4. Aproveitando o tempo que resta

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Uma semana avança e a cada dia que acaba, começo a surtar mais um pouco. A ansiedade passa a afetar minhas obrigações como princesa, já que estou sempre apreensiva e não consigo me concentrar em nada. Meus pais percebem minha mudança de humor, mas infelizmente pensam que a causa é a ansiedade de desejar ingressar na Escola Real, quando na verdade é exatamente o contrário.

Dessa forma, os dois passam a me contar frequentemente suas histórias no instituto e a relembrar o que sentiam antes de entrar na escola. Fato esse que não ajuda em nada, já que eles queriam ir para o maldito lugar e eu não.

O que me acalma é praticar esgrima e arquearia, já que desconto toda a minha frustração acertando os alvos e esfaqueando os bonecos de madeira. É minha terapia particular. Nico diz que estou exagerando nos exercícios, mas não existe outro jeito de canalizar o que sinto. Preciso destruir algo para não destruir a mim mesma.

Na segunda-feira, dia 11 de agosto, meus pais e eu viajamos para a inauguração de um novo hospital pediátrico em Marytown, um dos ducados do país. Meu humor está terrível e, para não descontá-lo em ninguém, tomo um remédio e durmo durante o voo inteiro. Ao chegarmos ao aeroporto, uma multidão alegre nos recebe e nós acenamos, agradecendo pela recepção. Preciso me forçar a sorrir e tento acenar corretamente, pois sou um desastre fazendo isso.

Ao sairmos do aeroporto, um carro blindado nos conduz até o palácio de Marytown, seguido por um cortejo de carros policiais. Ao chegarmos, meus pais vão para seu quarto se preparar e eu sigo para outro, junto com Nicoletta. Minha dama prepara um banho quente para mim e depois me ajuda a colocar o tailleur branco, os sapatos e as joias.

Enquanto Nico faz minha maquiagem e arruma meu cabelo, permaneço em silêncio, pensando em maneiras práticas para parecer feliz na inauguração. Ao terminar, minha dama coloca a tiara em minha cabeça e bate palmas, aplaudindo seu próprio trabalho. Eu sorrio levemente.

— Você está linda, Alice. — Nico diz.

— Obrigada.

— Mas ficaria ainda mais bela se colocasse um sorriso no rosto.

— Você sabe que eu não estou bem, Nico.

— Ok. Eu sei que você está deprimida porque não quer ir pra Escola Real, mas pense pelo lado bom. — Ela sorri, animada. — Você vai conhecer pessoas novas, fazer alguns amigos, morar em um lugar diferente e viver experiências inéditas. Não é incrível?

— Não. Lógico que não. É exatamente disso que eu tenho medo.

— Ah, Alice, não seja tão dramática. Mudanças são boas às vezes, principalmente pra você, que vive a mesma vidinha pacata há 18 anos.

— Eu não sei lidar com mudanças, Nicoletta. Mudanças me fazem surtar.

— Alice, eu sei que você é uma garota corajosa, apesar de ser insegura, então pare de permitir que os seus medos estraguem a sua vida. Eu sei que o seu maior desejo é viver uma vida normal, mas encare a sua realidade e aprenda a lidar com ela. Você nasceu pra isso. Não dá pra fugir. E talvez ser rainha não seja tão ruim como você imagina. Quem sabe a Escola Real não seja o lugar certo pra te fazer ver isso?

— Eu não sei, Nico

— Exatamente. Você não sabe, então precisa ir lá pra saber. Talvez a escola não seja esse bicho de sete cabeças que você imagina. Talvez você até goste.

— Isso nunca vai acontecer.

— Nunca diga nunca, minha querida. O destino é traiçoeiro. — Nico abre os braços. — Agora levanta e me dá um abraço, sua dramática.

A Escola RealOnde histórias criam vida. Descubra agora