10. Opostos

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No dia seguinte, as criadas me acordam cedo e me preparam para a viagem de volta a Eaglestate. Tomo café com minha mãe, enquanto nós duas nos esforçamos para não deixar que o clima assuma ar de velório, embora seja quase impossível. Cameron não aparece para o café da manhã, o que me deixa aliviada de certa forma, já que desde a noite anterior estou me culpando por ter sido insensível com ele. Esqueci completamente que nossos pais estavam juntos no avião e, ainda por cima, destratei o garoto quando ele só estava tentando me ajudar.

Aproveito ao máximo os últimos momentos que tenho com minha mãe antes da viagem enquanto mentalizo que na primeira oportunidade que aparecer, pedirei sinceras desculpas a Cameron por minha grosseria e insensibilidade. Pensar que terei de encarar seus odiosos olhos azuis me deixa ansiosa, mas procuro manter a calma, lembrando que é a coisa certa a se fazer.

Na hora que preciso me despedir de minha mãe, começo a chorar instantaneamente. Sei que a partir de agora ela terá que governar Reigland sozinha, dispondo apenas de conselheiros e secretários. Sua capacidade é inquestionável, mas o fato de ela ter feito isso por tantos anos ao lado de meu pai atesta que o processo será doloroso. Não quero deixá-la, mas minha mãe me lembra que tenho minhas próprias obrigações e devo acatá-las.

Nós duas estamos paradas no pátio de entrada, abraçadas, quando Cameron surge, usando terno e óculos escuros. Sinto meu rosto esquentar e, logo depois de separar o abraço com minha mãe e beijá-la na testa, entro no carro que estava nos esperando na calçada e fico olhando através da janela. Cameron demora um pouco, porque provavelmente está se despedindo de minha mãe, mas logo embarca no veículo e partimos para o aeroporto. Durante o trajeto, o silêncio toma conta do ambiente e eu fico esfregando minhas mãos impacientemente uma na outra, enquanto o príncipe está indiferente, encarando a janela.

Quando chegamos ao aeroporto e embarcamos no avião, sento-me a apenas algumas poltronas de distância de onde Cameron está, com a intenção de criar coragem para falar com ele. Horas mais tarde, desisto, pois o fato de ele ficar sério o tempo o todo, usando os óculos escuros, é desmotivação suficiente para fazer meus planos irem por água abaixo. Dessa forma, decido dormir, a fim de evitar o clima pesado que paira sobre nós.

Ao pousarmos em Eaglestate, o sol já não brilha mais. Há uma legião de repórteres no aeroporto, mas nenhum de nós parece disposto a conceder entrevistas, então nos limitamos a entrar no carro que já nos espera e ir embora dali o mais rápido possível. Durante a viagem, estranho o trajeto feito pelo motorista, mas estou intimidada demais para perguntar qualquer coisa a Cameron. Só é quinze minutos depois que descubro para onde estamos indo, já que a suntuosidade do palácio de Goldencage enche meus olhos enquanto o observo através da janela. Fico boquiaberta, pois o que conheço sobre o lugar limita-se a fotos e descrições feitas por minha mãe.

O palácio, no entanto, é muito maior do que minha imaginação poderia comportar. Há várias torres espalhadas pela construção, inúmeras janelas, sacadas, jardins animalescos, árvores gigantes e grama bem verde, além de arbustos podados em diversos formatos. Enquanto o motorista entra com o carro pelos enormes portões e percorre o caminho de cascalhos, observo os detalhes curiosos, como o chafariz dourado, com querubins jorrando água pela boca.

Fico encantada, embora o lugar seja extravagante demais, se comparado ao que estou acostumada.
Quando o motorista para no pátio de entrada, as enormes portas do palácio se abrem e dois jovens surgem no batente. A primeira é uma moça loiríssima, que usa um vestido preto, luvas de renda e sapatos de salto. O segundo é um garoto alto, com o mesmo cabelo loiro acobreado de Cameron, vestindo uma jaqueta jeans, camiseta preta, calça cáqui e tênis.

Devem ser os irmãos mais novos, Cristal e Leonard.

Cameron desce de imediato do carro e abraça os dois simultaneamente. Observo a cena estática dentro do veículo, porque a última coisa que quero é atrapalhar o momento em família. Eles ficam se abraçando por alguns minutos e depois conversam, com olhares tensos.

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