23. Descobertas

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Antes de sair da escola, preciso ir até a secretaria pedir uma permissão de retirada e informar a localização do lugar onde ficarei, para só então ser escoltada por seguranças até um estacionamento subterrâneo, entrar em um carro e finalmente escapar da prisão monárquica. O motorista e o segurança disfarçado que me acompanhará conversam aos sussurros nos bancos da frente e eu, sentada atrás, fico calada, observando a paisagem.

Quando o carro adentra os portões do palácio de Goldencage e estaciona no pátio, vejo Cristal diante do batente das gigantescas portas de entrada. Ela usa uma blusa estampada de alcinhas, shorts jeans e chinelos. Se não fosse extraordinariamente bonita, a princesa poderia facilmente parecer uma simples plebeia à espera da chegada de sua visitante.

Um mordomo vem abrir a porta e eu saio do carro. Aliso discretamente o vestido preto regata que estou usando, combinado a um salto alto de tiras. Começo a me sentir ridícula imediatamente. Pensei que meu visual estivesse casual demais, no entanto, após ver a princesa, tive certeza de que exagerei na escolha do que usar.

Cristal não parece sequer notar, porque caminha até mim com um sorriso colossal e me cumprimenta com beijos na bochecha.

— Oi, Alice. — ela diz, com o rosto iluminado por um brilho que não sei identificar. Provavelmente fruto de sua visível simpatia. — É um prazer recebê-la. Vamos entrar!

Ela segura em meu pulso e começa a me puxar delicadamente para dentro do palácio. O lugar continua tão majestoso quanto da última vez em que estive aqui, mas não consigo analisá-lo como gostaria, já que a princesa está caminhando obstinadamente e não faz pausas. Depois de alguns minutos andando, desembocamos no quintal da residência, dotado de uma piscina enorme, rodeada de espreguiçadeiras, guardas-sóis, além de um jardim belíssimo circundando todo o terreno.

Atravessamos a área a fim de chegar até uma encantadora mesa sombreada por um ombrelone, com um jogo de porcelana para chá disposto no tampo. Cristal indica uma das cadeiras e eu prontamente me sento, apreciando o vento que circula por toda a extensão do jardim. Enquanto a princesa se acomoda à minha frente, inspiro fundo, sorvendo o aroma floral e maravilhoso que emana do lugar.

— Mandei preparar chá preto. — Cristal diz, debruçando-se sobre a mesa a fim de derramar o líquido do bule que segura na xícara à minha frente. — O chá preferido de qualquer cidadão reigo.

Eu sorrio.

— Não se engane, princesa. Existem muitos cidadãos em Reigland que preferem chá verde.

— Uma vez meu irmão me disse que o seu favorito é o chá preto, então optei por escolhê-lo.

Meu queixo estremece  e eu disfarço, mantendo o sorriso.

— É, ele está certo. O meu favorito é o chá preto.

— Ora, ora, temos visita.— Ouço a voz às minhas costas e viro meu rosto em direção ao som. Leonard está caminhando até nós, carregando o capacete de jóquei, com o traje e as botas completamente sujos de lama. — Por que não me avisou, mandona?

Cristal revira os olhos.

— Você estava no treino, Leo. Além disso, nossa conversa é particular, então vaza, pirralho.

— Pirralho, não. Eu tenho orgulhosos 16 anos. — Ele sorri. — Lembre-se que você só é um ano mais velha que eu, mandona. E eu sou mais alto, sabe? Um e oitenta e três, pra ser exato.

— Ninguém quer saber. Se manda, praga.

— Não sem antes cumprimentar a princesa. — Leonard retira uma de suas luvas e puxa a minha mão, a fim de beijar o dorso. — É um prazer revê-la, adorável Alice. Peço que perdoe minha aparência deplorável. Fui derrubado por um Clydesdale no treino. — Ele solta a minha mão delicadamente e pigarreia. — Se minha querida irmã tivesse avisado que a princesa viria nos visitar, eu teria me esforçado para parecer mais apresentável.

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