meu passado, e que fizeste julgamentos interiores das coisas que eu fazia. Foi isso que mudou! Conheceste pessoas que te disseram que eu não te faço bem, e acreditaste em todas elas!"

"Eu não acreditei."

"O teu lado consciente não acreditou, mas o subconsciente continua a murmurar no teu ouvido que não devias estar comigo não é? Isso quer dizer que no fundo acreditaste."

Não é possível que ele saiba de tudo o que se passa na minha mente tão clara e inequivocamente! 

"Admite que no fundo ainda pensas que eu possa estar a usar-te..."

Eu não disse nada.

"Eu sabia..." Ele abanou a cabeça e deu uma daquelas risadas que se dão para contrariar a vontade de chorar. "Como é que podes pensar isso, porra? COMO? Quantas vezes é que eu te disse que não te ia magoar? Será que a minha palavra não vale nada para ti?"

"É claro que vale!" Ao dizer isto levantei a cabeça e olhei para ele.

Ele parece ter perdido todas as forças que tinha tido até este momento para gritar comigo, ao ver os meus olhos inchados e cara molhada. Toda aquela firmeza de antes se desmoronou diante de mim. A sua expressão suavizou.

"Diz-me o que tenho de fazer para acreditares em mim..." Pediu quase a sussurrar, com a voz trémula. "Diz-me o que tenho de fazer para não te perder, porque não és só tu que tens sentimentos, e enquanto tu sentias que estava tudo errado eu sentia que nada poderia estar mais certo...E eu não acredito que sentisses que estava errado quando te beijei. Eu recuso-me a acreditar nisso!"

"Mas eu não senti que estava Sam... não estava!"

"Então o que é que está? Se eu não souber o que está errado eu nunca vou conseguir fazer com que fique certo, não entendes isso?" Voltou a ficar ríspido de novo.

Eu não estava a aguentar, a única coisa que queria era poder voltar a abraçá-lo, e que ele me abraçasse também, e não sair dos seus braços nunca mais, mas a forma como ele me tinha afastado antes deixava receosa de sequer me aproximar dele. 

Nem sei como tive coragem de dizer o que disse... sinto que não está certo? Estava tudo perfeito antes de eu abrir a boca, se não está certo agora a culpa é minha. Onde é que eu tinha a cabeça? Ele vai ficar sempre a achar que eu não confio nele, e que me importo demasiado com o que os outros pensam. Ele vai achar que eu quero desistir do que nós temos, mas eu não quero! A última coisa que eu quero neste mundo é desistir de nós... ou que ele desista de mim.

"A única coisa errada é aquilo que eu disse e não devia ter dito... Desculpa..."

"Não. Tu tens de dizer o que pensas e como te sentes. Eu não quero pensar na figura de otário que ia fazer, a pensar que estava tudo perfeito, se não me tivesses dito aquilo."

"Tu não ias fazer figura de otário! E estava tudo perfeito sim!"

"NÃO, NÃO ESTAVA! Para teres dito aquilo é porque não estava, e eu ainda não consegui perceber o que querias dizer."

"Não queria dizer nada! Foi uma cena estúpida que me saiu nem sei porquê!"

E não sabia mesmo... Eu estava tão feliz com as coisas como estavam, ele não podia de forma alguma tratar-me melhor do que tinha tratado. Mas que raio! Eu acho que só queria dizer que talvez estivéssemos a ir demasiado rápido...afinal ele mal me conhecia, não sabia nada do meu passado, e eu também não sei se queria que ele soubesse... 

"Sam...eu não queria dizer nada que te deixasse assim, acredita em mim. Esta manhã já teve mais altos e baixos do que qualquer manhã é suposto ter. Larga a mochila, por favor..."

Ele largou a mochila que caiu no chão. Eu dei dois passos na sua direção, peguei na sua mão e olhei para os seus olhos, que estavam vazios. Abracei-o. Ele não me afastou, no entanto não retribuiu o abraço. E ao aperceber-me da frieza desse gesto deixei escapar mais uma lágrima. Ainda há pouco era ele que chorava e dizia que não podia perder-me, e no espaço de pouco mais de uma hora os papéis inverteram-se. Percebi que ele não ia mudar de ideias. Larguei-o. Ele vestiu a t-shirt, pegou na mochila, e andou em direção à porta. 

"Procura-me quando eu já não for um erro Jo... E entretanto podes tirar a minha almofada da cama, não vai voltar a fazer falta."

Eu não disse nada, mas sei que os meus olhos imploraram que não fosse embora. Ele abriu a porta. Saiu. 

Quando a porta voltou a fechar eu tive a certeza... não foi só o Sam que saiu por aquela porta, o meu oxigénio foi com ele.

Mais uma vez: desculpem leitoras habituais, não me matem :p

Hoje é dia de double-update, o que quer dizer que mais logo há mais... será que a situação entre eles vai ficar resolvida no próximo capítulo? Hmm...não sei... o que acham?

Como sempre o recado do costume: comentem as vossas opiniões/ críticas/ sugestões, porque eu amo conversar com vocês nos comentários. Se gostaram do capítulo cliquem na estrelinha para votarem. Até mais logo...Kiss <3

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