26. Fantoche

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A semana se arrasta como uma lesma. Na quarta-feira, consigo emprestar o celular de Minah, ligo para o palácio de Riverwinter e anoto os contatos de emergência de Nicoletta. Ela não atende em nenhum dos três e, estranhando o sumiço de minha dama de companhia, ligo para minha mãe. Minutos depois descubro que a mãe de Nico faleceu e ela resolveu se ausentar do palácio por alguns meses.

A informação me atinge ao ponto de eliminar minha voz. Lembro-me da dedicação de Nico à sua mãe e imagino o quanto ela deve estar arrasada diante da perda. O que mais quero no momento é demonstrar meu apoio, mas mamãe avisa que minha dama de companhia deixou claro que ficaria melhor sozinha e que entraria em contato quando conseguisse digerir a dor do luto. É óbvio que sim, penso. Nunca vi Nico manifestar fraqueza.

Decido ocupar a mente engolindo os livros na biblioteca. Phillip me faz companhia e respeita meu silêncio. Mesmo com nosso pouquíssimo tempo de amizade, o príncipe é capaz de identificar quando não estou bem para conversar e se mantém perto sem atingir os limites da minha privacidade. Só consigo me sentir grata por isso.

Ao longo da semana, meu contato com Cameron é quase nulo. Estou me esforçando miseravelmente para tentar entender o motivo de ter tantos sentimentos ruins a respeito dele desequilibrando meus pensamentos, então acho prudente manter distância. Na sexta-feira me convenço de que ele esqueceu completamente aquela história de sairmos juntos e decido não lembrá-lo.

Mesmo que seja uma aposta e ele tenha ganhado, se não cobrar a dívida, tecnicamente não preciso pagá-la. Além disso, ficar longe do príncipe o apaga de meus pensamentos e me sinto muitíssimo confortável com a perspectiva de eliminar os sentimentos ruins causados por ele que me consomem. É óbvio que ainda preciso aguentar a estranha explosão que me dilacera todas as vezes que entro no refeitório e vejo Melinda ao lado de Cameron, mas tenho praticado olhar para outros lugares na hora das refeições e assim evito a tortura psicológica.

Sábado, enquanto estou na biblioteca lendo um livro sobre o comportamento humano, chego à conclusão de que o incômodo que sinto, causado por Cameron e Melinda, é motivado pelo desprezo que tenho por ambos. Ainda estou fragilizada pela morte do meu pai e meu emocional encontra-se em frangalhos. A irritação gerada pela coexistência dos dois, aliada aos meus nervos instáveis, contribui para os acessos de raiva e choro, por esse motivo tantos sentimentos ruins têm tomado conta de mim.

Não evito suspirar aliviada quando finalmente encontro a resposta que tanto procurava e estou sorrindo ao sair da biblioteca. Me encaminho para o refeitório, pois já é hora do almoço e pretendo trazer Phillip para sentar com meu grupo. Temos que discutir o tema do debate da semana que vem.

Estou prestes a cruzar as portas quando sou interceptada por Cameron. Diferentemente dos outros dias, ele está desacompanhado. É possível detectar mau humor em seu rosto e, aparentemente, a causadora sou eu. De qualquer forma, franzo as sobrancelhas teatralmente enquanto olho para o príncipe.

— Você esqueceu o nosso compromisso? — ele pergunta impacientemente.

— Que compromisso? — questiono, mantendo a postura de desentendida.

Cameron suspira pesadamente e passa a mão pelo cabelo.

— Alice, eu marquei de sair com você.

— Marcou? — Pisco os olhos. — Pensei que você fosse passar o fim de semana com a Melinda.

— Ela foi fazer compras com umas amigas.

— Ah, que pena pra você. Imagino que deva estar sendo um sacrifício ficar longe dela.

Cameron revira os olhos.

— Vou passar no seu quarto pra buscar você depois do almoço. Esteja pronta.

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