36. Torta de framboesa

50.2K 4.5K 872
                                    

Minha mãe passou apenas quatro dias em Eaglestate e sua presença tornou-se ausência logo nas primeiras horas, já que ela dedicou todo o tempo em que esteve aqui circulando de um lado a outro, resolvendo os problemas burocráticos causados pelo atentado, ao lado da rainha Laurie.

A mídia, como já era de se esperar, estava sedenta por furos de reportagens e o silêncio da polícia foi combustível suficiente para ajudar a fomentar um milhão de teorias malucas sobre o acontecido. Com as notícias tomando a internet, logo houve um caos geral dentro da escola, causado pelo pânico dos alunos ao considerar a possibilidade de sofrermos um novo ataque; dessa vez com consequências maiores.

Octavia reuniu todos os alunos no auditório e discursou durante uma hora e meia sobre as medidas de segurança que estavam sendo tomadas, além de ressaltar o trabalho diligente da polícia, esclarecendo que a probabilidade de um novo atentado era baixa. De qualquer forma, no dia seguinte fomos submetidos a um treinamento, seguindo um protocolo de segurança para bombardeios, que incluía identificar o ataque, localizar áreas protegidas nas dependências da escola e obedecer o plano de emergência da polícia.

As simulações foram, sem dúvidas, as piores partes do treinamento para mim. O som das explosões reproduzidas, as sirenes enlouquecidas notificando um novo ataque e a correria eram o suficiente para me manter estática. Devido à minha visível dificuldade, foi necessário que um policial me acompanhasse durante o treinamento. Ele gritava instruções para mim e segurava na minha mão. Precisei passar por mais três outras simulações para conseguir fazer tudo sozinha.

Dias depois, quando reencontrei minha mãe, faltando poucas horas para sua viagem de retorno a Reigland, contei todo o acontecido e a reação dela foi simplesmente me parabenizar por ter conseguido. Estávamos tomando um chá da tarde no palácio de Goldencage, acompanhadas da rainha Laurie e Cristal. Eu sorri diante de sua congratulação, mas na realidade estava me segurando para não deixar toda a minha frustração simplesmente escapar.

Mamãe, como já era de se esperar, não daria continuidade às minhas teorias ou alimentaria meus medos. Como rainha e mãe, ela estava ali para me assegurar de que o protocolo, apesar de assustador, era indispensável. Eu estava fazendo a coisa certa e não havia problema em cometer alguns erros.

Aqui vai um fato pouco conhecido sobre ter uma rainha como mãe: elas, até mesmo diante das circunstâncias mais desesperadoras, estão prontas para recitar um discurso encorajador e impedir pânico desnecessário. E foi o que minha mãe continuou fazendo dias depois, durante nossas ligações.

A única coisa que está salvando meus dias horríveis, sufocados pelo atentado, é a recuperação de Cameron. Já faz uma semana desde o acidente e hoje é o dia de retirar os pontos. Estou monitorando obsessivamente a reabilitação do príncipe, mas finjo não fazer isso. Durante as visitas, espero Cameron me contar todo o andamento de sua recuperação, ouvindo o relato atentamente, muito embora as enfermeiras já tenham me atualizado sobre o estado dele e informado até suas respirações.

Hoje pela manhã, Cameron me ligou e, depois de passar uma eternidade fazendo rodeios, me convidou para acompanhá-lo na retirada dos pontos. Precisei forçar normalidade diante do convite, mas por dentro havia um furacão chacoalhando meu estômago. O sorriso, traidor como sempre, apareceu sem pedir permissão.

Agora, enquanto caminhamos para a enfermaria, controlo a respiração para impedir que o nervosismo me traia. Desde que recebeu alta, Cameron está sofrendo para se adaptar à rotina usando apenas o braço esquerdo e às vezes comete alguns erros. O erro de hoje foi ter abotoado a camisa e pulado uma das casas da fileira. A camisa está abotoada de forma engraçada. Por essa causa, o riso encontra-se entalado na minha garganta, mas não posso estragar tudo caçoando das dificuldades do príncipe, por mais hilárias que sejam.

A Escola RealOnde histórias criam vida. Descubra agora