22. Segredos

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Um mês passou como um flash e logo outubro estava chegando, trazendo o clima ameno do outono e a explosão de tons alaranjados colorindo as folhas das árvores. Desde a eleição, Philipp e eu não nos desgrudamos mais, já que as inúmeras responsabilidades da liderança do Clube de Oratória não permitiam. De certa forma foi bom para mim, já que adoro a companhia do príncipe.

E como quase sempre, hoje é mais um dos dias em que estamos na biblioteca, aproveitando o sábado para organizar a palestra da vez. Phillip está debruçado sobre um caderno, anotando tópicos e lendo ocasionalmente a página aberta de um livro de oratória. Eu, por outro lado, estou pensando a respeito do tema do debate, que acontece religiosamente ao fim de todas as palestras.

— Philipp, posso fazer uma pergunta? — sussurro, interrompendo sua leitura.

Ele pisca, saindo do transe que sua concentração extrema causa.

— É claro.

— O que você acha de eu renunciar?

Philipp olha para mim e seu riso é automático. Ele sufoca as risadas com medo de que um dos bibliotecários venha repreendê-lo. Olho para a careta hilária que meu amigo está fazendo e minha reação é rir automaticamente.

— É a décima vez que você diz isso. — Philipp sussurra, olhando para os lados. — Acredite, eu estou contando.

— É sério. Quero me jogar do terceiro andar. Não aguento mais ser vice-líder.

— Alice, sou eu que faço o trabalho sujo. Você só é responsável pelos debates.

— Ah, fazer isso é muito fácil, né? — Eu bufo. — Semana passada aquelas meninas idiotas que sentam no fundo ficaram rindo porque o tema do debate era sobre a preservação da espécie dos ursos panda.

— Você não tem que ligar pra isso. Aquelas meninas não se importam com os animais, por isso ficaram rindo. O tema é muito importante.

— Se elas ficarem fazendo gracinha hoje, não respondo por mim.

— Se controla, pinscher.

Eu rio e dou um soquinho no ombro de Philipp. Ele ri em resposta e depois  retorna sua atenção para o caderno. Dessa forma, eu decido começar a eliminar as opções de temas que havia enumerado. No fim das contas, acabo decidindo ficar com "A importância dos zoológicos para a preservação das espécies".

Como é preciso que eu estude a fundo sobre o tema do debate de cada reunião, a fim de validar ou invalidar os argumentos dos alunos, filtrando verdade e mentira, levanto da cadeira e me encaminho para um dos vários corredores de estantes da biblioteca. Como os temas são separados por seções, passo algum tempo caminhando e olhando as plaquinhas com os nomes.

Peço informação a um bibliotecário que me diz que a seção zoológico fica no segundo andar, perto da seção zoologia. Subo até lá e passeio entre o acervo de livros, me distraindo vez ou outra para tirar algum da prateleira e dar uma olhada rápida. Depois de alguns minutos caminhando, avisto a plaquinha seção zoológico e suspiro aliviada.

Assim que dobro para entrar no corredor, me deparo com uma cena que faz meu queixo figurativamente alcançar o chão.

Cameron e Melinda estão se agarrando selvagemente contra uma das estantes. O jeito que eles se beijam é tão primitivo que a seção escolhida para tal atrocidade parece ser até adequada, caso os dois possuíssem pelo menos um pouco da escassa decência dos animais.

Meu estômago se revira e um sentimento esmagador faz meu coração pesar. A sensação que sinto é tão desconfortável que torna-se difícil assimilá-la, então a minha reação é permanecer estática, observando a cena asquerosa.

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