30. Proibido

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A morte de Audrey afetou a atmosfera da Escola Real tão profundamente que a rotina se tornou insuportável. Depois de uma semana de suspensão, retornamos às aulas e os professores começaram uma corrida implacável para reintegrar as classes de forma positiva, oferecendo oficinas, experiências científicas e exposições. O corpo estudantil, entretanto, não pareceu se entusiasmar nem um pouco com as tentativas desesperadas dos docentes.

Na realidade, o suicídio de Audrey continuou sendo pauta nas panelinhas e o clima fúnebre se manteve invicto. O cenário depressivo se tornou insuportável ao ponto de fazer a secretaria dar início a um comitê de organização para um baile, que aconteceria em duas semanas e seria totalmente planejado pelos alunos. O tema escolhido: gótico.

Foi, de longe, a melhor tentativa para revigorar os alunos e funcionou instantaneamente. No dia seguinte ao anúncio, o comitê começou a ser formado e uma assembleia foi feita para delegar funções. Sadie, com sua personalidade extremamente festiva, candidatou-se para a vaga de líder e, enfrentando uma eleição acirrada com Melinda e mais um garoto, conseguiu ganhar. A vitória dela foi mais do que suficiente para obrigar todos os integrantes de nosso grupo a participar ativamente dos preparativos – inclusive Minah, que ficou responsável pela área de iluminação e pirotécnica.

Sadie me alocou para o time responsável pelos comes e bebes e, em um estalar de dedos, minha vida virou um inferno. Fui obrigada a formular um cardápio com o restante dos integrantes e a discussão a respeito dos pratos se tornou intragável a partir do momento em que uma briga generalizada começou por causa da sugestão de uma sobremesa (pavlova) feita por um garoto. Alguns queriam pratos elaborados, outros estavam totalmente confortáveis em preparar um menu baseado em petiscos e ponche.

O time gourmet acabou vencendo e montou um cardápio com bastante variedade, apresentando opções divididas entre pratos sofisticados e simples, a fim de agradar a todos os gostos. Uma semana e meia depois, com o menu finalmente definido, começamos os preparativos e tomamos de conta da cozinha da escola. Alguns funcionários foram delegados para nos ajudar e, graças aos céus, Bernadette – a moça do dia do Programa de Voluntariado – fazia parte do grupo. Ela me salvou enquanto eu entrava em desespero porque minha fornada de pão de alho virara carvão.

Apesar de o clima na cozinha ser borbulhante e tenso, a experiência foi sensacional. Me senti uma verdadeira cozinheira e cada minuto que passei ali, preparando pratos maravilhosos, foi delicioso. Consegui liberar toda a tensão acumulada desde a morte de Audrey e o processo mostrou-se incrivelmente leve. Interagi com vários colegas, entusiastas da arte culinária, além de receber inúmeras dicas dos cozinheiros da escola, detentores de uma experiência invejável.

No dia do baile, deixo a cozinha quando o sol está se pondo. Tiro a minha dólmã antes de ir embora, mas o cheiro de comida está impregnado em mim. Quando chego ao quarto, vou direto para o banho e ignoro o pandemônio em que o lugar está transformado. Gasto pelo menos quinze minutos debaixo do chuveiro e, ao retornar, levo um sermão de Sadie porque já estou atrasada. No fim das contas, encontro-me tão exausta que apenas encaro minha amiga enquanto ela parece falar outro idioma.

Me arrumo de forma mecânica. Meu vestido foi escolhido por Sadie e é ela quem faz minha maquiagem. Sinto-me profundamente grata por isso, já que não precisei gastar minhas últimas forças pensando no que vestir. E, além disso, a garota tem o dom da elegância.

Meu vestido é absolutamente maravilhoso. Preto, de alças, com um decote revelador, busto rendado e uma saia longa de veludo dispondo de fenda lateral. Estou usando um salto de tiras, brincos de esmeralda e uma bolsa preta clutch com alça de correntinha. Sadie resolveu prender meu cabelo em um coque baixo e fez uma maquiagem destacando delineado e cílios. Meus lábios, entretanto, permanecem neutros com um batom rosê.

A Escola RealOnde histórias criam vida. Descubra agora