24. Conflitos sentimentais

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Meu cérebro precisa de alguns segundos para decodificar a informação passada por meus olhos, pois é Cameron quem está parado diante da porta e, levando em consideração o último mês, vê-lo aqui parece um delírio. É literalmente ele, em carne e osso e uma expressão cadavérica.

O príncipe está usando uma camiseta azul, casaco e calça jeans preta. O cabelo, como de costume, está impecável; sua barba loira, no entanto, desponta no rosto. Desde a última discussão que tivemos, passamos a manter contato apenas em situações extremamente necessárias (como nas dinâmicas de aulas). Assim, o garoto voltou sua atenção para a namoradinha perfeita e nossa relação, naturalmente espinhosa, assumiu o status de inexistente.

O convívio, já tão desgastado, tornou-se insuportável no último mês. Em um curto espaço de tempo, nos reintegramos à categoria de desconhecidos, ligados apenas pelas obrigações impostas por nossos títulos. E, na realidade, depois de alguns dias refletindo, me dei conta de que realmente nunca fomos nada além disso.

Eu é que não tinha percebido ainda.

Encarar Cameron agora me causa uma sensação incômoda. Enxergo apenas o garoto desagradável que foi antipático no dia do meu aniversário e que conquistou minha inimizade instantaneamente. Custo a acreditar que já chorei na frente dele ou que compartilhamos do mesmo luto.

O príncipe está estático, me encarando, sem dizer absolutamente nada. Permaneço parada, segurando a maçaneta, disposta a manter meu silêncio intacto.

Noto involuntariamente as olheiras, tão profundas que escurecem o tom claro de seus olhos azuis. Sua expressão está abatida, como se exprimisse um cansaço interno deliberadamente reprimido. O príncipe está um caco, mas não sei ao certo o que sinto enquanto olho para ele, já que meus sentimentos estão divididos entre pena e desprezo.

Pena porque Cameron resolveu namorar justamente a garota mais ardilosa que encontrou e desprezo por ele ser burro o suficiente para não perceber isso.

— Oi. — Cameron diz, quebrando o silêncio. Sua voz está rouca. — Você tá ocupada agora?

Eu cruzo os braços.

— Sim. Tô resolvendo lição de casa.

— Ah...

Ele fica em silêncio novamente, coça a nuca e desvia o olhar. Eu reviro os olhos.

— O que você quer?

— Eu queria conversar, mas você tá ocupada agora, então eu volto outra hora. Tchau.

Ele se vira e começa a cruzar o corredor com as mãos nos bolsos. Eu suspiro.

— O que é? Fala logo.

O príncipe interrompe a caminhada e olha para mim.

— Já que você insiste... — Ele esboça um sorriso lânguido. — Mas a gente pode conversar em outro lugar? Prefiro conversar em lugares abertos.

— Não. Eu tô de pijama. Desembucha.

— São 18h. Já vai escurecer. Pelo menos você tá a caráter.

Eu praguejo baixinho, retorno ao quarto a fim de calçar pantufas e saio para fora. Começo a caminhar em direção ao elevador e Cameron me segue.

— Você não cansa de invadir o dormitório feminino? — pergunto, apertando o botão do painel. Me encosto na parede metálica da cabina e olho para cima.

— Não é invasão. Estou exercendo meu direito de ir e vir.

Eu reviro os olhos e depois ouço Cameron rir baixinho.

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