28. A liberdade virá

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Na manhã seguinte, Martina é a responsável por nos fazer acordar, porque ela simplesmente liga uma caixa de som às 6h30 da manhã. A garota usa um chapéu de veludo estilo sombreiro, poncho e huaraches. Para ajudar a intensificar o barulho, ela chacoalha maracas coloridas em nossos ouvidos. Sadie é a primeira a levantar e logo as duas estão emboladas no chão, se estapeando.

Eu tento separar a briga, mas as duas só se acalmam quando Irina me ajuda. Martina está sorridente e, mesmo com as ameaças mortais de Sadie, ela continua balançando continuamente as maracas. Nala me explica que hoje é feriado em Tiermosa (Dia das Maracas), então ela provavelmente vai passar o dia inteiro usando chapéu, poncho e huaraches e balançando as maracas.

Hoy es un día de alegría. — Martina grita. — Sorriam, chicas!

— Eu amo o seu país, mas esse feriado é um pesadelo. — Minah diz, colocando os óculos grau. — Não acredito que vou ter que morar com você durante quatro anos e ser acordada desse jeito.

Chicas, eu juro que tô tentando ser feliz hoje, mas na verdade quero chorar. — Martina diz, sentando-se em sua cama. — Essa vai ser a primeira celebração que vou passar fora de casa.

— Oh, meu diabinho barulhento. — Irina se aproxima e abraça Martina. — Sinto muito. O que você acha de irmos na lanchonete hoje à noite? Eles servem patacones lá.

— Ótimo ideia, chica! — Martina sorri, balançando as maracas.

Como acordamos muito mais cedo que o habitual, nossa rotina matinal acaba acontecendo lentamente e, depois de prontas, aproveitamos para assistir uma sitcom. Sadie está usando um vestido preto longo, ombro a ombro, com uma gigantesca fenda lateral, além de salto agulha, luvas e óculos de sol com armação cat eyes. Ela nos contou que seu trabalho voluntário será em uma ONG de animais abandonados, mas que prefere comparecer ao local como a dama que é e não usando calça moletom, regata e tênis. Segundo Sadie, ir vestida assim seria pior do que a própria punição.

Quando descermos para o refeitório, o lugar ainda está relativamente vazio e não pegamos fila na cantina. Martina está usando o poncho por cima do uniforme e não parece nem um pouco incomodada com seu gigantesco chapéu. Assim que Hyuk se junta a nós, eles trocam cumprimentos animados e depois se entretêm em uma competição de quem ri primeiro. Cédric aparece logo em seguida, usando os costumeiros óculos escuros e carregando um videogame portátil.

Thomas e Lionel chegam juntos. Os dois nos cumprimentam, mas logo voltam a conversar entre si. Rashidi é o último a aparecer. Diferentemente do habitual, sua interação hoje se resume a um bom-dia e ele logo volta a atenção para o café da manhã. Apesar de estar com a mesma expressão amigável de sempre, Rashidi não parece nada interessado em manter uma conversa, então todos respeitamos tacitamente a vontade dele.

O refeitório vai sendo preenchido gradativamente e o rotineiro vozerio de conversas toma conta do ambiente. Quando Melinda e Cameron entram, de braços dados, os cochichos se intensificam. Ela está com um curativo no nariz e uma expressão abatida, como se realmente tivesse levado uma surra e não um soco. Ao passar pela nossa mesa, a garota encara Sadie mortalmente. Minha amiga, por outro lado, apenas sorri e passa a mão pelo cabelo loiro cascateando em seus ombros. É a personificação da afronta, levando em consideração o visual extremamente atípico para uma manhã de sexta-feira.

— Vocês não contaram o que rolou ontem. — Cédric observa depois que o casal de porcelana se afasta.

— Aquela louca veio me difamar. — Sadie explica, cortando uma salsicha. É engraçada vê-la fazendo isso de vestido de gala, óculos e luvas. — E depois me deu um tapa.

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