A palavra guerra leva algum tempo para fazer sentido na minha cabeça. Ela fica reverberando durante algum tempo entre as paredes do meu cérebro enquanto o córtex pré-frontal demora um período desnecessariamente longo para assimilar que, sim, é exatamente isso. Guerra.
Se fosse qualquer um dos meus amigos falando que precisa dar notícias que envolvem guerra, eu provavelmente apenas desconsideraria. Neste caso, no entanto, quem fala é uma chefe de estado. É inútil se agarrar a qualquer possibilidade que esteja fora do significado objetivo da palavra guerra.
— Értekes foi invadida há vinte minutos. — a rainha diz, sem rodeios. — As tropas responsáveis pela invasão são de Dobrokosh. Entraram com a infantaria, tanques, caças e bombardeiros. O Serviço de Inteligência Militar de Eaglestate também reconheceu navios e submarinos. Fui informada que as fronteiras, fechadas até então, não levaram cinco minutos para serem rompidas, porque ninguém esperava pelo ataque.
Mal percebo que comecei a tremer. Cameron suspira.
— Nikolai é um leviano egoísta. Ele sequer esperou pela assembleia do Conselho de Segurança da OMM. Meu Deus.
— Existem líderes apoiando Nikolai. — Leonard explica, segurando nos ombros da mãe. — Ele não está nem aí para a OMM. Quer vingar os Panemteléios a qualquer custo e, quem sabe, expandir o território de Dobrokosh. Primeiro ele invade, depois organiza a bagunça feita pelos terroristas, arranja culpados pra punir e ampara o povo sem líder, anexando o território de Értekes a Dobrokosh.
— O problema é que Nikolai não sabe nada sobre os terroristas que derrubaram os Panemteléios. — a rainha complementa. — Eles já provaram que têm poder bélico atacando a Escola Real, mas não sabemos em qual escala está. Se eles criarem operações de defesa poderosas o bastante para deter as tropas de Dobrokosh, estamos à beira de uma guerra em escalas catastróficas, porque Nikolai não vai parar. Só abrirá espaço para que mais líderes entrem na disputa por Értekes.
— Você está pensando em intervir, Majestade? — pergunto, usando o fiapo de voz que ainda me resta.
— Eaglestate não possui relações diplomáticas com Értekes e, embora os ataques que aconteceram na Escola Real tenham partido de lá, não houveram vítimas fatais. Cabe à Polícia Criminal Internacional encontrar os terroristas e resgatar a princesa Melinda. Não posso alterar o estado de relativa paz entre os países dessa maneira. Não quero uma guerra.
— Por esse motivo tantos líderes se revoltaram. — Cameron observa. — Esperavam que você começasse o que eles estão há tantos anos ansiando que aconteça.
Eu estremeço, piscando os olhos.
— Mas por quê?
— Competição econômica e territorial. Oposição às leis da OMM. — A rainha balança a cabeça. — Há uma infinidade de motivos. O mais óbvio de todos é que alguns líderes não se contentam em ser apenas líderes. Assumir a posição de servo do povo é ultrajante para alguns. Sonham com o poder de uma monarquia irrestrita. Uma guerra seria necessária para mudar tudo isso, já que a OMM é absoluta.
Sinto a ânsia de vômito castigar meu esôfago. A rainha Laurie prossegue:
— Muitos líderes se opõem ao poder da OMM de destituir reis e rainhas de seus tronos. Quando acontece, uma rachadura na relação diplomática é sempre aberta. Alguns líderes acreditam que a OMM é um regime autoritário disfarçado, com poder suficiente para virar o mundo de cabeça para baixo.
Leonard suspira.
— O que mais me preocupa é essa organização terrorista. Não sabemos nada concreto sobre eles. E se... for uma isca? E se os terroristas tiverem fechado as fronteiras e isolado Értekes porque queriam motivos para começar uma guerra?
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A Escola Real
RomanceComo princesa e futura rainha do trono de Reigland - um dos reinos mais prósperos e influentes do mundo -, Alice aparenta ter a vida dos sonhos, que é constantemente cobiçada por plebeus e membros da alta sociedade. O grande porém é que a garota det...