14. Trégua

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Depois do almoço, as meninas e eu seguimos para o dormitório feminino. Desfazemos as malas e dividimos os espaços no closet. A atividade acaba levando horas, pois as garotas se distraem facilmente e acabam esquecendo o que precisam fazer. Logo em seguida separamos as camas e trocamos os enxovais. Quando nosso quarto já está perfeitamente organizado, Martina se retira, avisando que se encarregará dos preparativos para a festa. Sadie a segue. Nala também sai. Está usando roupas de ginástica e fones de ouvido. Provavelmente fará uma corrida pelos jardins.

Minah começa a organizar seus livros nas prateleiras do quarto, formando um degradê de cores. Irina e eu nos concentramos na tarefa de decorar a parte do beliche dela e fazemos piadas por sermos vizinhas, já que o meu é logo abaixo.

Ao terminamos, nos sentamos na sala de estar e vemos televisão. Na verdade, eu vejo televisão. Minah e Irina estão muito ocupadas mexendo em seus celulares.

— Como vocês conseguem assistir televisão e mexer no celular? — pergunto, quebrando o silêncio que perdura há horas.

— Na verdade, nós não estamos nem aí pra televisão. — Minah responde. — Ninguém assiste televisão hoje em dia, sabe? Ela só tá servindo como som ambiente.

— Você devia usar o seu celular, Alice. — Irina aconselha, tirando os olhos de seu aparelho, que tem uma capa branca coberta de glitter. — Não vai encontrar nada de interessante passando na televisão.

— Eu... Eu não tenho celular. — digo, franzindo as sobrancelhas.

O quê?! — Minah grita, arregalando os olhos na minha direção. — Como isso é possível?!

— Nunca tive celular. E nem sinto vontade. — Dou de ombros. — No palácio de Riverwinter não há celulares ou televisão. Só telefone fixo.

— Santo Deus. — Irina está boquiaberta. — E como você sobrevive?

— Na cozinha do palácio os criados gostam de assistir televisão enquanto trabalham. Às vezes eu ia pra lá e ficava assistindo, mas nunca me tornei dependente ou algo do tipo.

— E por que vocês têm esse estilo de vida desconectado? — Minah questiona.

— Meus pais acham que o excesso de tecnologia destrói as pessoas, por isso nós sempre nos ocupamos com livros, jogos em família e atividades ao ar livre. — Eu sorrio. — Fui criada assim e não vejo nada de errado nisso.

— Amiga, a sua família é muito estranha. — Minah diz, chocada. — Sem ofensas, claro.

Irina e eu nos encaramos e começamos a gargalhar e logo nós três estamos rindo da situação. Depois disso conversamos sobre o fato de eu não possuir perfis anônimos nas redes sociais, uma coisa que aparentemente todo monarca tem. No fim das contas, explico para elas os males causados pela internet e pela tecnologia e as duas acabam decidindo não me contrariar. Provavelmente pensam que eu sou maluca, mas não me importo. Acho a situação toda muito engraçada.

No finzinho da tarde, Martina, Sadie e Nala retornam ao quarto.

Sadie ordena que comecemos a nos arrumar e logo o quarto se transforma em um salão de beleza. Fico enrolando no banheiro o máximo que consigo, mas depois saio e me visto. Escolho usar uma jardineira, blusa de listras brancas e pretas e um tênis simples. Deixo o cabelo solto e me contento em passar apenas um batom rosa creme, já que não tenho habilidade nenhuma com maquiagem e ainda assim me recuso a ir de cara pálida.

Quando saio, me dou conta do quão apagada estou, já que todas as outras encontram-se deslumbrantes. Até mesmo Minah, que aparentemente foi persuadida por Martina e não parece nem um pouco animada. Me recrimino mentalmente. É claro que elas estão lindas. São lindas de nascença. E eu... Eu sou eu.

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