32. Alívio

53.6K 4.6K 1.9K
                                    

🄲🄰🄼🄴🅁🄾🄽

O dia está incrivelmente nublado hoje. Mesmo que estejamos em novembro, o inverno parece querer começar dar as caras. Essa estação é, sem dúvidas, uma das piores épocas do ano, mas geralmente acaba sendo compensada pelas festividades que acontecem em dezembro. De janeiro a março, entretanto, o inverno só consegue causar estresse.

Melinda, por outro lado, sentada no banco do passageiro ao meu lado, não expressa chateação diante do clima nublado. Seu sorriso alcança proporções astronômicas. Ela aparentemente superou nossas últimas discussões porque estamos indo oficializar o namoro para a minha família. Era uma das coisas que mais me cobrava e a razão de muitas das nossas brigas. Seu humor faz parecer que nunca tivemos desavenças.

A realidade é que as últimas semanas foram turbulentas ao ponto de me fazer querer evitá-la. Sua marcação em cima da Alice aumentou bastante. Desde o dia em que pegou meu celular e viu as fotos da garota, a implicância se tornou insuportável. O fato de eu apoiar Alice em momentos de fragilidade, como todo par deve fazer, a faz pensar que estou traindo-a. Tolice.

Alice jamais demonstrou qualquer interesse romântico em mim. O ódio e antipatia que ela sente por minha pessoa estão visíveis em cada uma de suas respirações. Não existe nenhuma probabilidade de termos qualquer envolvimento. A suposição parece ridícula. Melinda realmente não conhece a Alice nem um pouco. Se conhecesse, não pensaria uma tolice como essa.

A realidade é que por mais que eu tente abrandar a minha relação problemática com a princesa, ela está sempre na defensiva, desconfiando de minhas intenções e me classificando como o pior ser humano que existe. Seu desprezo é notório o suficiente até para um cego. E eu o compreendo, de certa forma. Quando a conheci, consegui ser extremamente babaca e vez ou outra as memórias voltam para me assombrar.

Minhas tentativas de reparar os erros que cometi não têm funcionado. A primeira impressão é a que fica e, portanto, Alice sempre vai acreditar que sou um idiota, merecedor de seu desprezo. E eu realmente acreditei nisso. Eu realmente acreditava que éramos incompatíveis, que ela me detestava, que estávamos galgando caminho para construir uma relação à beira de um acidente nuclear.

Mas então, de repente, no meio de uma multidão de pessoas, ela me beijou.

E aconteceu de forma tão inesperada e impulsiva que minha reação foi ficar paralisado, ao passo que meu cérebro descarregava um volume altíssimo de informações, que incluíam o fato de eu ser comprometido e de Alice estar completamente bêbada.

Naquela noite, não consegui dormir. Fiquei repassando o momento em minha própria mente, dividido entre a sensação de frio na barriga e de culpa. No dia seguinte, quando esbarrei com a princesa no refeitório e me deparei com seu olhar mortal, sua reação conseguiu cavar um buraco dentro de mim e plantar uma sementinha de confusão, que logo floresceu em forma de erva daninha e se multiplicou.

Meus pensamentos entraram em conflito e comecei a questionar a mim mesmo, criando um milhão de teorias que me apontavam como o motivo de sua chateação. Talvez ela tivesse entendido que correspondi o beijo e me aproveitei de sua embriaguez, mas juro por tudo o que há de mais sagrado que usei todo meu controle mental para não mover um músculo sequer. Fiquei parado, duro como uma pedra. Jamais a beijaria enquanto estivesse bêbada.

Alice, no entanto, me odeia. Ela nunca acreditaria em mim se dissesse isso.

Ainda tentei conversar sobre o que aconteceu, mas quando encontrei a garota na ala de treinamento, ela não parecia nem um pouco afetada. Muito pelo contrário: estava furiosa, disparando flechas em bolas de tênis. A propósito, sua performance como arqueira é extremamente sensual. Ela fica avassaladora armada com aquele arco. Precisei tirar algumas fotos antes de falar qualquer coisa.

A Escola RealOnde histórias criam vida. Descubra agora